terça-feira, 29 de abril de 2014

DOS VIOLINOS DE CHOPIN À MUSICA DE ARY DOS SANTOS.


Provavelmente até há uma razão qualquer, que me escapa totalmente, para esta compulsão de políticos de direita, tão evidente nas comemorações dos 40 anos de Abril, se darem ares de gente culta e/ou de esquerda.

Talvez ainda se lembrem de aqui há uns anos, num momento de auto revelação da sua fascinante pessoa, Santana Lopes confessar numa entrevista: “adoro ouvir os violinos de Chopin”.

Por aqui, no Noticias da Portela e Moscavide deste mês, é a vez do jovem Ricardo Andrade, PSD, líder da coligação Mudar Loures na Assembleia Municipal que, num texto assim para o confessional, onde fala da sua "relação" com Abril, não escapar também à tentação de se enfeitar com uma peninha de esquerda, evocando a musica de, entre outros... ARY DOS SANTOS.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

LUÍS PESSOA, UM AMIGO E CAMARADA NA REVOLUÇÃO DE ABRIL
Com alguns factos menos conhecidos da participação do PCP no 25/4


Às primeiras horas do dia 25 de Abril o tenente miliciano Luís Ribeiro Pessoa à frente de duas companhias militares sai pela porta do cavalo das instalações de Santa Margarida depois de ter apontado a arma a um soldado que se recusava a entregar o único mantimento a que conseguiram deitar mão, uns sacos de pães.

Na Golegã as duas companhias juntam-se a outra da EPE, que traz as munições, e sob o comando de Luís Pessoa a coluna ruma a Porto Alto, onde se separam, uma companhia segue para Lisboa, outra vai controlar os acessos da Ponte de Vila Franca de Xira, e a de Luís Pessoa para o objectivo principal, a ocupação e controlo das antenas do Rádio Clube Português em Porto Alto.

Depois de se inteirar em pormenor como se desligavam as antenas, e de ter explicado aos funcionários que a sua missão não era cortar, mas manter no ar a emissão, Luís Pessoa havia de receber mais tarde um telefonema do dono da estação, Jorge Botelho Moniz, homem do regime que como oficial do Exercito tomou parte no 28 de Maio de 1926, a dar ordem para desligar o emissor.

Tudo isto é publico e bem conhecido, mas embora públicos e documentados há outros factos da participação de Luís Pessoa, e do PCP, no 25 de Abril de que quem ainda não sabe vai gostar de ficar a conhecer.

Mas antes disso e como se diz agora, fazer uma declaração de interesses, sou amigo de Luís Pessoa que conheci há 45 anos na casa do pai em Lousa, num dos muitos contactos de José Gouveia (e que eu acompanhava) a democratas do concelho de Loures, com vista à preparação e lançamento do que viria a ser a CDE e a sua participação nas "eleições" de 1969.

Entrando a meio da nossa conversa com o pai, o Luís Pessoa, volta-se para mim e diz: Deixa lá os velhotes recordar os tempos antigos e vamos para ali para me dizeres o que há para fazer. Na altura para aí com uns 20 anos, estava a estudar no IST e só ia ocasionalmente passar os fins de semana a Lousa, mas sem que lhe pedisse nada ofereceu-se logo para em Lisboa fazer o que pudesse, avançando mesmo com meia dúzia de sugestões.

De 1969 a 1972, quando começa o serviço militar, Luís Pessoa é um activo membro do MDP/CDE, com uma forte ligação à zona oriental e operária do concelho de Loures onde faz grandes amigos, a certa altura integrando o Secretariado do MDP/CDE com, entre outros, Lino de Carvalho e António Ferreira.

Mas voltando aos acontecimentos do dia 25 de Abril, apesar da ideia muito difundida de que o PCP não tinha a mais pequena ideia do que se estava a passar, gostaria de lembrar, com o exemplo de Luís Pessoa, que as coisas não foram bem assim.

É na sua qualidade de militante do PCP, e em ligação com a estrutura militar do Partido, que o tenente miliciano Luís Pessoa faz chegar a Otelo, no principio de 1974, a proposta de participação de “dez companhias comandadas por tenentes milicianos que poderiam vir a estar ao serviço do Movimento das Forças Armadas (MFA)”, com condições que, como conta Luís Pessoa, foram aceites: “Otelo garantiu-me ter como objectivos acabar com guerra, negociar a independência dos países africanos, soltar os presos políticos, mas não sabia bem quando, e legalizar os partidos políticos”.

Com base nesse compromisso Luís Pessoa envolve-se activamente na preparação das operações indicando nomes de militares e civis para tarefas do 25/4, e participando em contactos e reuniões preparatórias como por exemplo:

"A 15 de Abril, no café Califa, em Benfica, Otelo, o capitão Frederico Morais e os tenentes milicianos Luís Pessoa e Miguel Amado encontram-se para planear a tomada da Emissora Nacional".

Três dias depois, a 18/4, em casa do então tenente-coronel (Otelo), Luís Pessoa pedia para ter como objectivo “cercar a PIDE na sede da rua António Maria Cardoso”, em Lisboa. A missão entregue foi outra: “Tens que assegurar que a rádio funciona sempre, com segurança próxima, e homens na ponte e no cruzamento”, é a decisão de Otelo.

Outra ideia muito difundida, a de que o comando militar das forças que intervieram a 25/4 foi exclusivamente assegurado por oficiais do quadro permanente, também não é totalmente correcta. Como se refere atrás Luís Pessoa, na altura tenente miliciano, comanda as duas companhias que saem de Santa Margarida, a coluna de 3 companhias até Porto Alto e a companhia que faz a ocupação da antena do RCP de Porto Alto.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O ESTRANHO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO DO FASCISMO EM CURSO.


Por razões que a razão desconhece os três ex-presidentes da Republica desta triste e tão maltratada Democracia, decidiram também aderir à campanha de lavagem do fascismo em que as comemorações que actual Situação está a promover para assinalar os 40 anos do 25 de Abril se está a transformar.

Há pouco no Telejornal lá estavam eles na Gulbenkian a ouvir a filha do ultimo presidente do conselho de ministros dos 48 anos de ditadura a fazer o branqueamento da memória do pai.

Para quem possa pensar que o consulado de Marcelo Caetano correspondeu a uma qualquer abertura do regime, e que o seu papel foi o de iniciador da transição para a Democracia, nada de mais errado.

Por exemplo, tal como o Exame Prévio de Marcelo era ainda pior do que a Censura de Salazar, também o tecnocrático nome de DGS, com que crismou a Pide, não só em nada alterou a natureza daquela policia politica, como inclusive o carácter repressivo e violento da sua actuação se agravou nos ultimo anos do fascismo.

Em 21 de Julho de 1973, em Moscavide, numa acção pré-eleitoral de contacto com as populações, semelhante às que os candidatos da CDU às autarquias de Loures realizaram pelas localidades do nosso concelho o ano passado, a PSP prende José Augusto Gouveia, e mais três activistas, que de seguida são entregues à Pide e levados para Caxias.

A 22 de Agosto depois de 3 semanas de tortura e de quase duas semanas em estado de delírio extremo e intenso sofrimento, isolado na sua cela, mas de que outros presos em Caxias se podiam aperceber pelo gritos lancinantes, que mais pareciam dum animal do que dum ser humano, a Pide resolve entregá-lo nas urgências do Hospital Miguel Bombarda, conforme podem ver por esta Guia de Marcha.

Um médico democrata reconhece-o e avisa e família, e só mais de dois meses depois, a 2 de Novembro, José Augusto Gouveia tem finalmente alta do Miguel Bombarda e vai para casa, muito combalido, sem obviamente ter sido objecto de qualquer processo ou acusação. A recuperação, desta sua 4ª prisão pela Pide, foi muito lenta e só se dá verdadeiramente com a alegria do 25 de Abril.

De 1974 a 1976 José Augusto Gouveia desempenha as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara de Loures, onde depois disso se mantém por mais alguns anos como vereador.

domingo, 6 de abril de 2014

SONDAGEM À BOCA DAS URNAS DÁ RUI TAVARES, O POLÍTICO MAIS COXINHA DE PORTUGAL, COMO O PREFERIDO DOS COXINHAS DE LISBOA E DO PORTO.


A recente onda de contestação no Brasil, para além de outros contributos importantes para a nossa cultura politica, acaba de nos enriquecer com esta palavra do léxico paulista, que nitidamente fazia falta em Portugal: O COXINHA

Parece que a designação de coxinha tem origem naqueles paulistas que em vez da boa feijoada, preferem coxinha de galinha.

No dia em que o partido LIVRE escolhe, em Lisboa e no Porto, por votação dos seus aderentes, os candidatos ao Parlamento Europeu, é oportuno aqui chamar a atenção para mais esta tendência da vida politica portuguesa. Mas, o que é então o coxinha?

Sociologicamente falando, é um grupo social específico, que compartilha determinados valores. Dentre eles está o individualismo exacerbado, e dezenas de coisas que derivam disso: a necessidade de diferenciação em relação ao restante da sociedade, a forte priorização do requinte em sua vida cotidiana, como elemento de “não-mistura” com o restante da sociedade, aliadas com uma irreprimível necessidade de parecer simpático ou bom moço. São “politicamente corretos”, dentro de sua noção deturpada de política, e nutrem uma arrogância quase intragável, com pouquíssima tolerância a qualquer crítica."

sexta-feira, 4 de abril de 2014

SMAS DE LOURES: OU FOI ASSIM, OU SUSANA AMADOR TEVE UMA EPIFANIA
A propósito do fim do processo de privatização das águas e resíduos sólidos em Odivelas.


Depois de aprovada em reunião de Câmara, a Assembleia Municipal de Odivelas, a 7 de Fevereiro de 2013, decide a denúncia do acordo com os SMAS de Loures e a Concessão a privados dos Serviços de Água e Resíduos Sólidos do concelho de Odivelas, avançando de seguida para o lançamento do Concurso Publico para entregar a privados, durante 30 anos, os serviços assegurados pelos SMAS de Loures.

Claro que o PS Loures se manifestou contra e Carlos Teixeira, a exemplo do que aconteceu aquando da anexação do Parque das Nações por Lisboa, esbracejou também um pouco. Mas tal como o seu lugar na cadeia alimentar do PS o inibiu de enfrentar um peso pesado como António Costa, também no caso dos SMAS de Loures teve de mais uma vez se vergar a decisões superiores, no caso de Susana Amador, Presidente da Câmara de Odivelas, membro do Secretariado Nacional do PS e adjunta de Seguro.

A João Nunes caberia, no caso de ter assegurado a continuação do PS à frente da Câmara de Loures, desempenhar, sob a égide de Susana Amador, o papel de coveiro dos SMAS, com a eventual e provável entrega aos privados do que restasse após a saída de Odivelas.

Só que com a vitória da CDU em Setembro de 2013, o arranjinho ficou de pantanas. Como é óbvio a decisão unilateral de separar os serviços de águas e resíduos sólidos de Odivelas só teria condições de se concretizar sem problemas se contasse com a conivência da Câmara de Loures, e isso era algo que estava completamente fora de questão com Bernardino Soares à frente do município.

Para além da oposição que a separação de Odivelas iria continuar a encontrar por parte da CDU e dos trabalhadores dos SMAS de Loures, pior seriam as dificuldades praticas decorrentes do divórcio litigioso, a inevitável ida para os tribunais, os prováveis e sucessivos recursos para instâncias superiores, o que, tudo somado, podia fazer arrastar o folhetim por longos anos, com pesadas consequências para o processo de privatização que se arriscaria mesmo a ficar sem privatizantes interessados em meter-se em tal imbróglio.

Assim, quando Benardino Soares avança para a negociação com Odivelas, Susana Amador deve ter percebido que, não só estava metida numa camisa de onze varas, como tinha pela frente alguém experiente e genuinamente disposto a negociar, o que não lhe deixava sequer margem de manobra para fingir que sim mas que talvez, e no momento oportuno romper as negociações e atirar com as culpas para cima de Loures e da CDU.

O que terá levado Susana Amador a dar uma reviravolta de 180º, desfazer a decisão de privatizar que já estava tomada, e acordar com Bernardino Soares manter o SMAS que adoptará a forma de serviços multi municipalizados de Loures e Odivelas, só ela poderá dizer, mas cá para mim, ou foi mais ou menos como aqui tentei explicar, ou na estrada do Largo do Rato para Odivelas, talvez ali na Calçada de Carriche onde o burro ultrapassou o Ferrari, Susana Amador terá experienciado uma sublime Epifania que a levou a renegar sem hesitação a sua anterior opção privatizadora, e a converter-se docemente aos benefícios do até aí exprobrado Serviço Publico.