O Presidente da República, professor Cavaco Silva, em visita a Castelo Branco para as comemorações do 10 de Junho, incitou os portugueses a empenharem-se nos desafios que têm pela frente, recorrendo a uma frase de um médico célebre do século XVI, João Rodrigues de Castelo Branco, conhecido como Amato Lusitano, o qual teria sentenciado que “não há cura para aquele que não quer ser curado”.
Penso que quando Cavaco Silva pede empenho aos portugueses, está sobretudo a pedir aos mais vulneráveis e de fracos recursos, que aceitem a prescrição de mais austeridade, e a nova dose de sacríficios que se avizinham, como se estes remédios fossem o tratamento adequado para a tal doença de que o país padece.
Ora, penso que o Presidente escolheu mal a comparação e o destinatário do pedido de empenho. Esta doença está instalada no país, não porque os portugueses sejam portadores dela, e andem a espalhar a enfermidade, mas sim porque quem nos tem governado, em vez de aplicar a profilaxia adequada ao seu combate, tem andado a ajudar à sua propagação, não só da estirpe genuinamente portuguesa, mas também daquela que veio de fora, e que agravou ainda mais a contaminação. Portanto, assentemos ideias: o país está em muito má situação económica e financeira, à beira da bancarrota, porque quem andou a gerir a coisa pública, não soube fazer diagnósticos, é incompetente, negligenciou, trocou os medicamentos, deliberadamente ou não, e deixou que a epidemia infectasse todo o tecido económico e social. Aplicada às circunstâncias actuais, a frase inspiradora deveria ser mais exactamente esta: não há cura para a doença quando se está a aplicar o remédio errado.
Adenda - Curiosamente, o próprio Presidente da República, se fosse levado a sério nas coisas que diz, teria dado um exemplo de errada prescrição medicamentosa, quando disse na aldeia de Alcongosta, que as cerejas fazem bem a tudo, e até são boas para os calos. Qualquer boticário que se preze, se não ficasse escandalizado, pelo menos não esconderia um sorriso de desdém.
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