segunda-feira, 20 de abril de 2015

LOURES EM CONGRESSO: MANIFESTO CONTRA (QUASE TODAS) AS CICLOVIAS


Uma grande vantagem, e encanto, de andar de bicicleta é a liberdade de, dentro de óbvias limitações, escolhermos o percurso que mais nos agrada ou convém, quer no "uso quotidiano", para irmos para o trabalho, a escola, às compras, ou encontrarmo-nos com amigos, quer no "uso recreativo" quando a bicicleta é a nossa companheira de agradáveis passeios. Por isso é com grande relutância que encaro a recente moda de construção de ciclovias, a que aderem cada vez mais autarcas ansiosos de apresentarem, entre a sua prolífica "Obra Feita", mais uns quantos Kms de ciclovia.

Claro que há casos em que a ciclovia é o único meio seguro, ou até possível, de permitir o uso da bicicleta, e aí são as ciclovias muito bem vindas. Já quando as ciclovias se destinam a impor caminhos aos ciclistas, a encarneirá-los num percurso decidido por um qualquer burocrata da mobilidade, ou vendedor de ciclovias, os resultados são quase sempre rísiveis, como acontece com a "ciclovia do Teixeira", no meio dum passeio imagine-se, ali na Avenida da Índia em Sacavém, onde até hoje não vi ainda circular uma única bicicleta. Isto já para não falar do dinheiro esbanjado nestes pequenos "elefantes brancos".

Leio agora no jornal de Moscavide e Portela, com alguma surpresa (nunca tinha ouvido falar nisso), haver no concelho de Loures "aprovada uma rede com 217 km de percursos cicláveis", provavelmente uma boa parte em ciclovia, pois diz também o jornal, em titulo, que a tal rede inclui a "criação de uma ciclovia entre Sacavém, Portela e Moscavide". O que até podia ser uma boa ideia se em Sacavém, na Portela e em Moscavide, houvesse, o que não é o caso, ciclistas de "uso quotidiano" que com a construção dessa ciclovia vissem facilitada a circulação entre estas localidades.

O que há no entanto nesta zona do concelho são ciclistas de "uso recreativo", ciclistas de fim de semana, utilizadores habituais da parte ribeirinha da Expo que é provavelmente a zona mais frequentada por ciclistas de recreio de toda a região de Lisboa, e onde, tomem bem nota, não existe NENHUMA ciclovia. O que mostra bem que criar condições para o uso da bicicleta não passa sempre, passa até muito pouco, pela construção de ciclovias.

O mesmo se aplica ao "uso quotidiano" da bicicleta, onde um dos requisitos básicos é a flexibilidade dos percursos, que permitam usar o caminho mais curto para ir de A a B. Por exemplo aqui na Portela para o "uso quotidiano" da bicicleta (que não existe mas que seria positivo promover) optar pelas ciclovias seria ou construir uma ou duas ciclovias, o que era insuficiente, ou fazer uma ciclovia em cada rua, o que seria absurdo.

Mas há uma alternativa melhor. Dizem os especialistas, e a experiência comprova, que para um limite de velocidade de 30 km/h é seguro ter bicicletas a circular misturadas com o tráfego normal, possibilidade que as novas disposições de protecção ao ciclista do Código da Estrada veio reforçar. Ora aqui na Portela (e creio que noutras localidades do concelho de Loures) o limite de velocidade é já hoje de 40 km/h, pelo que bastaria reduzir 10km/h ao limite de velocidade para resolver, sem ciclovias e com poucos custos, o problema do "uso quotidiano" da bicicleta.

Voltando à anunciada ciclovia a ligar Sacavém, Portela e Moscavide, que não se percebe para que serviria, dado não existirem por aqui ciclistas de "uso quotidiano", melhor seria dar prioridade aos ciclistas que de facto existem, os de "uso recreativo", que aos fins de semana vão dar umas pedaladas para o Parque das Nações, e que gostariam de ver melhorada a segurança dos percursos que ligam os lugares de residência à zona ribeirinha. Percursos onde existem diversos "pontos negros" que, a não serem resolvidos, mais dia menos dia ainda podem vir a provocar acidentes graves.

Faço por isso votos que, para além da rede de percursos cicláveis do concelho, se estudem e concretizem medidas que facilitem o uso mais alargado e flexível da bicicleta como meio de mobilidade e de recreio, que levem em conta as condições concretas de cada localidade e respeitem as palavras de Bernardino Soares quando afirma pretender a Câmara de Loures "uma abordagem a novas práticas de mobilidade, mais suaves e alternativas" o que, no que se refere à bicicleta, deverá dar especial ênfase às questões da segurança dos ciclistas, aproveitar e rentabilizar infra estruturas existentes, e não insistir na construção de ciclovias que custam dinheiro e que ninguém usa.

Adenda:
O que a noticia do jornal fala é de 217 km de "percursos cicláveis" que se bem entendo é uma designação genérica que incluirá:
a) as pistas cicláveis propriamente ditas (do tipo e com aquele material da "pista do Teixeira" ver foto);
b) outros tipos de percurso, como por exemplo uma estrada ou rua já existente onde se pintam umas bicicletas no chão e se põem uns sinais verticais,
c) ou simples trilhos de terra batida, como aquele à beira do Trancão que começa em Sacavém e vai pela Várzea adentro.

Obviamente a relutância aqui revelada às ciclovias que só servem para "mostrar obra" (tipo "ciclovia do Teixeira" que se vê na foto) não é extensiva, antes pelo contrário, aos outros tipos de percursos cicláveis, que são geralmente boas soluções para a utilização de bicicletas, quer para "uso quotidiano" quer para "uso recreativo".

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O PUGRESSO É ASSIM


Já houve tempo em que aqui no concelho de Loures se fazia louça, parafusos, detergentes, tinta para pintar paredes, coisas que como todos sabemos os "chineses" fazem agora por um quarto do preço, derivado do que temos de abraçar as novas tendências de fazer pela vida, pôr a criatividade a render, ou então estamos todos feitos ao bife.

Assim foi com esperançosa curiosidade que li, naquele periódico mensal distribuído à borla com o Expresso, que em Loures se está a criar um "novo paradigma de apoio à inovação e ao empreendedorismo de base tecnológica", que basicamente é uma "forma de disrupção, criando mecanismos de crescimento empresarial a partir de" "spin-offs"," "start-ups" e "clusters".

Tudo aquilo "com forte componente de inovação e empreendedorismo", mais o inevitável "fomento de perfis de empresas de alto valor acrescentado", as esplêndidas "parcerias inovação", os cosmopolitas "mentores de internacionalização", os competitivos "serviços coaching" e, last but not the least, o bendito "seed capital" (que deve ser um capital porreiro, como aliás acontece a todo o capital que se preza).

A coisa organiza-se à volta dos "Eixos Estruturantes" que, ao contrario do que está a pensar, não tem nada a ver com a A1 ou a A8, mas que são outros eixos completamente diferentes: o eixo "HUB l&D ClusterLab" (do melhor que se fabrica em clusters), o eixo "Incubadora Negócios" (que deve estar relacionado com o Aviário do Freixial), e mais uns eixos igualmente fascinantes mas de que agora não me recordo os nomes.

Enfim, e muito sinceramente, só faço votos para que a coisa corra pelo melhor, e que todo aquele esforçado e refinado neo liberalês os ajude a conseguir abichar qualquer coisinha dos fundos comunitários que desta vez têm o nome Portugal 2020 e Horizonte 2020, pois como é do conhecimento geral a massa a sério, essa, irá directa para os empreendedores do costume, que nem precisam de fazer "spin offs", "clusters", ou "portfolios", para que os milhões lhes caiam todos no colinho.

domingo, 12 de abril de 2015

Elas vêm aí…



Contava-me recentemente um amigo, que na sua terra natal, a respectiva Presidente da Câmara, fez um magnífico trabalho de incremento da qualidade de vida local. Sem argumentos face ao desempenho da autarquia, com manifesta de qualidade política e intelectual, os adversários da gestão autárquica lançaram uma pérola acusativa: “A Presidente da Câmara fuma em público”.

Ridículo, claro, mas elucidativo de como às vezes vale tudo. E, bem sabemos, temos na vida política local – à falta de outras qualidades - verdadeiros especialistas da maldicência, da intriga, da ínsidia, da chicana, das suspeições.

O Concelho de Loures, conhece bem, um vasto naipe de atoardas, mexericos, mentiras e campanhas, visando autarcas, quer na dimensão política, quer mesmo na dimensão pessoal.

Passado cerca de ano e meio do actual mandato autárquico, o trabalho já realizado pelo executivo municipal conduzido por Bernardino Soares, não sendo perfeito, é globalmente inatacável.

Por isso mesmo, estou em crer que em breve elas vêm aí. Essas mesmo, as intrigas, as ínsidias, as mentiras, as suspeições, as chicanas.

Vêm pé ante pé, sussurantes, insidiosas, por vezes, até mesmo sensuais. Tentam pasto, insinuam-se, experimentam o “parece que…”, o “ouvi dizer…” e outras entradas manhosas, até que consigam alimentar-se da irreflexão ou da ignorância.

A resposta dos autarcas em funções, ao que aí vem, só pode fundar-se numa firme atitude ética:

 
1.       Ter presente que estão a servir a população do Concelho e não qualquer grupo de interesses;
2.       Prosseguir o seu trabalho e executar os compromissos que determinaram a sua eleição;
3.       Estreitar a proximidade aos eleitores, estar sempre disponível para abordar todos os assuntos, informando e esclarecendo, conversando, debatendo e interpretando com humildade democrática as opiniões, advertências, avisos, alertas e aspirações dos munícipes ;
4.       Rodear-se de equipas de trabalho nas quais possam confiar ética e profissionalmente, que não omitam, que não finjam, que não mintam, que não ocultem;
5.       Escutar (e não apenas ouvir) os trabalhadores municipais, que são quem está na primeira linha da execução das políticas municipais e do contacto com os municípes, as instituições, as empresas e todos aqueles que interagem com o Município;
 
Elas vêm aí, mas podem ser derrotadas.

Publicado na edição nº 12 do Notícias de Loures

segunda-feira, 6 de abril de 2015

LOURES EM CONGRESSO: A CIDADE DO ORIENTE.


Falta aqui uma cidade, e é tempo de a começar a construir. Não as ruas, os prédios, as infra estruturas e equipamentos, que esses, na sua maioria, já cá estão. O que faz sobretudo falta é promover ligações, complementaridades e especializações, melhorar a mobilidade interna, contribuir para um todo articulado e coerente, a nova Cidade do Oriente aqui à beira do Tejo e de Lisboa.

Na parte oriental do concelho de Loures que vai de Moscavide a Santa Iria de Azoia, passando pela Portela, Prior Velho, Sacavém, Camarate, Apelação, Unhos, Bobadela e São João da Talha, frente ao Tejo e à sua importante Reserva Natural, vivem mais de 130 mil pessoas numa apertada malha de 36 Km2, um continuo urbano só perturbado pelas muitas vias que a cruzam, criando alguns obstáculos à ligação entre localidades, mas com a vantagem de oferecer o mais denso e importante conjunto de eixos rodoviários do país (A1, Eixo Norte Sul, CRIL, IC2 e acessos à ponte Vasco da Gama), a que se juntam as linhas ferroviárias do Norte e suburbana, a linha vermelha do Metro e o Aeroporto da Portela.

Mas tão importante como a riqueza do território, as suas infraestruturas, o número de habitantes ou a proximidade à capital, é a sua marcada identidade. Terras de gente de trabalho, de tradição operária mas também com uma significativa presença de pequenos comerciantes e artífices, de funcionários públicos e empregados de serviços (agora maioritários). Terras de acolhimento de várias e sucessivas levas de migrações, do Alentejo e das Beiras nos anos 50 a 70, depois de África, e mais recentemente do Brasil e países do leste. Terras de quem para aqui veio em muitos casos fugido à fome, à opressão e violência, de gente que resistiu ao fascismo, se empenhou no 25 de Abril, e que não desiste de lutar por uma vida digna e por um futuro melhor.

Vem isto a propósito de Loures em Congresso onde, entre outras coisas, se irão discutir e definir estratégias para o futuro do concelho. Pois o que aqui se propõe é que para a parte oriental do concelho de Loures a estratégia de desenvolvimento e de futuro seja construir a cidade do Oriente. Estratégia em que o objectivo nada tem a ver com a obtenção dum qualquer estatuto administrativo, mas sim o de contribuir para melhorar a qualidade de vida nesta parte do concelho de Loures.

Estratégia a concretizar com medidas como qualificar o espaço publico, suprir insuficiências em equipamentos e serviços e de mobilidade, promover laços de proximidade, realçar os traços identitários, valorizar a diversidade, solidariedade e cooperação entre gentes e gerações. Medidas que olhem para a actual realidade não apenas como localidades próximas, mas como um todo cada vez mais integrado.

Medidas de desenvolvimento que não caiam na lamentável concessão, à empresas, de benefícios, incentivos, e outras "facilidades", que muitas vezes resultam apenas (quando resultam) num efeito temporário, com os "beduínos" que delas aproveitam passado algum tempo a levantar a tenda e ir parasitar para outro lado, deixando atrás um rasto de desemprego e desolação. Medidas de desenvolvimento que, ao contrário, se devem centrar na qualificação do território e das pessoas, tornando por essa via mais atractiva a decisão de aqui localizar empresas, serviços e projectos, de criar mais empregos mais perto dos locais onde vivemos.

Construir a nova cidade do Oriente, multipolar, não hierárquica, autónoma, atractiva e aberta ao exterior, não é um acto administrativo que se decreta num dia e entra em vigor no dia seguinte, nem algo que esteja apenas dependente do poder politico, da Câmara de Loures. É um objectivo que necessita de discussão alargada, dum amplo consenso, e do empenhamento de quem aqui vive e que aqui gostaria de viver ainda melhor. Que o Congresso em Loures, a decorrer até Junho, seja o local para esse debate, são os meus votos.