sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

SÓ ESTÁ DESILUDIDO QUEM SE QUIS ILUDIR


Só o estado de absoluta necessidade (não ser pazokizado por apoiar implícita ou explicitamente um governo pafista do PSD/CDS) levou o PS, pela primeira vez na sua já longa história de partido central do arco do governanço, a assinar os Acordos à esquerda imprescindíveis e incontornáveis para poder ser governo.

Se é certo que para os trabalhadores e o povo miúdo os Acordos foram importantes para travar o desvario neoliberal austeritário de Passos & Cia, para reverter algumas (poucas) das acintosas medidas anti trabalhadores e reformados do governo PSD/CDS, para atenuar um certo sentimento de pessimismo e impotência que então se vivia e trazer-nos uma breve esperança, um ano passado pouco mais há para mostrar.

Com a desculpa (entendível) das imposições de Bruxelas o governo PS prosseguiu a politica de contenção do défice com as conhecidas e desastrosas consequências: unidades de Saúde à beira da ruptura, escolas com falta de pessoal e problemas de instalações, transportes públicos em estado calamitoso, investimento publico mais baixo desde 1951 no tempo do fascismo de Salazar.

Mas, como não era difícil de prever, mesmo em áreas onde o governo podia e devia ter alterado o rumo criminoso do governo PSD/CDS, manteve-se quase tudo na mesma. O governo PS continuou a despejar milhares de milhões nos buracos da Banca, manteve intocáveis as PPPs e outras formas de parasitação do Estado pelos interesses privados (com a honrosa excepção dos contratos com os colégios particulares), não mexeu com um dedo na fascistóide legislação laboral, recusa discutir a renegociação da Divida, e fecha o ano com uma inusitada provocação a pretexto da actualização do Salário Mínimo.

Na Feira de Gado da Concertação Social (Santos Silva dixit), na actualização do Salário Mínimo, o PS foi ainda mais longe do que o governo PSD/CDS ao quase duplicar (de 0.75% para 1,25%) o roubo na TSU, parte integrante da remuneração dos trabalhadores, entregue como prémio ao gado patronal, com a anuência do boi manso chamado UGT.

Com esta provocação o PS não só mostra mais uma vez o que sempre foi, um fiel e dedicado serventuário do patronato e do Capital, como, animado pelos recentes resultados das sondagens, ensaia um claro ultimato à esquerda: ou aceita tudo o que o PS quiser, ou então que rompa os Acordos e abra o caminho a uma maioria (que sonham absoluta) do PS.

Um ano passado sobre a tomada de posse do governo PS a correlação de forças é agora substancialmente mais favorável aos trabalhadores e à esquerda a quem, independentemente das posições de força do PS, compete definir os seus objectivos para esta nova fase da vida politica do país, como aliás o fez com a maior justeza em Outubro de 2015.

Ensina a arte da guerra que não se deixa ao inimigo a escolha do campo da batalha, aos trabalhadores e à esquerda compete definir os terrenos onde nos vamos bater, o que, dada a correlação de forças parlamentar, não será apenas nem sobretudo na AR, mas será seguramente nos locais de trabalho por aumentos salariais e contra a repressão patronal, nos movimentos sociais contra a destruição dos serviços públicos, nas ruas por uma efectiva mudança de politica que não faça de 2017 mais um ano perdido da vida, ou sobrevivência, dos trabalhadores e do povo.

É isto, basicamente, e entretanto tenham todos a fineza de fazer por um Feliz Ano Novo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

EM LOURES O PODER LOCAL DEMOCRÁTICO TEM 42 ANOS


A efeméride que agora se assinala é os 40 ANOS DE PODER LOCAL ELEITO - (1976/2016), facto da maior relevância politica da vida do nosso país. Recorde-se que antes os executivos camarários eram nomeados pelo governo, além de que durante os 48 anos de fascismo não existirem eleições livres.

Não se percebe por isso que, em Loures, em vez do nome das comemorações incluir e realçar as ELEIÇÕES de 1976, se omita esse importante acontecimento atrás duma designação não só enganadora como desprestigiante para os democratas que assumiram os destinos da Câmara de Loures logo após o 25 de Abril.

Democratas que quer pelo seu passado anti fascista quer pela sua pratica à frente dos destinos de Loures são tão ou mais democratas do que os autarcas que lhes sucederam nos últimos 40 anos.

Autarcas que logo após o 25 de Abril em muitos municípios, e nomeadamente na Câmara de Loures, naquilo que é a essência da Democracia, nortearam a sua acção pelo serviço às populações, à resolução dos seus muitos problemas concretos, em permanente diálogo com os munícipes e muitas das vezes com a sua directa participação.

Enfim, um episódio infeliz e desnecessário, este da designação dada às comemorações dos 40 anos das ELEIÇÕES de 1976, por parte dum Executivo que até penso ser o mais coerente continuador do que de melhor José Gouveia e os seus companheiros do período que vai de Maio de 1974 a Dezembro de 1976, de forma democrática, inovadora, e criativa realizaram na Câmara de Loures.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

ESPERO QUE, TAL COMO LENINE, JERÓNIMO TAMBÉM NÃO ACERTE.


Embora tenha sido com alguma tristeza que ouvi Jerónimo dizer, no discurso de encerramento do XX Congresso, que o objectivo que nos anima "possivelmente só será materializado para além das nossas vidas", enfim, é a lei da vida e já muitos dos que nos antecederam e acompanharam na luta contra o fascismo também infelizmente não viveram para ver o 25 de Abril, embora estivessem certos de que esse dia iria chegar.

Mas foi tristeza momentânea pois logo me vieram à memória as célebres palavras de Lenine, muito parecidas com estas de Jerónimo, dirigindo-se a um grupo de estudantes na Suiça, em Janeiro de 1917, pouco antes do seu regresso à Russia em Abril:

"Nós da geração mais velha talvez não vivamos para ver as batalhas decisivas da revolução que aí vem. Mas creio que posso expressar a esperança confiante de que a juventude que trabalha tão esplendidamente no movimento socialista da Suíça e do mundo inteiro terá a sorte não só de lutar, mas também de vencer, a próxima revolução proletária que aí vem".

Que esteja próxima ou mais afastada, que seja ainda connosco ou com os que nos seguirão, o importante é que se faça por isso e que esta comum certeza na materialização da revolução proletária integre e seja a bússola de todos os combates presentes e futuros.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A ESCOLHA IMPOSSÍVEL


Daqui a umas horas já saberemos se os eleitores americanos escolheram o vigarista, racista, misógino e meio fascista, Donald Trump ou a corrupta, serial killer e "mulher de mão" de Wall Street, Hillary Clinton.

Candidatos em que também muitos americanos não se revêm, como ficou patente na mobilização à volta de Bernie Sanders, candidato independente que concorreu nas primárias do partido Democrático com o compromisso de apoiar o democrata que vencesse as primárias.

Acontece que Sanders, quando o aparelho do partido Democrático começou a sabotar a sua campanha e a favorecer ilegitimamente Hillary Clinton, em vez de denunciar o acordo e continuar como candidato independente, traiu a esperança e confiança dos seus apoiantes e amochou.

Ao estilo da nova vaga de improváveis "heróis da esquerda", como Tsipras, Iglésias e Corbyn, Sanders limitou-se primeiro a comer e calar, e depois a arrastar pelos palcos da campanha de Clinton a sua patética mensagem de apoio a Killary, a tudo o que antes dizia combater.

Mas, como sabemos, as diferenças entre os personagens que ocupam a Casa Branca ficam-se mais pela retórica e o "window dressing" do que por alguma coisa de substancial. Naquilo que conta, as políticas internas no que respeita aos trabalhadores, ou as politicas externas para os povos súbditos do Império, a coisa mais parecida com um qualquer presidente dos USA é outro presidente dos USA.

Dizia-se no tempo do fascismo que "isto não vai lá com eleições", verdade que a vida não se cansa de comprovar. Também nos USA as grandes mudanças (por exemplo contra a descriminação racial ou o fim da guerra do Vietnam) nunca foram resultado de eleições, mas sim de grandes mobilizações e luta populares.

Logo à noite, com a vitória de Hillary Clinton ou Donald Trump, quer nos USA, quer no mundo, a História não vai parar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

MAIS UMA DERROTA PARA AS TESES DA ESQUERDA EUROPEÍSTA


Por muito que a esquerda europeísta tente desacreditar as lutas travadas pelos trabalhadores e o povo no quadro nacional, é precisamente a este nível, dos países, que a UE começa a perder importantes batalhas que levarão à sua inevitável desagregação.

Há um ano, 2015, foi na Grécia onde apesar da pesada (auto) derrota do Syriza e do povo grego, a UE perdeu, aos olhos da Europa e do Mundo, a pouca legitimidade que ainda lhe restava depois de anos de austeridade e estagnação, de crescente desemprego e pobreza.

Neste ano de 2016, e em poucos meses, a UE perde o Reino Unido, algo de impensável há uns anos atrás, e rombo de que não se irá nunca recompor, e agora é a vez da Valónia, região da pequena Bélgica, travar o aberrante e desastroso tratado de comércio da UE com o Canadá.

Os nossos prezados amigos europeístas de esquerda (dos varoufakis aos rui tavares) que façam agora a fineza de nos dizer quais foram os empolgantes resultados que a sua super estratégia, a nível europeu, de luta pela reforma da UE já rendeu até à presente data.

Sobre o CETA, ver aqui: Tout comprendre au CETA, le « petit-cousin » du traité transatlantique

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

COSTA E A TEORIA DOS BANQUEIROS MARAVILHA


Durante anos, andaram-nos a impingir a teoria dos financeiros e banqueiros maravilha que, com a sua sapiência, grande talento, e um especial toque de Midas, transformavam TOSTÕES em MILHÕES, e a quem se tinha de pagar principescamente para poder desfrutar dos seus superiores talentos e serviços.

Depois os bancos começarem a estoirar uns atrás dos outros, fomos todos obrigados a entrar com MILHARES DE MILHÕES para tapar os buracos criados por vigaristas e jogadores de roleta, e ficou bem claro que o que é preciso à frente da Banca é meia dúzia de burocratas certinhos nas contas, que não embarquem em aventuras ruinosas, nem metam uns milhões nos bolsos próprios e/ou dos amigos.

É neste contexto que agora nos aparece o 1º ministro Costa a desenterrar a teoria dos banqueiros maravilha para "justificar" uma remuneração de quase MEIO MILHÃO de euros ao presidente da da CGD.

Além de que a função da CGD, como banco público, não é ( ou não devia ser), igual às dos bancos privados, o de competir no mercado pelo lucro máximo, mas sim o de apoiar as empresas e famílias nas suas necessidades de crédito, aforro, e agilização de pagamentos.

Mais uma razão para em vez dum "banqueiro maravilha", dum mercenário pago a peso de ouro, o que a CGD precisa é dum profissional competente e que, tal como muitos outros que felizmente servem os Estado nas escolas, nos hospitais, nos ministérios e autarquias , tenha igualmente um elevado sentido de SERVIÇO PUBLICO.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

PARA OS NEO LIBERAIS O MERCADO RESOLVE SEMPRE TUDO

Claro que com o novo imposto o objectivo do governo é sacar mais umas massas aos consumidores, mas é de assinalar que mesmo este governo PS, supostamente à esquerda, alinhe pela cartilha neo liberal e considere que o problema (sério) de Saúde que é a excessiva quantidade de açúcar e gordura na comida processada, se resolve recorrendo à bendita lei da oferta e da procura (pagas mais, consomes menos).

Acresce que este imposto, além de regressivo (afecta mais quem tem menos rendimentos), vai incidir precisamente sobre aquelas camadas da população sem acesso aos produtos de maior valor nutricional como carne, peixe e vegetais, e que basicamente matam a fome com comida com elevada percentagem de açucares e gorduras de pouca qualidade.

Se o governo quer realmente contribuir para a melhoria da alimentação dos portugueses, pode (para além do uso de politicas de melhoria de rendimentos) investir na educação nutricional, exigir mais e melhor informação nos produtos alimentares, e fixar limites máximos da percentagem de produtos como açucares e gordura na comida processada.

Mas mesmo considerando este governo (que é quem tem os votos na AR e toma as decisões que entende) que a questão da melhoria da Saúde dos cidadãos se resolve via impostos e mercado, então em simultâneo com a introdução do imposto sobre produtos nocivos como os açúcares e as gorduras, que corte o IVA de produtos mais saudáveis como os vegetais e a fruta.

sábado, 6 de agosto de 2016

O IMI É UM IMPOSTO LEGITIMO, MAS ESTE IMI NÃO É "JUSTIÇA FISCAL"


Bem pode o PS, para tentar esconder o tiro no pé da sua canhestra tentativa de utilizar a lei do PSD e CDS (de 2003) para sacar mais uns cobres ao pessoal contribuinte, com a desculpa de que "aproximar a tributação ao valor de mercado da casa" é "Justiça Fiscal", que este IMI, e a presente alteração, de fiscal ou social só têm mesmo INJUSTIÇA.

O IMI é um legitimo imposto sobre a propriedade, mas que da maneira como está colide frontalmente com o Direito à Habitação, aliás um dos direitos consagrados na própria Constituição da Republica.

Para respeitar o Direito à Habitação o IMI tem de conter um regime diferenciado para a primeira habitação, que deixe de fora da cobrança da taxa a totalidade ou parte do valor da primeira habitação.

Assim todas as primeiras habitações, por exemplo até ao valor de 100 mil euros, deviam estar isentas de IMI, e acima disso deduzir-se 100 mil euros no calculo do valor do IMI (também só para as primeiras habitações).

Além disso o calculo do IMI devia assentar apenas em critérios objectivos, dimensão e tipo de habitação, e mandar para o caixote do lixo a lógica neo liberal de a tudo atribuir um valor monetário e taxar, incluindo valores sociais, afectivos, e naturais, como é o caso da famigerada "taxa sobre o Sol" da autoria do PSD e CDS.

Que os acordos à esquerda não incluem a reversão da legislação do IMI todos sabemos, e que cadelas apressadas parem filhos cegos também, mas uma coisa é manter melhorando o que está (como foi o caso da redução da taxa máxima do IMI de 0,5% para 0,45%, iniciativa do PCP apoiada por toda a esquerda e com os votos contra do PSD) outra é vir agitar a demagogia da "Justiça Fiscal" para sobrecarregar ainda mais os já exaustos contribuintes (sobretudo trabalhadores e povo miúdo).

Ainda não é tarde para corrigir a pontaria, e faço votos para que ao menos o bom senso acabe por imperar.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

CALMA, QUE AINDA NÃO É ESTE BREXIT QUE VAI MUDAR NADA QUE INTERESSE


Em primeiro lugar é difícil sair dum lugar onde não se está e, como sabemos, o UK não só não faz parte do projeto central da UE, o EURO, como além disso sempre teve um estatuto de exceção (ainda há pouco reforçado com mais algumas "concessões" da UE) e sempre deixou bem claro que o UK nunca seria parte do aprofundamento da união prosseguido por Berlim e Bruxelas.

Depois muita água há de correr sob as pontes do Tamisa antes que se saiba se o resultado do Referendo (que agora nos dizem ser apenas indicativo, cabendo a decisão de facto ao Parlamento) é ou não para concretizar e, em caso afirmativo, que tipo de Saída irá ter lugar.

Não me parece que o nem o Capital Europeu nem o seu congénere americano tenham ficado muito preocupados com o resultado do Brexit, e serão eles que em ultima estância não só irão decidir se vai ou não haver Leave como, no caso de a saída se concretizar, qual o tipo de ligação que o UK manterá no futuro com a EU: com mais ou menos circulação de pessoas (provavelmente com restrições apenas a não "europeus"), mas garantindo seguramente as sacrossantas liberdades de circulação de mercadorias, serviços e capitais.

Já para as nomenklaturas de Berlim e Bruxelas, e para os indefectíveis apoiantes "europeístas" de todos os quadrantes, o Leave está a provocar uma compreensível comoção que, tudo visto, não passará disso mesmo, uma pequena agitação e alvoroço, de quem tudo faz para ignorar as verdadeiras e profundas contradições que minam um projecto europeu pensado e implacavelmente executado pelo Capital Europeu sob a asa do american brother, e que só uma alternativa claramente anti capitalista poderá derrotar.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

BIBLIOTECA ARY DOS SANTOS EM SACAVÉM


Por fora nem digo nada (é ver a foto), por dentro é a agora habitual estética IKEA, superfícies planas, cores claras e alegres, materiais sintéticos e outras modernices incontornáveis, mas gostos são gostos e sendo que hoje aquele é o gosto dominante só tenho a dizer que tanto faz a cor do gato o que interessa é que o gato cace ratos, e no caso vertente a nova Biblioteca Ary dos Santos tem todas as condições para cumprir a importante função cultural a que se destina.

Em primeiro lugar a localização bem central na área oriental do concelho de Loures que irá servir, transportes públicos quase à porta, estacionamento fácil a dois passos. No interior espaços bons e bem distribuídos, pessoal bastante, abundância de meios informáticos, variedade da oferta de livros e outros suportes que, embora ainda em quantidades modestas, se espera continuem a aumentar com o tempo.

O horário de abertura, até às 18 horas, é um pouco limitado, e sugeriria que, lá para o Outono e a titulo experimental, a biblioteca passe a estar aberta um dia por semana até às 22 ou 23 horas de modo a facilitar a sua frequência e o levantamento ou entrega de livros, a quem trabalha.

Mas o que mais me agrada na Biblioteca Ary dos Santos é o nome, não apenas por se tratar dum amigo, mas sobretudo por ser o nome dum dos nossos grande Poetas, dum resistente anti fascista, dum companheiro de luta que, em tempos bem difíceis, a esta parte oriental do concelho, a operários, estudantes, democratas, anti fascistas, em várias e inesquecíveis ocasiões, trouxe a sua poesia de denuncia, protesto, revolta e esperança. Uma bela e merecida homenagem que teria deixado o Poeta e o Homem, sensibilizado, reconhecido e orgulhoso.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

NA "CICLOVIA DO TEIXEIRA", HOJE IA SENDO O DIA


Alguns amigos talvez se lembrem de já por aqui ter referido nunca ter visto UMA única bicicleta na famosa "ciclovia do Teixeira" (ex-presidente da Câmara de Loures e responsável por tão útil Melhoramento), um quilómetro de piso betuminoso implantado no meio dum passeio de calçada à portuguesa, ali na avenida da Índia em Sacavém.

Pois hoje quando vi um ciclista (daqueles equipados a preceito, calções e camisola de lycra e o recomendável capacete na cabeça), que vinha do lado do Parque das Nações pensei: Hoje é que vai ser o dia. O dia em que pela primeira vez, ao fim de quase oito anos, vou ver um veiculo de duas rodas naquela bendita ciclovia (veículos de quatro rodas vejo de vez em quando por lá estacionados em cima da ciclovia, se quiserem até vos posso mostrar fotos).

Só que para meu grande desapontamento o tal ciclista vestido a preceito fez aquilo que faria normalmente qualquer ciclista, continuou calmamente a subir a avenida da Índia no alcatrão da faixa de rodagem (por sinal com um bom piso e normalmente com pouco movimento), em vez de ir para a ciclovia no meio do passeio e arriscar-se a atropelar um miúdo ou uma velhinha mais distraídos.

Dito isto não perdi a esperança (assim Deus me dê vida e saúde) de um dia ainda ver um ciclista a pedalar na "ciclovia do Teixeira" (entretanto muito popular entre peões da 3ª idade sacavenense), ciclovia que vendo bem só ali está desde 2008, e nestas coisas temos de dar tempo ao tempo, aguardar calmamente (de preferência sentadinhos) que, como nos diz o discurso oficial, se criem os tais novos hábitos de mobilidade suave, saudável, e amiga do ambiente.

sábado, 28 de maio de 2016

ESTE AFÃ DE AGORA QUEREREM DAR O MÉRITO A COSTA
Faz-me lembrar um episódio passado num dos nossos hospitais.


Um tipo dá entrada no Hospital de Santa Maria mais para lá do que para cá e durante semanas médicos e enfermeiros numa dedicação extrema não largam a cabeceira do homem, fazendo tudo o que está ao seu alcance para o salvar.

Quando enfim o senhor começa a melhorar e ganha consciência o médico explica-lhe o que se passou com ele os tratamentos que lhe fizeram, os cuidados que lhe prestaram e comenta: Por pouco não se safava.

Aí o doente olha para o médico e responde: pois é senhor doutor FOI DEUS QUE ME SALVOU.

terça-feira, 10 de maio de 2016

3º CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA, TRABALHO DE MASSAS, FRENTE UNITÁRIA, E O PCP



De 22 Junho a 12 de Julho de 1921 realizou-se em Moscovo o 3º Congresso da Internacional Comunista (Comintern). As intervenções, resoluções, e outros materiais daquele Congresso, foram recentemente reunidos, numa cuidada edição, neste livro com o sugestivo titulo "TO THE MASSES".

Como durante os trabalhos do Congresso Lenin explicava a Clara Zetkin "A primeira onda da revolução mundial já passou e a segunda onda ainda não surgiu (há que estar) bem preparado para tirar partido, conscientemente, com toda a força, da próxima vaga revolucionária. Esse é o nosso trabalho (até ao) Chegou a hora. Agora vamos! É por isso que dizemos PARA AS MASSAS. Conquistar as massas, como condição prévia para conquistar o poder."

Naquela conjuntura o 3º Congresso da Internacional Comunista procede a uma viragem estratégica do movimento comunista internacional que se traduz na chamada Frente Unitária e na adopção como tema central das discussões do Congresso, orientação e palavra de ordem o "PARA AS MASSAS".

Trabalho de massas e trabalho unitário que são parte integrante do ADN do Partido Comunista Português, criado em Março de 1921, poucos meses antes daquele decisivo Congresso da Internacional Comunista.

No extenso volume de 1300 paginas as referencias a Portugal são muito escassas. Ao mencionar-se as organizações sindicais pertencentes à Red International of Labour Union Portugal é referido com cerca de 50 mil membros, e a lista de organizações convidadas para o Congresso inclui um "grupo comunista" de Portugal. Mais adiante no Glossário lê-se:

"Communist Party–Portugal [Communist group] – originated out of anarcho-syndicalist movement; decided to join Comintern October 1920; CP founded March 1921 with 1,000 members."

Portugal não consta da lista de países com delegados ao 3º Congresso, mas constata-se que a adesão dos comunistas portugueses à Internacional Comunista (Comintern) é anterior à constituição formal do PCP em 6 de Março de 1921, o que é consistente com outras fontes que mencionam a ajuda do Comintern na criação do PCP:

(O Site MARXISTS ORG dedica uma secção à Internacional Comunista (Comintern) onde pode aceder a muita e importante documentação da actividade do Comintern e nomeadamente dos seus 7 Congressos.)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O GOVERNO PS, A DESCRIMINAÇÃO SEXUAL NO COLÉGIO MILITAR, E O TERRORISMO LABORAL NO NOVO BANCO


Andou o ministro da Defesa muito bem quando face às graves declarações do subdirector do Colégio Militar à TSF, exigiu ao Chefe do Estado Maior de Exercito que investigasse o que se passava naquele estabelecimento de ensino do Estado e tomasse as medidas adequadas à situação.

Ao tornar publico que "O Ministério da Defesa Nacional considera absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei", o ministro Azeredo Lopes deixava bem claro que os direitos dos alunos daquela instituição, tal como os de qualquer cidadão, para o governo PS, estão acima dos preconceitos e/ou praticas de "caserna" incompatíveis com o Estado de Direito em que queremos viver.

Já no caso da mais duma centena de trabalhadores do Novo Banco a quem, por não terem aceite a "rescisão amigável" do vinculo laboral, está a ser impedido o acesso ao seu local de trabalho pela administração, um acto completamente ilegal, desumano, e de verdadeiro terrorismo laboral, não vimos o ministro Mário Centeno, que tutela o Novo Banco, tugir nem mugir.

Apesar do jogo de cintura de Costa, e do empenho dalguns socialistas em tentar inverter o rumo que levará o PS à inevitável pasokização, no essencial este PS continua a ser o que sempre foi, de esquerda e progressista em questões de sociedade como a homossexualidade ou o aborto, de direita e reaccionário quando se trata de direitos dos trabalhadores ou dos interesses da Banca.

domingo, 1 de maio de 2016

RAÍZES DO 1º MAIO


Como é bem conhecido, o 1º de Maio Dia Internacional dos Trabalhadores tem origem numa manifestação dos operários metalúrgicos de Chicago no dia 1 de Maio de 1886, em luta pelas 8 horas de trabalho, expressa no célebre slogan 8+8+8, 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso, 8 horas de lazer, aqui ilustrado no grafismo de Pedro Penilo.

Mas a par deste 1º de Maio vermelho, há um outro 1º de Maio verde, mais antigo, associado à celebração da Primavera, e que no século passado ainda se celebrava em muitas regiões de Portugal, com o nome de O Maio, O Dia de Maio, ou As Maias.

Nos campos do Alentejo estas duas tradições fundiram-se, fazendo que em muitas localidades, ainda antes do 25 de Abril de 1974, o 1º de Maio fosse já um feriado celebrado pelo operariado rural, com merendas, festejos e comícios nos campos.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

UMA PROPOSTA PARA A NOVA BIBLIOTECA ARY DOS SANTOS DE SACAVÉM


Num concelho de tradição operária e de população maioritariamente trabalhadora seria natural que a única biblioteca municipal existente no concelho de Loures, a Biblioteca José Saramago, dedicasse um pouco mais de atenção à riquíssima tradição escrita do Movimento Operário e do Socialismo.

Contudo é confrangedor aquilo que neste campo a biblioteca de Loures disponibiliza aos seus leitores: Meia dúzia de livros de Marx e Engels, que não inclui obras fundamentais como O Capital, muito pouco de Lenin ou Trotski, UM único titulo de autores como Luxemburg, Gramsci, Stalin, e Castoriadis, e ZERO livros de Proudhom, Bakunin, Bernstein, Blanqui, Kautsky, Kropotkin, Hillferding, Kollontai, Lapidus, MaoTse Tung, E P Thompson, e outros.

A proposta é que na, em breve a inaugurar, Biblioteca Ary dos Santos de Sacavém, se dê uma maior atenção aos clássicos do Movimento Operário e do Socialismo e se defina uma politica de aquisições que inclua igualmente obras mais recentes, com especial atenção para livros sobre a realidade portuguesa.

Parte do espólio de livros de Herberto Goulart, oferecido à Câmara de Loures em 2014 e que irá integrar o catálogo da Biblioteca Ary dos Santos, com importantes e valiosas obras naquelas áreas, poderá ser a base dum núcleo bibliográfico sobre o Movimento Operário e o Socialismo, a alargar e manter actualizado na nova biblioteca de Sacavém.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

LUTAR PELOS DIREITOS DOS TRABALHADORES E DERROTAR UMA DIRECÇÃO SINDICAL AMARELA.



Em Setembro de 1975, e no quadro da ofensiva reaccionária que culminaria no 25 de Novembro, no importante Sindicato do Comércio de Lisboa (à data um dos maiores sindicatos do país, e agora parte do CESP http://bit.ly/1SeFV58 ), uma lista PS/MRPP ganhava as eleições, para o triénio 1975/78, com 61 % dos votos, contra 39% da lista unitária.

Esta derrota seguia-se a outras de listas apoiantes da Intersindical, ocorridas durante os meses de Agosto e Setembro de 1975, como as dos sindicatos dos Escritórios de Lisboa, Bancários do Sul, Seguros, naquilo que foi o primeiro passo para a criação da UGT.

Ao contrario do que aconteceu nos outros grandes sindicatos de serviços, onde os amarelos da UGT se mantêm ainda hoje, no Comércio de Lisboa, 20 meses depois, em eleições antecipadas em Junho de 1977 (as mais participadas de sempre), uma outra lista unitária ganharia o sindicato de volta para o movimento sindical unitário com 58% dos votos, contra 41% da lista de base partidária PS, PSD e CDS.

A história exemplar dos trabalhadores do comércio e serviços do distrito de Lisboa que, durante esses quase dois anos, e mesmo fora dos corpos gerentes do Sindicato, não abdicaram de travar importantes lutas sindicais, ao mesmo tempo que denunciavam a actuação conciliadora e de traição da direcção amarela, é uma história que merecia ser contada.

Alguns dos protagonistas chave dessa luta, como o Tolentino Lourenço e o José Manuel Barros, já não estão infelizmente entre nós, mas ainda há por aí muitos delegados e activistas sindicais, que participaram no chamado "Grupo dos 28", que podiam, e deviam, meter mãos à obra.

Vamos à procura dos amigos que participaram nisto, Joaquim Labaredas, Maria Odete Simão, Jorge Estima, João Bernardino, Pedro Azevedo Peres?

segunda-feira, 18 de abril de 2016

INDIGNAÇÃO E REPULSA


Indignação e repulsa é o mínimo que nos causa a intervenção do deputado federal Jair Bolsonaro ao dedicar o seu voto a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, ao fascista coronel Carlos Ustra, chefe do DOI e torturador do tempo da ditadura militar (1964-85).

Mas também não devíamos ser indiferentes ao facto de, por cá, termos o antigo ministro do governo fascista de Salazar, Adriano Moreira, o criminoso que reabriu o Campo da Morte do Tarrafal, sentado no Conselho de Estado.

Ao menos no Brasil ainda houve alguém que cuspiu na cara do fascista.

(Na foto Jean Willys, deputado do PSOL, a cuspir na cara do fascista Bolsonaro)

sexta-feira, 18 de março de 2016

DO QUE SE DEVIA (SOBRETUDO) FALAR, QUANDO SE FALA DA CORRUPÇÃO DOS POLÍTICOS


A corrupção não é apenas uma falha moral e ética dos políticos, mas sobretudo a actividade muito lucrativa dos que usam os políticos para se apropriarem indevidamente dos recursos do Estado (milhares de milhões ano sim, ano sim), ou que recorrem aos políticos para obter informações e mover influências que contribuam para aumentar os seus rendimentos e lucros.

Claro que aos políticos, até pela sua qualidade de representantes dos cidadãos, cabem responsabilidades especiais, e cada acto de corrupção dum politico, e de quem o corrompe, deve ser objecto de severa condenação ética e/ou criminal. E não são apenas os casos de corrupção em troca de qualquer coisa, é também uma outra miríade de situações, como por exemplo os casos de ministros que pelos milhões que deram a ganhar a uma empresa, ou pela informação de que dispõem ou pelas portas que podem abrir e influências que conseguem mover, vão depois de sair do governo para empregos milionários nas empresas beneficiadas.

Mas toda esta corrupção à volta da politica, não é como às vezes se diz um cancro, uma anomalia social, esta corrupção é parte integrante do sistema em que vivemos, é mesmo uma das suas característica marcantes, como se pode constatar pelos casos que, por todo o mundo, são diariamente denunciados, a ponta do enorme e invisível iceberg da corrupção.

Discutir a corrupção, sem apontar os seus maiores beneficiários e escondendo o seu carácter sistémico, é ingenuidade duns, os que estão neste debate de boa fé mas pouco informados, e desonestidade doutros, os que ao centrarem as acusações apenas nos políticos mais não pretendem do que substituir os corruptos dos outros pelos seus próprios corruptos, e ao mesmo tempo manter na sombra os principais beneficiários da corrupção, os grandes interesses económicos.

Em Portugal, num dos muitos exemplos que se pode dar sobre a grande facilitadora da corrupção, a promiscuidade entre os mundos da politica e dos negócios, cerca de metade dos que, desde o 25 de Novembro, passaram pelos governos do PS, PSD e CDS, foram empregados, ou tiveram ligações à Banca. Mais palavras para quê.

terça-feira, 15 de março de 2016

NÃO SE ESQUEÇA DA JUDITE.


Os homens são todos uns ingratos, não são ?

Anos a fio a Judite, ali, domingo sim, domingo sim, a dar-lhe as deixas, a fingir que ficava deslumbrada com as banalidades que o professor ia debitando, praticamente a levá-lo ao colo até à Praça Afonso de Albuquerque, e tudo para quê ?

Agora que é presidente anda aí num virote, em almoços e concertos, a falar de doçuras e de afectos, a distribuir beijinhos e abraços, e nunca mais se lembrou da dominical Judite.

Ao menos senhor presidente, um dia destes pergunte a um dos seus camareiros se o anterior inquilino não terá deixado por aí esquecida uma medalha, de preferência com uma fita que vá bem com a cor dos olhos da telegénica Judite.

E depois, que data e local mais apropriados para fazer a felicidade da .nossa doce e afectuosa Judite, do que no patriótico e diaspórico 10 de Junho, na cosmopolita e romântica Paris?

quinta-feira, 10 de março de 2016

AS DUAS POSSES DE MARCELO: COMO PR, E COMO CHEFE DA DIREITA


Se dúvidas ainda houvesse, o discurso de tomada de posse de Marcelo aí está para as esclarecer, aqui.

Eleito com base nos votos do PSD e CDS (e alguma penetração fora dessa área), Marcelo no discurso de ontem faz um corte radical com o Pafismo que nos desgovernou nos últimos quatro anos, e anuncia urbi et orbi, um novo rumo para a direita.

Perante a impossibilidade, a curto ou médio prazo, dum regresso da direita ao poder com base no programa e radicalismo da Paf, há que inflectir ao centro, dar a volta ao discurso, retomar o modelo do "arco da governabilidade" e ir criando as pontes que, em próximas eleições, possibilitem um entendimento com o PS.

Estratégia a que uma boa parte da direita já se rendeu, como é evidente do coro de loas suscitado pela tomada posse e o discurso de Marcelo.

Agora é esperar que Passos (que nem foi ao almoço em Belém) e o que resta do Pafismo implodam de vez, e procurar um novo rosto para o PSD que, com outra lábia, com outro tique, assuma o papel de líder da Oposição.

No entanto, embora a Marcelo se reconheça a visão e perspicácia para a criação destes grandes desígnios, já o mesmo não se pode dizer quanto à respectiva concretização. A sua conhecida hiper actividade, e a proverbial tendência de se enredar com a própria sombra, podem deitar tudo a perder.

Além disso, e mais importante, Marcelo e a direita recauchutada não vão ocupar sozinhos aquele cenário e, entre outras, há uma variável da equação que pode conduzir a um resultado diametralmente oposto daquilo que está nos planos de Marcelo.

Aí pergunta o estimado leitor: Mas afinal que variável é essa? E eu respondo: É o Povo, pá!

quinta-feira, 3 de março de 2016

QUE FAZER COM ESTA AUSTERIDADE?


O sadismo austeritário dos pafista acabou (morto de morte matada), mas a Austeridade continua para lavar e durar, e não é o OE de 2016, apesar de algum pequeno alivio para os trabalhadores e o povo miúdo, que vai pôr fim aos sacrifícios, nem promover o indispensável crescimento económico.

Lá de fora as perspectivas ainda são mais sombrias. Para além do desolador panorama económico a nível mundial, a economia europeia continua estagnada e a crise da Divida publica alarga-se a outros países. A isto junta-se a alta probabilidade de a nova onda da especulação financeira recair novamente sobre as dívidas soberanas, com Portugal a ser um dos primeiros alvos na mira dos agiotas.

Claro que existe um governo PS, apoiado por uma maioria à esquerda no Parlamento que já tiveram o mérito de nos devolver, entre outras coisas, a esperança.

E convém também lembrar que mesmo com austeridade é possível lutar contra a desigualdade, o desperdício e a corrupção. Repor direitos retirados e alargar outros. Combater a fuga ao fisco dos grandes rendimentos. Melhorar os serviços públicos. Controlar as grande empresas que nos impõem preços e outras condições escandalosas. Enfim, de pôr direito muito do que andamos há décadas a tentar consertar.

Já quanto à Austeridade propriamente dita não há repostas simples. Há que, com realismo e sem receios nem tabus, promover um debate alargado, que pelo menos nos aponte uma luz ao fundo do túnel, e que nos vá preparando para algum percalço (como sermos expulsos do euro ou o euro implodir).

O que não pode é ficar tudo isto apenas nas mãos do governo e da maioria à esquerda na AR. Só uma larga e empenhada mobilização social à volta destas questões, e um apoio claro às soluções que se forem construindo, poderá fazer da inédita, importante e indispensável convergência à esquerda, um efectivo contributo para a saída desta decadência sem fim à vista.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ESTE BE JÁ NÃO É O QUE ERA


Bastou uma pequena aproximação ao Poder, para logo o BE começar a mudar o discurso e, mais grave ainda, a própria visão do mundo.

Sim, a que propósito um cartaz com um branquelas, quando todos sabemos que Jesus era negro, e muito provavelmente mulher?

Além disso onde o BE vê apenas um casal convencional (os dois pais), o que existiu de facto foi uma família precursora dos tempos modernos: um filho, uma mãe (ausente do cartaz, outra descriminação), e três pais: um homem, uma divindade, e uma pomba (descriminação de espécie e de género).

Em vez da bisonha família nuclear de que nos fala o cartaz do BE, o que nos conta a história é a vida duma jubilante relação pan-poli-amorosa.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

ATIRADOS AO RIO


Com uma Comunicação Social que basicamente é um ramo da Industria de Entretenimento, e em que uma das suas mais profícuas actividades é o espectáculo da desgraça, já (quase) nada nos pode admirar.

Uma mãe em estado de hipotermia, uma criança morta e outra desaparecida, era de facto uma tragédia em que os abutres dos Mass Mérdia não podiam deixar de chafurdar.

Com base em alguns factos e poucos indícios, vão-se construindo as mais desencontradas e destrambelhadas narrativas, que ora põem as culpas na mãe ora as atiram para cima do pai, este último prestando-se inclusive a dar a sua contribuição voluntária para o circo mediático montado à volta do caso.

Hoje, mais uma vez sem quaisquer provas, a versão, que leio no jornal e que ouço na TV, é que as duas crianças foram "atiradas ao rio", o que faz nascer em mim o incontornável desejo de ver todos os que nos Mass Mérdia têm alimentado este repugnante folhetim, serem eles próprios, sem apelo nem agravo, profilacticamente ATIRADOS AO RIO.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

E NÓS RALADÍSSIMOS COM O DÉFICE ESTRUTURAL


É que nem se fala noutra coisa aqui pelo bairro.

Um tipo entra no café do Sr Amadeu e a primeira coisa que lhe perguntam é como vai o seu défice estrutural, à porta da EB1/JI as mães e as avós dividem-se sobre qual a melhor maneira de limpar o pó ao défice estrutural, e até o dono do restaurante chinês me veio perguntar o que achava de passar a incluir na ementa um prato de porco com amêndoas à défice estrutural.

No entanto, e para falar verdade, tenho de admitir que sem estas cenas dos défices estruturais, dos saldos primários e do efeito induzido da TSU, o panorama cultural deste bairro seria uma autentica pasmaceira.

Enfim, o estimado leitor deve ter uma ideia do que estou a falar, tipos pessoal que só anda em transportes públicos, e com quem não se consegue ter uma conversa com a devida elevação técnico intelectual.

Gentinha que, se não tiver os estímulos certos, só fala de tretas como a miséria que ganham a trabalhar que nem uns mouros, do tempo que esperam por uma consulta com o médico de família que não têm, do preço do bilhete da Barraqueiro para ir ao Centro de desEmprego a Loures ou da reforma de miséria que acaba sempre antes do dia 15.

E aí eu pergunto: como estaria o nível intelectual deste bairro, sem o contributo inestimável destas questões técnico eruditas com que os Mass Mérdia nos vão brindando diariamente?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

MARCELO: OS QUILÓMETROS DE AVANÇO E OS QUILÓMETROS DE ATRASO


Lembra Jerónimo de Sousa que na campanha eleitoral Marcelo "partiu com quilómetros de avanço", referência óbvia à sua notoriedade publica, nomeadamente como comentador dominical das TVs, mas também por ter sido levado ao colo pelos donos da Comunicação Social, que nesta campanha foram os seus mais dedicados e decisivos apoiantes.

Mas Marcelo também partiu para esta campanha à Presidência da República com quilómetros de atraso: os 38% da direita nas legislativas de Outubro seriam noutras condições um obstáculo inultrapassável, mesmo com todos os quilómetros de avanço.

Aliás, mesmo os quilómetros de avanço deveriam ter sido usados contra Marcelo (só no que ele disse ao longo dos últimos 4 anos nas homilias dominicais havia corda para "enforcar" um batalhão), não só colando-o irremediavelmente à direita que "ganhou" com 38%, mas também apresentando-o como o candidato a novo líder da Direita derrotada e decapitada em Outubro.

Considera o Comité Central do PCP que o resultado obtido por Marcelo, 52%, "comprova a real possibilidade (...) para ser derrotado se todos se tivessem verdadeiramente envolvido neste objectivo", e penso estar aqui o busílis da questão.

A incapacidade de apresentação dum candidato da esquerda, a bizarria da multiplicação de candidaturas para "fixar o eleitorado", a falta de comparência do PS, permitiram inclusive a Marcelo fazer da sua campanha um agradável passeio a caminho de Belém.

Derrotada e decapitada em Outubro, a Direita tem agora em Belém o líder que irá tentar fazer esquecer a devastação Pafista e reconstituir a direita numa versão menos agressiva, numa direita que aceite que a sua única hipótese de, a médio prazo, voltar ao governo é em aliança com o PS.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

HÁ 97 ANOS ROSA LUXERMBURG E KARL LIEBKNECHT ERAM ASSASSINADOS À ORDEM DOS SOCIAL DEMOCRATAS ALEMÃES



1) A 4 de Janeiro de 1919, em mais um episódio da luta revolucionária dos trabalhadores alemães do período 1918-19, os trabalhadores de Berlim desencadeiam uma Greve Geral, que rapidamente se transforma numa insurreição;


2. A 6 de Janeiro o Governo social democrata, SPD, desencadeia uma severa repressão, chamando os Freikorps (tropas mercenárias) para aniquilar a revolta dos trabalhadores;


3. Os Freikorps, recuperam rapidamente o controlo das ruas bloqueadas por barricadas, e dos edifícios ocupados; 4. Muitos trabalhadores rendem-se, o que não impede os soldados mercenários de matar centenas deles;

5. Em pouco tempo, Berlim está completamente ocupada pelo militares;

6. Rosa Luxemburg publica a 14 de janeiro de 1919 o seu ultimo artigo, intitulado amargamente " A Ordem reina em Berlim "; https://www.marxists.org/archive/luxemburg/1919/01/14.htm

7. A 15 de Janeiro de manhã Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, dirigentes comunistas da Liga Spartakus, são presos;

8. A caminho da prisão são ambos assassinados (separadamente) pelos soldados que os tinham prendido;

9. O corpo de Rosa Luxemburg é atirado a um canal. No funeral um caixão vazio acompanha o caixão com o corpo de Karl Liebknech;

10. Um corpo identificado como de Rosa Luxemburg foi finalmente resgatado dum canal a 31 de maio.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

DE ADAM SMITH AO NEO LIBERALISMO - II


Para os liberais do sec XIX (e também narrativa ainda em voga em livros escolares, crónicas do Publico, e comentários do FB) o mercado é o prosaico ponto de encontro onde os indivíduos, prosseguindo objectivos próprios e diferenciados, procedem a trocas mutuamente vantajosas.

Mercado onde, sob os auspícios da celebrada e benfazeja mão invisível de São Adam Smith, se concretiza diariamente o milagre do equilíbrio entre os que vendem e os que compram, do equilíbrio entre a Oferta e a Procura.

Já na visão neo liberal, a inversão é completa: os objectivos individuais e colectivos passam a simples meios, obrigatoriamente subordinados ao fim ultimo da glória e proveito dos Mercados e da realização do lucro do Capital.

Aí, no fabuloso reino do neo liberalismo, somos todos mobilizados à força e, sob a bandeira do empreendedorismo, compelidos a marchar ao som da musica da produtividade, submetidos a avaliações de desempenho, obrigados a travar as gloriosas batalhas da competitividade, em mercados minados pelas assimetrias, onde cada um tem de se proteger das ameaças, explorar as fraquezas dos adversários, esmagar os inimigos, correr atrás das oportunidades, e sacar o que puder como se não houvesse amanhã.

(Ao ler o paragrafo anterior, o estimado leitor pode ficar com a ideia de que hoje estou um bocado para o apocalíptico, mas acredite que não estou a inventar nem a exagerar nada, limitei-me a pôr em português corrente o que os próprios dizem em neo liberalês).


Da saga "Umas coisinhas que você precisa de saber sobre o Neo Liberalismo e ainda não tinha tido coragem de me perguntar" pode também ler:
O NEO LIBERALISMO NÃO É UMA IDEOLOGIA I

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O NEO LIBERALISMO NÃO É UMA IDEOLOGIA - I


O neo liberalismo, ou liberalismo de mercado, é uma retórica, um projecto político, e um conjunto de práticas que visam impor a lógica de funcionamento do mercado como modelo, principio organizador e escala de valores, não apenas à economia, como a todos os domínios e aspectos da vida em sociedade e do próprio indivíduo.

O neo liberalismo é uma forma de liberalismo radical, um projecto totalitário, desestabilizador do tecido económico, anti social e anti humanista, sem esperança nem futuro, que é urgente desmascarar, rejeitar, e derrotar.