quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CENAS DA LUTA DE CLASSES
Greve dos controladores e estado de alarme.


A greve dos controladores espanhóis aí está a confirmar aquilo de que por aqui já falámos no post CENAS DA LUTA DE CLASSES ou seja, a relevância política das contradições e lutas a nível da empresa, e o crescente papel do Estado "democrático" no controlo e repressão dos trabalhadores, realidades menos evidentes em períodos de relativa estabilidade, mas que se revelam com toda a crueza em épocas de crise como a que agora vivemos.

Pela primeira vez nos 35 anos do pós franquismo um Governo espanhol, no caso do PS, recorre ao estado de excepção, por lá chamado de alarme, não no âmbito, por exemplo, da luta contra a ETA ou o terrorismo islamista, mas sim contra aquele que é afinal o inimigo principal do sistema, os trabalhadores que não aceitam docilmente as imposições do capital.

Embora a comunicação social, como de costume, tenha sido parca em informar sobre as razões e desenrolar do conflito, enquanto passou horas intermináveis de microfone estendido a ouvir os queixumes de passageiros sobre os transtornos que a greve lhes estava a causar, é já claro que foi o Governo que escolheu o timing, despoletou a provocação (legislação a piorar substancialmente as condições de trabalho dos controladores), e face à sua previsível reacção (greve sem aviso prévio) pôs de imediato em pratica as medidas repressivas previamente planeadas, declarando o estado de alarme e entregando o controlo do espaço aéreo aos militares.

A escolha dum período de grande movimento nos aeroportos para atacar um sector profissional bem pago, e por isso pouco susceptível de merecer a simpatia duma opinião publica condicionada, foi para Zapatero (que faltou à cimeira Ibero-Americana para no terreno dirigir as operações e colher os respectivos louros mediáticos) o contexto ideal para uma intervenção musculada que, com a prestimosa colaboração duma comunicação social submissa, o projecta como um líder corajoso e decido, capaz de defender os direitos do cidadão comum contra um grupo de privilegiados que recorre a formas de protesto à margem da lei. Mesmo lá longe na Argentina, Sócrates apercebe-se rapidamente do que está em causa, e aproveita a primeira câmara de TV que lhe passa à frente para atacar os controladores espanhóis, deixando dessa forma bem claro que está disposto a fazer o mesmo, assim a oportunidade surja.

Duma penada o Governo espanhol não só resolvia de forma expedita um conflito que se arrastava há meses, como lançava um poderoso aviso urbi et orbi da sua determinação em recorrer a todos os meios disponíveis para fazer frente à crescente contestação social decorrente das medidas de austeridade, não hesitando sequer em desenterrar uma medida tão extrema como o estado de excepção, usado por exemplo nos anos 20 pela funesta República de Weimar na sua feroz repressão à classe operária alemã, e a que inevitavelmente Hitler iria também recorrer em Fevereiro de 1933, menos de um mês após tomar posse, para não mais ser levantado. De certo modo, e do ponto de vista jurídico, o regime nazi foi um estado de excepção (ou alarme) que durou 12 anos.

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