segunda-feira, 6 de junho de 2011

EM ELEIÇÕES NÃO GANHA O MELHOR, GANHA O QUE TEM MAIS VOTOS.


Uma das primeiras votantes da mesa onde estive foi uma jovem na casa dos oitenta, ar jovial e enérgico, que depois de votar fez questão de nos dirigir algumas palavras simpáticas despedindo-se com um: bom trabalho e que ganhe o melhor. Ao que um dos membros da mesa, com algum humor, respondeu que em eleições quem ganha não é necessariamente o melhor, mas o que tem mais votos.

Votos que, nestes tempos de crise, são cada vez mais escassos. Ontem o PSD ficou-se pelos 22,75% e o CDS pelos 6.91%. No conjunto os dois partidos que vão ter a maioria na Assembleia da Republica e formar Governo não chegaram sequer aos 30% dos votos do total dos eleitores inscritos.

Claro que esta crescente escassez de votos nos vencedores das eleições (recorde-se que Cavaco foi eleito por 23,15% dos eleitores inscritos), não retira qualquer poder aos órgão saídos destas eleições, mas convirá tê-los presentes face ao discurso de políticos e opinadores que já estão a usar os números dos votos expressos (no caso 38,63% e 11,74%) para tentar calar as vozes do descontentamento. Vozes e protestos dos que não se irão calar na sequência destes resultados eleitorais, como não se calariam, e com toda a legitimidade, mesmo que os resultados tivessem sido muitíssimo mais expressivos.

As eleições democráticas não são uma forma de dar razão a uns e retirá-la a outros. Fiquem lá com o Governo e a maioria da AR que nós ficamos com o direito de democraticamente continuar a lutar por um país mais justo, com menos desigualdade, desemprego e precaridade. De continuar a defender o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, e a Segurança Social. De continuar a exigir o respeito pelos direitos e dignidade de quem trabalha.

Ah, e não repitam a arrogância e autoritarismo de Sócrates (que como era inevitável mais cedo ou mais tarde lhe acabaria por ser fatal), para virem exigir a submissão incondicional aos desvario neo liberais do programa do PSD, nem, obviamente, às medidas desastrosas da troika com que tão alegre e irresponsavelmente se comprometeram.

6 comentários:

  1. Quando se fala de abstenções é preciso não esquecer os 900.000 falecidos que repousam em paz nos cadernos eleitorais. Também acho que quem perde deve tentar perceber por que é que não soube convencer os votantes em vez de se queixar do árbitro, como fazem no mundo da bola.

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  2. Acabo de constatar que o meu comentário vai ser sujeito à censura prévia. Não esperava isso aqui. Nunca o pratiquei e não gosto.

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  3. Penim,
    Eu também não gosto da moderação prévia nos comentários dos blogs, mas é mais uma consequência das democracias a que estou sujeito, no caso da maioria dos escribas deste blog. O que não me obriga nem a gostar, nem a esconder que não gosto.

    Concordo que os cadernos eleitorais têm gente a mais, mas nada da ordem dos 900 000. Não acho que seja essa a explicação para os elevados níveis de abstenção registados, acho que no essencial reflectem de facto elevados níveis de abstenção. A que há depois que somar os também muitos votos nulos.

    Não percebo de que árbitro é que achas que me estou a queixar (os votantes são "jogadores"), embora aceite que me possam, eventualmente, acusar de mau perder.

    Também concordo "que quem perde deve tentar perceber por que é que não soube convencer os votantes". Vou primeiro ouvir o que os ditos têm a dizer sobre isso, e depois talvez faça também por aqui um post.

    Na sequência da ultima eleição presidencial temos por aqui no blog alguns posts onde se "tenta perceber", por exemplo:

    A Essência da Pólvora: ISTO DAS ELEIÇÕES É COMO FAZER AMOR Somos todos muito bons, uns verdadeiros especialistas; se a coisa corre mal a culpa só pode ser dos outros.

    A Essência da Pólvora: Parece que o Povo não se empolgou com o apelo ao patriotismo, nem se rendeu ao charme do membro da CP do CC do PCP.

    A Essência da Pólvora: Então as eleições não podem também ser luta de massas? Estão condenadas a ser sempre o quê? Luta de pizzas?

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  4. Brissos, eu sei que há muita gente que se abstém mesmo. Até penso que se um dia essas pessoas todas resolveram votar o panorama eleitoral pode mudar radicalmente. O que eu não sei é se, nessas circunstâncias, muda para melhor. O árbitro é aquela entidade mítica a que nós recorremos quando queremos relativizar uma derrota, só isso.

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  5. Penim, a ideia do post não é relativizar esta derrota eleitoral, mas apenas reafirmar que acho que há mais vida para além do 5 de Junho.
    Claro que é importante tentar perceber como chegámos aqui, mas esse não era o tema do post. Até porque sou dos que não têm soluções para coisas tão complicadas.
    Apenas estou convencido de que se as procurarmos talvez as acabemos por encontrar, às soluções, digo eu.

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  6. Gostei da foto: à vezes apenas um, no caso uma a Vanessa Fernandes, pode ser melhor do que todos os outros juntos.

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