sábado, 25 de setembro de 2010

"Ninguém quer fazer mal aos ciganos em Portugal, mas é verdade que eles nos incomodam; o que a gente queria é que eles não existissem"


Muro de betão isola os cerca de 200 ciganos do bairro das Pedreiras, em Beja


O título deste post é uma citação feita por José Gabriel Pereira Bastos, antropólogo professor na UNL, num notável artigo, “Sobre a questão Cigana”, publicado no magazine Atual do Expresso de hoje, onde diz que “A decisão do Presidente Sarkozy de expulsar os ciganos não é um caso circunstancial, insere-se numa longa história de racismo e ciganofobia”, que não é especifica da França nem da Alemanha, esta última aliás evocada muito a propósito pela comissária europeia da justiça, Viviane Reding, mas ciganofobia comum ao espaço europeu, incluindo obviamente a Portugal.

Não dispondo na altura em que escrevi o post dum link para o artigo (que entretanto ficou disponível, e a que agora pode aceder através do link da citação), e na impossibilidade de o transcrever na totalidade, cita-se aqui um parágrafo que resume a posição da democracia portuguesa face aos ciganos: “constatar cientificamente a existência de uma ciganofobia surda mas retoricamente generalizada e persistente, em Portugal, é remar contra a maré. Se o Parlamento e os Provedores de Justiça não deram por ela; se a audição aos portugueses ciganos, na Assembleia da República, em 2009, era só para fazer um relatório consultável na Biblioteca do Parlamento; se o Episcopado não quer saber, nunca se pronunciou nem nunca se pronunciará, como afirmou publicamente, em Fátima, o director da Pastoral dos Ciganos; se a Esquerda nunca falou disso e se os media alinham por esta maioria silenciosa ou rosnante, quem senão muito fora da realidade poderia vir falar agora de ciganofobia?

Voltando à citação que faz o título do post, é verdade que ninguém defende agora o tipo de "solução" da Alemanha de Hitler, que enviou cerca de meio milhão de ciganos para as câmaras de gás, mas se houvesse assim uma "solução" tipo campainha de "O Mandarim" de Eça de Queiroz, que em vez de, tocada aqui fizesse cair morto um mandarim na China, fizesse desaparecer de vez os ciganos de Portugal, aposto que haveria muita da chamada "boa gente", que não hesitaria duas vezes em tocar a campainha.

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