sábado, 16 de outubro de 2010

O GRANDE MESTRE DA INTRUJICE

VI ONTEM à noite, em repetição, no canal ARtv (canal Parlamento) a sessão quinzenal que tinha decorrido durante a manhã na Assembleia da República, toda ela relacionada com um prometido, e sempre omnipresente, Orçamento de Estado que ainda não tinha sido entregue à Assembleia, de que se conhecem apenas algumas medidas, mas para o qual o primeiro-ministro exigia uma inequívoca tomada de posição, isto é, se a oposição, mesmo sem o conhecer, aprovava ou reprovava o dito. O espectáculo é o do costume. Brandindo a figura da "crise internacional", já desgastada pelo seu uso indiscriminado, como a responsável pelo estado lamentável a que chegámos, Sócrates dissertou sobre tudo e mais alguma coisa, auto elogiou-se, apelidando de mentirosos e demagogos os deputados da oposição, e trazendo novamente para a área da política, o velho e desgastado jogo dos "tabus" e dos "cheques em branco". A bancada do "seu" PS, como é habitual, aplaude, porém, o chefe do governo não responde a uma única pergunta que os parlamentares lhe dirigem, nem mesmo aos do "seu" próprio partido, comportando-se como um grande e refinado mestre da intrujice, incapaz de gerir uma coisa tão simples como o é o tempo que tem para usar da palavra. A risota na bancada do governo é uma constante, enfeitando esta bandalheira orçamental. A sessão foi tão calamitosa que até deu direito a que fosse denunciado um caso de tráfico de influências, levado a cabo pelo chefe de gabinete do primeiro-ministro, o qual teria oferecido empregos como gestor público, a um deputado, que se queria evitar que concorresse à liderança da distrital de Coimbra do PS. Patético e lamentável, quase inacreditável, são as únicas palavras que me ocorrem.

Uma versão incompleta do Orçamento de Estado, roçando a ilegalidade, acabaria por ser entregue ao presidente Gama, nas instalações da Assembleia, já perto da meia-noite, demonstrando o desprezo, e o quanto de negligência e improviso envolve aquilo a que Teixeiróquio dos Bancos classificou como o Orçamento de Estado "mais importante dos últimos 25 anos".

Henrique Neto, empresário, ex-deputado e dirigente do PS, em comentário publicado no jornal PÚBLICO, classificou este Orçamento de Estado como sendo a aceitação do desastre que tem sido a governação do país na última década, e que o primeiro-ministro acabou por aceitar o desastre da sua própria governação.

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