terça-feira, 28 de junho de 2011

A COMPRA DA VARIAN E A VENDA DA TAP
O interesse de quem comprar a TAP vai ser apoderar-se dos seus clientes.


Revelando um cinismo sem limites (recuso-me a admitir que possa ser tamanha a ingenuidade) o Governo anuncia agora que a venda da TAP será feita com um conjunto de condições que irão assegurar no futuro a sua continuação como companhia de bandeira.

Isto traz-me à memória uma cena ocorrida nos idos de 1977 quando a fabricante de mainframes SPERRY UNIVAC (hoje UNISYS), onde trabalhava na altura, comprou a VARIAN, pioneira dos então chamados mini computadores, máquinas tecnologicamente avançadas e que já prenunciavam a grande viragem da informática a que iríamos assistir na década de 80.

Como trabalhadores duma empresa que entre outras coisas se orgulhava de ter construído o primeiro computador comercial (o UNIVAC-I, sucessor do ENIAC), ficámos entusiasmado com as perspectivas que aquela aquisição abria para o futuro.

Uns dias após o lançamento com grandes fanfaras e promessas de futuro radioso para os mini computadores VARIAN (que passaria a desfrutar de todas as vantagens de ter sido adquirido por um líder do mercado), fui convocado para uma reunião em Paris onde, pensava eu, iria ser apresentada e discutida a integração daquele produto nas linhas da empresa, nomeadamente o aproveitamento de algumas das suas impressivas inovações tecnológicas para futuros equipamentos.

Nada mais longe da realidade. O que de facto lá se tratou foi de começar a preparar a migração dos programas e aplicações da VARIAN para o modelo UNIVAC-80, tecnologicamente mais atrasado e até aí de reduzido êxito comercial, de forma a criar condições para que os numerosos clientes dos modelos VARIAN pudessem no futuro, com um mínimo de problemas, substituir os seus equipamentos pelos da UNIVAC.

Não se iriam desenvolver novos modelos do VARIAN, e nem sequer se iria aproveitar a sua tecnologia de ponta para futuros produtos. O VARIAN tinha sido comprado para morrer. O interesse da UNIVAC era exclusivamente a sua base de clientes. Quando comprou a VARIAN, foi isso que comprou, os seus clientes.

Depois daquela experiência ao vivo e em directo, vi repetir-se vezes sem conta, nos mais diversos países e sectores de actividade, este tipo de cena canalha, a canibalização de produtos, empresas, ou ramos inteiros duma economia, com o correlativo despedimento de centenas ou milhares de trabalhadores.

No fundo boa parte da história da economia portuguesa pós adesão à Comunidade/União Europeia é uma série ininterrupta de versões, sem tecnologia de ponta, da história da VARIAN.

Mais cedo ou mais tarde, quase de certeza mais cedo do que tarde, a TAP terá também o mesmo destino do VARIAN. O interesse de quem a comprar agora, ou de seguida, vai ser apoderar-se dos clientes da TAP, actuais e potenciais passageiros. O resto, as tais condições de que fala o Governo, é conversa para boi dormir.

1 comentário:

  1. Na Sperry Univac os modelos do Varian foram comercializados como Série V77: V77-200, 400, 600 e 800. Em Portugal não se vendeu nenhum V77, mas do que me lembro havia um ou dois Variam anteriores a 1977. Alguém se lembra?

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