segunda-feira, 20 de junho de 2011

OS GRILOS DA NAÇÃO
E a minha curiosidade em ver como Nuno Crato vai descalçar esta bota.


Confesso que tenho pouca pachorra e menor apreço pelos Medina Carreiras e Marinho Pintos cá da praça, e que de toda esta extensa e nutrida fauna, aquele que ainda leio e ouço com interesse é o agora nomeado Ministro da Educação Nuno Crato. Não só os seus escritos e intervenções de divulgação da Matemática, que recomendo a todos, como até os da sua cruzada contra o eduquês que, de forma acutilante e muitas vezes certeira, denuncia algumas das deficiências e dificuldades do ensino que temos.

O problema é que o fulgor da critica não é acompanhado nem pelo rigor da análise, nem pela apresentação de alternativas credíveis.

Como é típico dos grilos da nação, para o Professor Nuno Crato todos os males do ensino em Portugal radicam na aplicação de ideias erradas, segundo ele associadas a uma certa esquerda idealista e irresponsável, e a solução está em substituir as ideias erradas do eduquês pelas ideias certas do retorno à autoridade, exigência, mérito e outros chavões tão queridos aos ouvidos dos saudosos duma idade mítica que na realidade nunca existiu.

Como é que o Professor Crato vai desfazer o nó da contradição entre as suas ideias certas e a realidade dum ensino democrático e inclusivo que carrega às costas muitos dos problemas duma sociedade cada vez mais desigual, duma escola onde inevitavelmente se reflectem os problemas de carência, precariedade, desemprego e super exploração, duma dura realidade que nos deixa, no final de cada dia, sem aquele mínimo de disponibilidade intelectual e afectiva para acompanhar e apoiar o dia a dia dos miúdos. Como é que Nuno Crato vai fazer o salto do reino das ideias certas que defende para o mundo concreto de professores, pais e alunos é coisa que me deixa deveras curioso.

Para bem de todos nós só lhe posso desejar o maior sucesso a corrigir o que está mal e a melhorar o que está bem e, fazendo eu agora de grilo do novo Ministro, dizer: Não caia na patetice de muitos dos seus antecessores, de tudo querer mudar duma assentada, receita inevitável para que tudo fique ainda pior. Ah e tenha sempre presente que muito do que sabemos nos foi ensinado por professores (como o senhor) que, com bons ou maus ministros, continuam, na sua grande maioria, a fazer um trabalho que, seguramente, a Nação tem muito a agradecer.

4 comentários:

  1. Camaradas.
    O professor Crato fala muito. Não é difícil concordar com ele na questão do eduquês. Nem com ele nem com os milhares ou dezenas de milhar de professores que desde 1970 vêm a angustiar-se com as reformas do ensino e o exprimiram com conhecimento de causa mas menos brilho mediático.
    Camaradas, esta é por unanimidade.
    Agora, o mais difícil. Explicar por que é que ideias erradas, que manifestamente contribuiram para o empobrecimneto do capital humano e nos ajudaram a chegar onde estamos... por que é que estas ideias erradas triunfam sempre e com maior energia?
    Isso é que eu gostava que o professor Crato, a professora Mónica e todos os outros mestres do saber, explicassem aqui ao macaco...

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  2. Oh macaco, desde 1970 temos vindo a progredir não a regredir. Em 1970 poucos tinham acesso à educação, agora todos têm (se a aproveitam ou não é outra coisa). Até a OCDE diz isso. Mas agora é preciso ter ideias para fazer melhor as coisas e, num debate televisivo que vi, apesar de o Mário Crespo perguntar repetidamente como fariam, nem Nuno Crato nem Medina Carreira nem Guilherme Valente conseguiram dizer uma só frase sobre como organizar (melhor) a escola. O deserto de ideias pode ser trágico!

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  3. Parece que Vossência está de acordo com aqui o macaco, num ponto:
    ELES NÃO EXPLICAM...!

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  4. ts, ts, ts
    um "camarada" a preocupar-se com a qualidade do "capital humano" que a escola forma?
    camarada de quê e de quem?

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