quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Caridades ou Oportunidades?


Como acabar com a pobreza? Com caridades ou com oportunidades? A questão foi colocada pelo JORNAL “i” na sua edição de 23 de Janeiro de 2010, sob o título “E você, o que faz para combater a pobreza?” Entre as muitas respostas dadas por várias personalidades da sociedade portuguesa, todas elas sensíveis e preocupadas com o fenómeno, e cada uma à sua maneira a tentar contribuir para o mitigar, destaco a que foi dada pelo economista Carlos Carvalhas, que naturalmente subscrevo. Disse ele o seguinte:

Em Portugal, a grande mancha de pobreza resulta da má distribuição do rendimento nacional. Aliás, os baixos salários de hoje vão ser as baixas pensões de amanhã, o que é preocupante. A única forma de contornar o problema será melhorar a distribuição da riqueza, através de uma política fiscal mais justa e de uma melhoria dos salários e das reformas… Não pertenço ao grupo dos que acham que o problema se pode resolver através de pequenos contributos pessoais. Acredito, antes, que a única forma de ser combatido é através de políticas mais justas. No meu caso, procuro denunciar, apresentar propostas e continuar a luta.

O facto de já terem passado alguns meses, e muita água debaixo das pontes, as considerações de Carlos Carvalhas, infelizmente, continuam certeiras e actuais, sendo que os seus desejados objectivos, por força da aplicação do ontem divulgado PEC 3, mascarado de orçamento para 2011, nunca serão atingidos, antes pelo contrário.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E esta despesa também vai ser congelada, Sr. Ministro das Finanças?
Cinco milhões em carros anti-motim para a PSP.


Teixeira dos Santos anunciou há pouco que já fez um despacho a congelar os investimentos do Estado até ao final do ano. Vamos lá a ver o que vai acontecer à compra de mais carros anti-motim para equipar a PSP, que o MAI e/ou o Governo Civil se estão a preparar para fazer.

O pretexto para a compra deste material, habitualmente usado em cenário de guerra, é a cimeira da Nato, mas provavelmente estão é todos borrados com medo das reacções que as brutais medidas de austeridade há pouco anunciadas pelo Governo, poderão provocar entre o pessoal.

De acordo com o JN, "Dois sindicatos da GNR - a Associação Nacional de Oficiais da Guarda (ANOG) e a Associação dos Profissionais da Guarda (APG-GNR) - manifestaram-se ontem "perplexos" com a notícia de que o Ministério da Administração Interna (MAI), recorrendo aos saldos de 2009 do Governo Civil de Lisboa, vai gastar cinco milhões de euros na compra de diverso equipamento de segurança - incluindo veículos antibomba e antifogo, habitualmente utilizados em cenários de guerra e zonas sensíveis - para ser utilizado pela PSP na Cimeira da OTAN, que se realiza no Parque das Nações, em Lisboa, a 19 e 20 de Novembro. "

Os profissionais da GNR adiantam ainda que a compra, sem concurso publico, se trata de uma duplicação de meios já existentes.

Governo diz que país está à beira do precipício, e decide dar-lhe mais um empurrão para o abismo.


Alguém duvida que aumento de impostos e o corte brutal ao rendimento e às prestações sociais dos trabalhadores, anunciadas há pouco por José Sócrates e Teixeira dos Santos, vão agravar ainda mais a já periclitante economia do país e provocar mais falências, desemprego, e mesmo contribuir para a diminuição das receitas fiscais?

Como se diz na Moção aprovada nas manifestações da CGTP que juntaram hoje dezenas de milhares de trabalhadores em Lisboa e no Porto, o que o país precisa é de uma nova política que responda às necessidades dos trabalhadores:

"1. O país precisa de crescimento económico, assente na re-industralização e revitalização da produção nacional e na dinamização da procura interna, como elementos centrais para a criação de emprego;

2. O país precisa que a actualização do SMN para 500 € em 2011, no cumprimento do acordado em Dezembro de 2006, seja uma realidade. A melhoria, ainda que limitada, das condições de vida de centenas de milhar de famílias não é negociável, não havendo lugar a quaisquer concessões;

3. O país precisa do aumento real dos salários como imperativo nacional, indissociável de uma outra repartição da riqueza e da valorização do emprego;

4. O país precisa que acabem os cortes nas prestações sociais e que se incentivem políticas justas de apoios sociais, no cumprimento dos preceitos Constitucionais de garantia universal à protecção social;

5. O país precisa que o direito à contratação colectiva na Administração Pública e no Sector Privado seja efectivado, numa perspectiva de desenvolvimento e progresso social, sendo inadmissível o boicote à negociação por parte do patronato e do Governo."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Contributo do PSD para a Redução da Despesa
Projecto de lei que cria o Centro para a promoção dos Bordados do Tibaldinho


Para quem ande assim um bocado a leste da temática dos bordados, esclarece-se que Tibaldinho fica na freguesia de Alcafache, concelho de Mangualde, distrito de Viseu.

De acordo com o Público a iniciativa do PSD, que terá sido discutida hoje na Comissão Parlamentar de Economia, visa a criação do Centro para a Promoção e Valorização dos Bordados de Tibaldinho, com representantes da Câmara Municipal de Mangualde, do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, da Junta de Freguesia de Alcafache, e das associações de produtores dos bordados de Tibaldinho.

Para estes discípulos de Pedro - grande Profeta do Motivo Atendível e da Redução da Despesa - "Constituem receitas do Centro as dotações para o efeito previstas no Orçamento de Estado".

Será que aos deputados do PSD responsáveis pela proposta de lei, António Almeida Henriques, Teresa Morais, João Figueiredo e José Luís Arnaut, não terá ocorrido que era capaz de ser mais prático, barato, e quiçá mais eficaz, criar no Facebook, um Grupo de Amigos dos Bordados de Tibaldinho?

À Conta do Orçamento

NA SEQUÊNCIA da ronda que o Presidente Cavaco vai efectuar juntos dos partidos com assento parlamentar, o governo do partido Sócrates, autor da grandiosa bandalheira nacional que se está a viver, foi dispensado de se pronunciar ou dar contributos para a resolução da presente crise orçamental.
Em contrapartida, foram disponibilizados todos os meios, materiais e humanos, para fazer chegar ao povo, todas as sugestões e prescrições, de fino recorte, que os generosos feiticeiros da OCDE cá vieram trazer sobre o assunto.

sábado, 25 de setembro de 2010

"Ninguém quer fazer mal aos ciganos em Portugal, mas é verdade que eles nos incomodam; o que a gente queria é que eles não existissem"


Muro de betão isola os cerca de 200 ciganos do bairro das Pedreiras, em Beja


O título deste post é uma citação feita por José Gabriel Pereira Bastos, antropólogo professor na UNL, num notável artigo, “Sobre a questão Cigana”, publicado no magazine Atual do Expresso de hoje, onde diz que “A decisão do Presidente Sarkozy de expulsar os ciganos não é um caso circunstancial, insere-se numa longa história de racismo e ciganofobia”, que não é especifica da França nem da Alemanha, esta última aliás evocada muito a propósito pela comissária europeia da justiça, Viviane Reding, mas ciganofobia comum ao espaço europeu, incluindo obviamente a Portugal.

Não dispondo na altura em que escrevi o post dum link para o artigo (que entretanto ficou disponível, e a que agora pode aceder através do link da citação), e na impossibilidade de o transcrever na totalidade, cita-se aqui um parágrafo que resume a posição da democracia portuguesa face aos ciganos: “constatar cientificamente a existência de uma ciganofobia surda mas retoricamente generalizada e persistente, em Portugal, é remar contra a maré. Se o Parlamento e os Provedores de Justiça não deram por ela; se a audição aos portugueses ciganos, na Assembleia da República, em 2009, era só para fazer um relatório consultável na Biblioteca do Parlamento; se o Episcopado não quer saber, nunca se pronunciou nem nunca se pronunciará, como afirmou publicamente, em Fátima, o director da Pastoral dos Ciganos; se a Esquerda nunca falou disso e se os media alinham por esta maioria silenciosa ou rosnante, quem senão muito fora da realidade poderia vir falar agora de ciganofobia?

Voltando à citação que faz o título do post, é verdade que ninguém defende agora o tipo de "solução" da Alemanha de Hitler, que enviou cerca de meio milhão de ciganos para as câmaras de gás, mas se houvesse assim uma "solução" tipo campainha de "O Mandarim" de Eça de Queiroz, que em vez de, tocada aqui fizesse cair morto um mandarim na China, fizesse desaparecer de vez os ciganos de Portugal, aposto que haveria muita da chamada "boa gente", que não hesitaria duas vezes em tocar a campainha.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Internacional, o Avante Camarada, e a Carvalhesa




Confesso que nunca fui muito à bola com o Avante Camarada, e cada vez acho menos piada à cantigueta neo realista pimba que animava a malta no tempo da outra senhora.

Prefiro A Internacional, a versão INTEGRAL, e não aquele resumo, tipo Novas Oportunidades, que costumam tocar nas festas e comícios do PCP.

Mais do agrado da gente jovem é a Carvalhesa, a que assistimos, na abertura da Festa do Avante 2010, à estreia mundial duma versão sinfónica, na presença do autor, o nosso conhecido maestro António Vitorino de Almeida.

Mas o que faz mesmo vibrar a geração da precaridade, dos recibos verdes e contratos a prazo, é a Carvalhesa Heavy Bombo multimédia e fogo de artificio que, como aqui se vê, mais uma vez deixou o pessoal à beira dum ataque de euforia, moi incluído.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O meu condomínio está como o meu país


O MEU condomínio (um microcosmos de 36 famílias) está cada vez mais parecido com o meu país, ou talvez seja o contrário, o meu país cada vez mais parecido com o meu condomínio. Devido à idade (36 anos, tantos como a democracia portuguesa), começa a coleccionar problemas de toda a ordem, em resultado do envelhecimento e do pouco cuidado com que alguns condóminos e as administrações tratam o edifício, pois acham que o seu mundo se limita à sua fracção, portas adentro, onde se fecham a coçar as feridas, e que as partes comuns não lhes dizem respeito.

O resultado é as infiltrações grassarem pelos tectos e paredes, o telhado meter água, os elevadores estarem decrépitos, as bombas elevatórias baquearem, as lâmpadas fundidas dos patamares não serem substituídas, a limpeza deixar muito a desejar, cada um fazer o que lhe dá na real gana e não dar satisfações a ninguém, e isso acabar por se reflectir no ambiente geral, que se tornou de pouco diálogo e notória decadência.

Os condóminos desistiram de se disponibilizarem para integrarem e assumirem as responsabilidades da administração (em versão reduzida, uma espécie de governo do país), e acabaram por aceitar que a mesma fosse entregue a empresas da especialidade (?), todas elas negligentes, incompetentes e que pouco mais fazem que gerir o cardápio das receitas e das despesas, e cobrarem os respectivos honorários. Casos houveram em que se locupletaram com o que não lhes pertencia.

É convocada uma assembleia para aprovar contas, votar novo orçamento e estabelecer prioridades, e por três vezes consecutivas, não foi conseguido um quórum mínimo de 9 presenças, para se tomarem as decisões que a ordem de trabalhos impunha. O desinteresse e alheamento é tão profundo que nem sequer funcionou o habitual sistema de procurações, em que se delega nos poucos mas infalíveis e sempre cuidadosos vizinhos, a legal concretização do mínimo exigível que é a assembleia anual.

Ainda não fizemos nenhum inquérito ou sondagem à população do condomínio (isto se dermos algum crédito às sondagens), mas se tal fosse para a frente, é provável que o resultado não fosse edificante. A maioria não responderia, e os poucos, entre críticos que deixaram de dar o corpo ao manifesto - porque, em tempos passados, sempre foram eles que enfrentaram as crises e taparam os buracos - e os indiferentes, para quem tudo está sempre razoavelmente bem, desde que o tecto não lhes caia em cima, acabaria por reflectir, em miniatura, aquilo em que o nosso país se transformou.

Uma sociedade sem expectativas, não reactiva, meio envergonhada, a acomodar-se e a tentar sobreviver, sem questionar todas as fatalidades e contrariedades que vão surgindo. Enfim, tal condomínio, tal país, um consequência do outro, a roçarem a extravagância.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PAIS EMPENHADOS, NA GASPAR CORREIA


Se para o sucesso escolar contribui positivamente o empenho dos pais na vida escolar dos miúdos, aqui na na zona as perspectivas de trabalho dos mais novos para o ano 2010/2011 são no mínimo animadoras.

Às 18:15 dum dia de trabalho, 18 encarregados de educação (a grande maioria mães mas também alguns pais e avós) duma turma de 22 alunos do 5º ano da Gaspar Correia estão reunidos com a Directora de Turma, como aliás acontece nas salas ao lado com idêntico nível de participação.

Situada na Portela a Gaspar Correia serve também a vila de Moscavide, e mais alguns alunos doutros bairros desta zona do concelho de Loures. Aquela parte da classe média que está melhor na vida, que ainda tem um peso significativo na Portela, está aqui pouco representada, muitos têm os filhos nos colégios cujas carrinhas cruzam as ruas do bairro ao principio e ao fim do dia.

Em contrapartida os países do leste, o Brasil e África têm nesta sala alguma presença. Gente de trabalho, famílias que a emigração separou e agora estão de novo reunidas, miúdos que já cá nasceram, ou outros a viver há muito por estas bandas. A maioria destes novos vizinhos vive em Moscavide, que já em meados do século passado cresceu como terra de acolhimento de gente vinda de fora, especialmente do Alentejo e das Beiras.

Agora é fazer votos para que ao longo do ano, e no meio de todas as dificuldades, que a vida não será pêra doce para os pais que ali estavam na reunião, consigam todos arranjar o tempo e a paciência para assegurar o acompanhamento que os seus filhotes tanto precisam.

Petição pela Reabertura do Parque Infantil da Portela


Encerrado há um ano, se ninguém se mexer acho que vai ficar assim por muito mais tempo, se a intenção não for mesmo acabar com o Parque Infantil de vez.

Dê a sua ajuda para devolver este Parque Infantil aos miúdos desta zona. Para assinar a petição clique aqui : Pela Remodelação e Reabertura do Parque Infantil da Portela.

"O Parque Infantil da Portela, localizado na parte central do bairro, está encerrado há cerca de um ano, sem que haja notícias do início da necessária requalificação e da sua reabertura.

O seu encerramento deveu-se a não estar há muito de acordo com a legislação em vigor para este tipo de equipamentos. Por outro lado, o piso de areia, nada higiénico, levava já muitos pais a evitarem que os filhos frequentassem aquele espaço, e a interrogar-se quando é que o piso seria substituído. Além disso eram também muitos os pais insatisfeitos com o horário de abertura, demasiado restritivo.

O novo Parque multiusos na parte leste da Portela, junto às saídas das auto estradas, inclui um pequeno espaço com equipamentos para crianças, é vantajoso para as que moram nos prédios próximos, e conveniente para as famílias que utilizam as outras valências do Parque e ali têm também um espaço dedicado aos mais pequenos, sem limitações de horário.

Mas o novo parque não substitui o antigo. A dimensão da Portela, e o aumento do número de crianças que se está a verificar já há alguns anos, justifica a existência dos dois equipamentos. Além disso, o Parque Infantil antigo é mais central, está num local abrigado e protegido pela sombra das árvores, ao contrário do novo, que está num lugar ventoso no Inverno e é uma torreira de sol a certas horas do dia durante uma boa parte do ano.

Um parque infantil junto à Esplanada e ao Centro Comercial, ladeado pelo Jardim Autárquico e pelo “complexo desportivo” da Associação de Moradores, é uma valência imprescindível a uma área de comércio e de lazer como a de que dispomos na zona central da Portela.

Assim, os abaixo assinados vêm por este meio protestar junto da Junta de Freguesia da Portela e da Câmara de Loures, pelo arrastamento desta situação e exigir que no mais curto espaço de tempo se proceda à remodelação do Parque Infantil da Portela e à sua rápida reabertura, com um horário mais alargado, ou mesmo sem horário e sem guarda, como acontece na generalidade deste tipo de equipamentos."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primeiras reacções…


Recebi de um amigo (por e-mail) o seguinte comentário ao “nascimento” deste blog:

A ESSÊNCIA DA PÓLVORA é um nome muito sugestivo nos dias que correm...
Penso que nesta sua colaboração, e como é hábito, não lhe faltarão assuntos para acender o RASTILHO!
Abraço, AS

domingo, 19 de setembro de 2010

Out of the Blue
Que actualização do modelo económico em Cuba?


Também concordo que "É ao povo cubano que compete, soberanamente, tomar as decisões que considere mais adequadas para prosseguir a construção do socialismo". Só que, no que parece vir a ser uma significativa mudança do funcionamento da economia cubana, e que vai afectar diretamente e a curto prazo cerca de meio milhão de trabalhadores, a ideia com que ficamos é que o Povo não foi visto nem achado.

A procura de novas soluções que respondam aos problemas concretos duma sociedade é, em principio, um facto muito positivo, particularmente se tivermos em conta as dificuldades económicas que Cuba atravessa, e que o seu "modelo económico" seguia de perto aquele que deu com os burrinhos na água na URSS e noutros países do leste da europeu. Se no capitalismo encontramos regimes políticos e modelos económicos tão diferenciados, porque é que no socialismo terá de haver uma receita única?

Mas a questão central neste caso será o sentido das mudanças agora anunciadas. Cá pela nossa terra a mistura de actualização e política costuma ser funesta: actualização das taxas de IRS quer dizer pagarmos mais de impostos, actualização do calculo das reformas significa pensões mais baixas, e actualização da rede escolar acaba no encerramento de 700 escolas.

A "actualización del modelo económico" de que fala o comunicado da Central de Trabajadores de Cuba, terá, espera-se, um significado mais literal. Mas actualizar para que actualidade? Para a aplicação de alguns ditames da actual receita universal e hegemónica do neo liberalismo?

Espero sinceramente que a actualización agora anunciada pelo regime cubano vá no sentido do reforço da economia ao serviço do homem, ou seja na direção oposta à daqui do velho continente, onde todos os dias nos impõem actualizações que acentuam e agravam a submissão do homem à economia do hiper capitalismo dominante.

Odisseia do 28 à procura do trajecto para Belém


HÁ POUCO mais de 3 anos, aconteceu-me uma coisa inacreditável. No dia 2 de Março de 2007, necessitei de deslocar-me da Portela para a Avenida Infante Santo, a mais uma consulta no Hospital da Cuf, e como sou adepto das “boas práticas” e avesso a usar transporte particular dentro de Lisboa, em dia de semana e em horário de trabalho, decidi recorrer ao transporte público, e utilizar a carreira 28 da Carris, que faz o percurso entre a Portela e o Restelo. Eram 12h e 45m quando o enorme veículo articulado chegou, o motorista abriu a porta, comprei o meu título de transporte, e quando me preparava para ir escolher um lugar sentado, ouvi a voz do condutor, um rapaz com vinte e poucos anos, que ainda não tinha arrancado da paragem, fazer a seguinte pergunta:
- O senhor desculpe, mas agora nesta rotunda aí à frente, sigo para a direita ou continuo em frente?
Parei, olhei para trás, incrédulo, e foi a minha vez de perguntar, muito embora não houvesse mais ninguém por perto:
- Está-me a perguntar isso a mim?
- É sim, queira desculpar a maçada, mas a questão é que me enfiaram nesta carreira e eu desconheço totalmente o percurso, pelo menos até ao Cais do Sodré, respondeu o motorista, a exibir um ar muito embaraçado.
Perfeitamente abismado com a situação, voltei a insistir:
- Então e quando o escalaram para esta carreira não informou que desconhecia o percurso?
- Claro que informei, só que me disseram que tinha que ser, e se tivesse dificuldades com o caminho, que fosse perguntando às pessoas…
Claro está que não me sentei para fazer aquela viagem. Ou ficava a dar uma ajuda ao jovem funcionário da Carris, ou desembarcava na próxima paragem e arranjava um táxi.
Acabei por decidir armar-me em “bom samaritano”, instalei-me em pé ao lado dele e disse:
- Pois bem, pelo menos até à Infante Santo vai ter navegador. Agora aí na rotunda vai seguir em frente.
E assim foi. Fui dando indicação da localização das paragens, das faixas rodoviárias que devia seguir, orientei-o nos meandros de Moscavide, do Parque das Nações, na avenida Infante D.Henrique, no percurso pelas ruas apertadas da zona de Chelas, onde é preciso ser muito experiente para fazer curvas com um veículo articulado, senão é o cabo dos trabalhos, e assim sucessivamente. Pelo meio daquela inusitada viagem, e como é compreensível, a velocidade do autocarro era muito abaixo da média habitual, e isso começou-se a reflectir-se na chegada às paragens, empanturradas de gente, a despejarem sobre o motorista todas as ameaças e reclamações. Por isso, além de navegador, também tive que fazer a minha entrada de animal feroz:
- Quem está a reclamar, quer vir aqui para este lugar? É que o motorista foi metido neste autocarro e não sabe o percurso desta carreira. Alguém quer vir aqui dar uma mãozinha? Então, ninguém se oferece?
Fez-se silêncio. Apenas um operário já entrado em idade, veio até à frente e disse que estava ali para o que desse e viesse.
Finalmente chegámos ao entroncamento da avenida 24 de Julho com a Infante Santo, onde desci do autocarro, ao mesmo tempo que o improvisado condutor me agradecia a ajuda.
Não sei como acabou a saga daquele jovem condutor da Carris. A minha acabou mal. A consulta que estava marcada para as 14 horas, porque cheguei atrasado uma hora, foi transferida para as 17 horas, e no regresso a casa, pelo sim, pelo não, acabei por vir de táxi.
Já nem falo na degradação do serviço da Carris, que se tem vindo a verificar até hoje, com a redução da frequência das viagens, horários incertos e interrupção das carreiras a partir de determinadas horas e aos fins-de-semana, mas a verdade é que este continua a ser o modo de andar (ou desandar) da Carris, empresa de transporte público de passageiros da cidade de Lisboa, tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, a qual gasta muitos milhares de euros a fazer a auto-promoção da excelência dos seus serviços, publicidade aos benefícios de deixar o carro em casa e usar o transporte público, e depois uma inofensiva viagem pode transformar-se numa aventura pelo desconhecido, e com fim imprevisível.

sábado, 18 de setembro de 2010

Carta Aberta do Maestro António Saiote aos Cidadãos de Loures


Queridos concidadãos,

Desde menino que ouvia relatos orgulhosos da república ter sido declarada a 4 de Outubro em Loures. Os meus avós, pais, amigos tinham esse feito como algo que nos distinguia dos de outras terras. Várias vezes me correram as lágrimas quando perfilado na banda de Loures tocava o Hino nacional. Aliás elas estão a correr agora!

Matarruanos e Republicanos

Há 2 anos falei com o presidente da Câmara alertando para a importância do evento e da dignidade que merecia. Informei também que a única vez que o Parlamento tinha reunido fora de São Bento tinha sido em Santo Antão do Tojal, facto dele desconhecido.
Lembrei que se tudo fosse preparado atempadamente e correctamente poderia obter financiamento da comissão nacional.
Esperava estar a tratar com pessoas que sabiam a diferença entre a obra-prima do mestre e a prima do mestre-de-obras!
Passaram 2 anos para obter uma resposta à minha proposta. Primeiro ela foi positiva e perante assessores tratámos de problemas logísticos e há 1 mês veio a cambalhota rasteira.
Por educação não vou definir a maneira como tudo foi mal tratado. Confundi o tipo de interlocutores ao serviço da nossa Câmara. Esqueci-me que há representantes de um novo partido em Loures e uma nova imagem por eles escolhida PCB - Partido do Caracol e da Bejeca.

A mim resta-me desejar que a nossa terra volte a ter pessoas ao nível do cidadão António Saiote e dos seus egrégios avós!

Apresentação da Essência


A Essência da Pólvora é um blog de amigos e vizinhos de freguesias à beira Tejo do concelho de Loures.

Aqui se falará em geral da vida nestas terras de tradição operária, anti fascista e revolucionária; e em particular dos problemas, dificuldades, perspectivas e sucessos deste mundo, e desta época, em que nos calhou viver.

Como é timbre da blogosfera, também por aqui temos opinião sobre tudo e mais um par de botas, mas o nosso esforço irá para a apresentação de factos concretos e argumentos conclusivos, sem abdicar dumas bocas foleiras quando a coisa se proporcionar.

Tentaremos que este blog seja um espaço espaço aberto à discussão e confronto de ideias, sem preconceitos nem anátemas, e só decidimos moderar os comentários(*) para evitar que por aqui poise aquele pessoal especializado em insultar a mãezinha dos outros.

Passemos então da teoria à praxis.


(*) Há muito que os comentários passaram a estar abertos.