sexta-feira, 25 de abril de 2014

LUÍS PESSOA, UM AMIGO E CAMARADA NA REVOLUÇÃO DE ABRIL
Com alguns factos menos conhecidos da participação do PCP no 25/4


Às primeiras horas do dia 25 de Abril o tenente miliciano Luís Ribeiro Pessoa à frente de duas companhias militares sai pela porta do cavalo das instalações de Santa Margarida depois de ter apontado a arma a um soldado que se recusava a entregar o único mantimento a que conseguiram deitar mão, uns sacos de pães.

Na Golegã as duas companhias juntam-se a outra da EPE, que traz as munições, e sob o comando de Luís Pessoa a coluna ruma a Porto Alto, onde se separam, uma companhia segue para Lisboa, outra vai controlar os acessos da Ponte de Vila Franca de Xira, e a de Luís Pessoa para o objectivo principal, a ocupação e controlo das antenas do Rádio Clube Português em Porto Alto.

Depois de se inteirar em pormenor como se desligavam as antenas, e de ter explicado aos funcionários que a sua missão não era cortar, mas manter no ar a emissão, Luís Pessoa havia de receber mais tarde um telefonema do dono da estação, Jorge Botelho Moniz, homem do regime que como oficial do Exercito tomou parte no 28 de Maio de 1926, a dar ordem para desligar o emissor.

Tudo isto é publico e bem conhecido, mas embora públicos e documentados há outros factos da participação de Luís Pessoa, e do PCP, no 25 de Abril de que quem ainda não sabe vai gostar de ficar a conhecer.

Mas antes disso e como se diz agora, fazer uma declaração de interesses, sou amigo de Luís Pessoa que conheci há 45 anos na casa do pai em Lousa, num dos muitos contactos de José Gouveia (e que eu acompanhava) a democratas do concelho de Loures, com vista à preparação e lançamento do que viria a ser a CDE e a sua participação nas "eleições" de 1969.

Entrando a meio da nossa conversa com o pai, o Luís Pessoa, volta-se para mim e diz: Deixa lá os velhotes recordar os tempos antigos e vamos para ali para me dizeres o que há para fazer. Na altura para aí com uns 20 anos, estava a estudar no IST e só ia ocasionalmente passar os fins de semana a Lousa, mas sem que lhe pedisse nada ofereceu-se logo para em Lisboa fazer o que pudesse, avançando mesmo com meia dúzia de sugestões.

De 1969 a 1972, quando começa o serviço militar, Luís Pessoa é um activo membro do MDP/CDE, com uma forte ligação à zona oriental e operária do concelho de Loures onde faz grandes amigos, a certa altura integrando o Secretariado do MDP/CDE com, entre outros, Lino de Carvalho e António Ferreira.

Mas voltando aos acontecimentos do dia 25 de Abril, apesar da ideia muito difundida de que o PCP não tinha a mais pequena ideia do que se estava a passar, gostaria de lembrar, com o exemplo de Luís Pessoa, que as coisas não foram bem assim.

É na sua qualidade de militante do PCP, e em ligação com a estrutura militar do Partido, que o tenente miliciano Luís Pessoa faz chegar a Otelo, no principio de 1974, a proposta de participação de “dez companhias comandadas por tenentes milicianos que poderiam vir a estar ao serviço do Movimento das Forças Armadas (MFA)”, com condições que, como conta Luís Pessoa, foram aceites: “Otelo garantiu-me ter como objectivos acabar com guerra, negociar a independência dos países africanos, soltar os presos políticos, mas não sabia bem quando, e legalizar os partidos políticos”.

Com base nesse compromisso Luís Pessoa envolve-se activamente na preparação das operações indicando nomes de militares e civis para tarefas do 25/4, e participando em contactos e reuniões preparatórias como por exemplo:

"A 15 de Abril, no café Califa, em Benfica, Otelo, o capitão Frederico Morais e os tenentes milicianos Luís Pessoa e Miguel Amado encontram-se para planear a tomada da Emissora Nacional".

Três dias depois, a 18/4, em casa do então tenente-coronel (Otelo), Luís Pessoa pedia para ter como objectivo “cercar a PIDE na sede da rua António Maria Cardoso”, em Lisboa. A missão entregue foi outra: “Tens que assegurar que a rádio funciona sempre, com segurança próxima, e homens na ponte e no cruzamento”, é a decisão de Otelo.

Outra ideia muito difundida, a de que o comando militar das forças que intervieram a 25/4 foi exclusivamente assegurado por oficiais do quadro permanente, também não é totalmente correcta. Como se refere atrás Luís Pessoa, na altura tenente miliciano, comanda as duas companhias que saem de Santa Margarida, a coluna de 3 companhias até Porto Alto e a companhia que faz a ocupação da antena do RCP de Porto Alto.

6 comentários:

  1. Justa homenagem ao Luís que, no final de Março ou 1ºos dias de Abril,me comunicou no Sindicato dos Caixeiros os pontos fundamentais do Programa do MFA e me garantiu que, depois do 16 de Março, continuava em marcha o plano para derrubar o regume.

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  2. Post muito útil e oportuno.

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  3. O 25 de Abril foi feito por militares, não tentem mudar a história,

    Certamente haveria alguns militares com posições politicas muito definidas, seja do PCP, seja de outras organizações da Esquerda Revolucionária.

    Mas a verdade é que NENHUM partido dirigiu ou comandou o 25 de Abril.

    Aliás a Marinha onde desde os anos 30 o PCP tinha alguma influência, não participou no MFA e manteve sim uma posição de neutralidade.

    Mas é interessante , SE NÃO FÔR mais uma provocação de mau gosto, a informação de que havia no MFA quem quisesse ocupar a PIDE, coisa que só se verificou como se sabe muitas horas depois.

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    1. De mau gosto são as provocações do "anónimo" Augusto.

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  4. Anónimo das 20:45, se ler com um mínimo de atenção o que está escrito verá que em nenhum lugar se diz ou insinua que o PCP "dirigiu ou comandou o 25 de Abril".

    Quanto ao pedido de Luís Pessoa para ter como objectivo “cercar a PIDE na sede da rua António Maria Cardoso”, não é uma informação nova, aliás tudo o que no post se refere à participação de Luís Pessoa no 25/4 é do conhecimento publico, e publicado, há uns bons anos.

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  5. Na Revista do Expresso de 25/4/2014, à pergunta de Clara Ferreira Alves:
    E a Pide?
    Otelo responde: "Tinha previsto duas companhias que falharam. Uma para Caxias para libertar os presos políticos, e outra para a António Maria Cardoso, sede da Pide"

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