quarta-feira, 13 de outubro de 2010

I LIKE TO MOVE IT, MOVE IT


Recentemente tomei conhecimento da intenção da Loures Parque de estudar a colocação de parquímetros em Sacavém. A informação, dada pela Junta de Freguesia de Sacavém não tinha mais nenhum elemento concreto ou nota justificativa. Assim será prematura uma opinião definitiva sobre esta pretensão anunciada, mas ela pode ser um mote para ponderar as questões da mobilidade nesta cidade.
A consolidação urbana de Sacavém, feita sobretudo nas décadas de 60 e 70 do século passado, definiu quase todos os problemas actuais com que a cidade se depara ao nível da mobilidade lato senso, ruas estreitas, escassez de estacionamento face ao enorme incremento do automóvel nas últimas décadas, zonas pedonais exíguas ou inexistentes e falta de áreas de descompressão. É uma cidade densa e pouco organizada.
Nos últimos anos, foram poucas a intervenções que estruturalmente contribuíram para a melhoria da situação preexistente. A remodelação dos espaços públicos e de algumas edificações no âmbito do Plano de Salvaguarda (anos 90, mas cuja conclusão morreu na praia) logrou a criação de algumas zonas pedonais no núcleo mais antigo e a redução do trânsito nessa zona. Das intervenções previstas no PROQUAL, apenas a requalificação da AV. Estado da Índia avançou e, apesar de algumas deficiências de projecto e execução, resultou na criação de uma moderna via urbana estruturante com verificáveis melhorias na fluidez do trânsito e na criação de amplas zonas de circulação pedonal. Contudo os problemas mais profundos continuaram sem resposta. No que respeita ao estacionamento, foi construído um parque subterrâneo com capacidade para 250 lugares, cujos custos operacionais estão longe de estar cobertos pela procura média. Errou-se quando se decidiu investir num equipamento pesado, numa zona residencial, onde o estacionamento de residencial, de média e longa duração, logo incompatível com uma solução de tarifa horária.
A abordagem ao problema da mobilidade em Sacavém deve desenvolver-se em dois planos complementares.

a) Circulação de veículos e peões no interior da cidade e o eterno problema do estacionamento.
b) Os movimentos pendulares.


A esta altura não devem faltar diagnósticos feitos sobre a situação existente, desconhecendo eu contudo um plano de mobilidade integrado, com acções e rumos definidos que de modo consistente vão dando resposta aos problemas identificados. Por outro lado, observo com grande preocupação os enormes aumentos de construção numa cidade já bastante densificada.

(a) O maior desafio que se coloca prende-se com o ordenamento do estacionamento. Mas não me parece que tarifar o parqueamento numa cidade maioritariamente residencial consiga o efeito da multiplicação dos lugares de estacionamento, nem é viável que a criação desses lugares se faça a custa de zonas de circulação pedonal. A única solução passa pela construção de bolsas de estacionamento e de silos à superfície, cujos custos de construção e manutenção são extraordinariamente mais reduzidos, que os parques subterrâneos. Contudo, esta solução não deixa de representar um esforço de investimento considerável, mas aí o que se torna fundamental é fazer a rápida definição do tipo de estruturas necessárias e as suas localizações, de modo a abrir caminho a soluções de concretização. Essas soluções podem ser de vários tipos, investimento público local e/ou comparticipado ou incluídas em negociação de contrapartidas de futuros promotores.
Sem a criação de novos lugares de estacionamento viáveis e socialmente sustentáveis para o estacionamento no centro da cidade não existe qualquer possibilidade de reordenamento de trânsito e estacionamento. E só ela pode abrir caminho a outras intervenções fundamentais; a pedonalização de algumas artérias e o aumento da segurança para a circulação pedonal.

(b) A cidade de Sacavém, como a quase totalidade dos espaços (sub)urbanos em torno de Lisboa estão funcionalmente desintegrados. A maioria dos residentes trabalha ou estuda fora de Sacavém e procura também fora do seu local de residência as ofertas culturais, lúdicas e de lazer. Serão milhares de deslocações diárias, sobretudo de e para Lisboa.

Neste sentido, o anúncio, feito a meio do ano passado, do prolongamento da rede do metropolitano até Sacavém foi uma óptima notícia. Ele significava a concretização de uma alternativa eficaz ao transporte individual. Infelizmente este anuncia fora mera propaganda eleitoral com objectivos espúrios e mesquinhos, acabando por ser um exemplo do modo pouco sério como as questões da mobilidade são tratadas. Independentemente dos prazos e das vontades políticas não existirá uma melhoria da mobilidade em Sacavém que não passe pela integração da cidade na rede de transportes urbanos de Lisboa, pela expansão da rede do metropolitano às freguesias de Moscavide, Portela e Sacavém e também pelo prolongamento da rede da Carris.

Os ganhos ambientais, económicos e sociais para os habitantes de Sacavém aconselham que se siga este caminho.

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