quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DO QUE ELES FALAM QUANDO FALAM EM POUPAR
A propósito da discussão pública do Orçamento da C.M.Loures para 2015


Com dois dias de diferença leio no Publico duas noticias que dão conta de como o Estado "poupa" em despesas com crianças.

A primeira noticia é de 20/9/2014 http://bit.ly/1mJu95l e diz que a Segurança Social “poupou” 18,6 milhões de euros nos apoios às crianças com necessidades especiais, e a outra, de 22/9/2014 http://bit.ly/1pbE1jR , diz que a Câmara de Loures conseguiu "poupar" 1,7 milhões de euros por ano no contrato de fornecimento de refeições escolares.

Só que o "poupar" no caso dos 18,6 milhões de euros na Segurança Social quer dizer um corte de 13,4 milhões de euros de apoios a crianças com necessidades educativas especiais, de 26,3 para 12,9 milhões de euros, mais de 50%, e outro corte de 5,2 milhões aos subsídios por educação especial e bonificação do abono de família para crianças e jovens com deficiência, o que somado dá o tal "poupar" de 18,6 milhões de euros.

Já na Câmara de Loures o "poupar" de 1,7 milhões de euros por ano no contrato de fornecimento de refeições escolares, não implicou quaisquer cortes nem na quantidade nem na qualidade das refeições fornecidas às crianças, o que houve de facto foi mais um caso do combate à ineficácia, despesismo, e favorecimento de clientelas, que caracterizaram a anterior gestão PS Loures na câmara.

Claro que quem leia as duas noticias constatará facilmente a natureza oposta entre o "poupar" da Segurança Social e o da Câmara de Loures, mas o problema é que para a grande maioria o que conta é o titulo, e a ideia que poderá ficar é que tal como Rui Ramos vaticinou há cerca de um ano no Expresso, de que perante a Crise e o estado em que o PS deixou a câmara de Loures, não restaria a Bernardino Soares e à CDU fazer na Câmara de Loures, o que Passos Coelho e e PSD/CDS estão a fazer no país. Prognóstico que até à data está a sair completamente furado.

Num contexto de sérias dificuldades financeiras, decorrentes da situação em que o PS Loures deixou a câmara, e dos agravados cortes e restrições do governo PSD/CDS às autarquias, resolveu o novo Executivo CDU levar à discussão publica o Orçamento da Câmara para 2015.

Saudando a iniciativa aqui deixo os meus votos para que eleitos e munícipes saibam distinguir entre as diversos modos de conjugar o verbo "poupar", e que a discussão não se centre no que não será possível avançar agora, mas no muito que, apesar das dificuldades, é necessário e possível fazer para vivermos melhor no concelho de Loures.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A RÚSSIA FARTOU-SE?


Nem a implosão do regime socialista, nem o desmembramento da URSS e extinção do Pacto de Varsóvia, nem a abertura do país à pilhagem ocidental, foram suficientes para proporcionar à Rússia o lugar a que as suas elites atlanticistas aspiravam no concerto das potências capitalistas.

Tratada com sobranceria e desprezo, a Rússia parece estar agora a fartar-se de tanta humilhação. O apertar do cerco da Nato, as provocações na Ucrânia, e as sanções de natureza política, económica e financeira, parece serem a gota que vai fazer transbordar a taça.

No reinicio dos trabalhos da Duma (Assembleia Legislativa) da Federação Russa os líderes de TODOS os partidos concordaram em que abrigar qualquer esperança de relações sãs com o Ocidente é uma perda de tempo. O consenso agora é de que a Rússia deve:

1) Voltar-se para o resto do planeta;
2) Aceitar o desafio de lidar com uma situação hostil e agressiva do "Ocidente";
3) Usar esta oportunidade para libertar a Rússia do sistema político, económico e financeiro ocidental.

Talvez não seja ainda o ponto de não retorno, mas se Obama, com o apoio dos lacaios da UE, continuar na rota de confronto: Good bye New World Order.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

CESSAR O QUÊ?
Sobre o Cessar Fogo no leste da Ucrânia.


Ao fim de 10 dias e apesar de algum optimismo inicial, torna-se claro que as hostilidades no leste da Ucrânia nunca cessaram, e que se houve de facto uma abrandar das hostilidades tal deve-se à necessidade de as forças de ambos os lados se reagruparem e reposicionarem no terreno, depois da ofensiva da resistência nos finais de Agosto, que penalizou fortemente os nazi fascistas de Kiev.

Mas desde o principio houve sérias dúvidas sobre a viabilidade do cessar fogo. Em primeiro lugar devido ao que separa as duas partes, depois por a Junta de Kiev ter sempre violado anteriores acordos, e por ultimo devido a não se perceber quem fica obrigado por um acordo de cessar fogo assinado por:

Heidi Talyavini, embaixadora da OSCE L.D. Kuchma, presidente da Ucrania de 1994 a 2005 M.Y. Zurabov, embaixador da Russia A.V. Zakharchenko I.V. Plotnitskiy

Ou seja uma embaixadora da OSCE, que participa como observadora, um antigo presidente da Ucrânia que não revela quem está a representar, um embaixador da Rússia que sempre afirmou não ser parte do conflito (e portanto estará ali como observador ou facilitador) e os dois líderes das republicas de Lugansk e Donetsk, que assinam a titulo individual, sem indicação dos seus cargos na RPL e RPD, e que agora vêm a publico esclarecer que participaram nas negociações como observadores. Nem numa novela de Kafka se encontra enredo tão absurdo.


Nota final
O Acordo de Cessar Fogo, de que pode ver uma cópia e tradução em Inglês aqui: http://bit.ly/YLErXT é também uma pequena obra prima da arte da obfuscação.