sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

SÓ ESTÁ DESILUDIDO QUEM SE QUIS ILUDIR


Só o estado de absoluta necessidade (não ser pazokizado por apoiar implícita ou explicitamente um governo pafista do PSD/CDS) levou o PS, pela primeira vez na sua já longa história de partido central do arco do governanço, a assinar os Acordos à esquerda imprescindíveis e incontornáveis para poder ser governo.

Se é certo que para os trabalhadores e o povo miúdo os Acordos foram importantes para travar o desvario neoliberal austeritário de Passos & Cia, para reverter algumas (poucas) das acintosas medidas anti trabalhadores e reformados do governo PSD/CDS, para atenuar um certo sentimento de pessimismo e impotência que então se vivia e trazer-nos uma breve esperança, um ano passado pouco mais há para mostrar.

Com a desculpa (entendível) das imposições de Bruxelas o governo PS prosseguiu a politica de contenção do défice com as conhecidas e desastrosas consequências: unidades de Saúde à beira da ruptura, escolas com falta de pessoal e problemas de instalações, transportes públicos em estado calamitoso, investimento publico mais baixo desde 1951 no tempo do fascismo de Salazar.

Mas, como não era difícil de prever, mesmo em áreas onde o governo podia e devia ter alterado o rumo criminoso do governo PSD/CDS, manteve-se quase tudo na mesma. O governo PS continuou a despejar milhares de milhões nos buracos da Banca, manteve intocáveis as PPPs e outras formas de parasitação do Estado pelos interesses privados (com a honrosa excepção dos contratos com os colégios particulares), não mexeu com um dedo na fascistóide legislação laboral, recusa discutir a renegociação da Divida, e fecha o ano com uma inusitada provocação a pretexto da actualização do Salário Mínimo.

Na Feira de Gado da Concertação Social (Santos Silva dixit), na actualização do Salário Mínimo, o PS foi ainda mais longe do que o governo PSD/CDS ao quase duplicar (de 0.75% para 1,25%) o roubo na TSU, parte integrante da remuneração dos trabalhadores, entregue como prémio ao gado patronal, com a anuência do boi manso chamado UGT.

Com esta provocação o PS não só mostra mais uma vez o que sempre foi, um fiel e dedicado serventuário do patronato e do Capital, como, animado pelos recentes resultados das sondagens, ensaia um claro ultimato à esquerda: ou aceita tudo o que o PS quiser, ou então que rompa os Acordos e abra o caminho a uma maioria (que sonham absoluta) do PS.

Um ano passado sobre a tomada de posse do governo PS a correlação de forças é agora substancialmente mais favorável aos trabalhadores e à esquerda a quem, independentemente das posições de força do PS, compete definir os seus objectivos para esta nova fase da vida politica do país, como aliás o fez com a maior justeza em Outubro de 2015.

Ensina a arte da guerra que não se deixa ao inimigo a escolha do campo da batalha, aos trabalhadores e à esquerda compete definir os terrenos onde nos vamos bater, o que, dada a correlação de forças parlamentar, não será apenas nem sobretudo na AR, mas será seguramente nos locais de trabalho por aumentos salariais e contra a repressão patronal, nos movimentos sociais contra a destruição dos serviços públicos, nas ruas por uma efectiva mudança de politica que não faça de 2017 mais um ano perdido da vida, ou sobrevivência, dos trabalhadores e do povo.

É isto, basicamente, e entretanto tenham todos a fineza de fazer por um Feliz Ano Novo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

EM LOURES O PODER LOCAL DEMOCRÁTICO TEM 42 ANOS


A efeméride que agora se assinala é os 40 ANOS DE PODER LOCAL ELEITO - (1976/2016), facto da maior relevância politica da vida do nosso país. Recorde-se que antes os executivos camarários eram nomeados pelo governo, além de que durante os 48 anos de fascismo não existirem eleições livres.

Não se percebe por isso que, em Loures, em vez do nome das comemorações incluir e realçar as ELEIÇÕES de 1976, se omita esse importante acontecimento atrás duma designação não só enganadora como desprestigiante para os democratas que assumiram os destinos da Câmara de Loures logo após o 25 de Abril.

Democratas que quer pelo seu passado anti fascista quer pela sua pratica à frente dos destinos de Loures são tão ou mais democratas do que os autarcas que lhes sucederam nos últimos 40 anos.

Autarcas que logo após o 25 de Abril em muitos municípios, e nomeadamente na Câmara de Loures, naquilo que é a essência da Democracia, nortearam a sua acção pelo serviço às populações, à resolução dos seus muitos problemas concretos, em permanente diálogo com os munícipes e muitas das vezes com a sua directa participação.

Enfim, um episódio infeliz e desnecessário, este da designação dada às comemorações dos 40 anos das ELEIÇÕES de 1976, por parte dum Executivo que até penso ser o mais coerente continuador do que de melhor José Gouveia e os seus companheiros do período que vai de Maio de 1974 a Dezembro de 1976, de forma democrática, inovadora, e criativa realizaram na Câmara de Loures.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

ESPERO QUE, TAL COMO LENINE, JERÓNIMO TAMBÉM NÃO ACERTE.


Embora tenha sido com alguma tristeza que ouvi Jerónimo dizer, no discurso de encerramento do XX Congresso, que o objectivo que nos anima "possivelmente só será materializado para além das nossas vidas", enfim, é a lei da vida e já muitos dos que nos antecederam e acompanharam na luta contra o fascismo também infelizmente não viveram para ver o 25 de Abril, embora estivessem certos de que esse dia iria chegar.

Mas foi tristeza momentânea pois logo me vieram à memória as célebres palavras de Lenine, muito parecidas com estas de Jerónimo, dirigindo-se a um grupo de estudantes na Suiça, em Janeiro de 1917, pouco antes do seu regresso à Russia em Abril:

"Nós da geração mais velha talvez não vivamos para ver as batalhas decisivas da revolução que aí vem. Mas creio que posso expressar a esperança confiante de que a juventude que trabalha tão esplendidamente no movimento socialista da Suíça e do mundo inteiro terá a sorte não só de lutar, mas também de vencer, a próxima revolução proletária que aí vem".

Que esteja próxima ou mais afastada, que seja ainda connosco ou com os que nos seguirão, o importante é que se faça por isso e que esta comum certeza na materialização da revolução proletária integre e seja a bússola de todos os combates presentes e futuros.