quarta-feira, 19 de março de 2014

A PRIVATIZAÇÃO DA VALORSUL, A GREVE DO LIXO, E A FACTURA DA ÁGUA.


No terceiro dia da Greve da Valorsul contra a privatização da empresa, começam a ser visíveis os efeitos negativos da paralisação, e a situação não será provavelmente pior graças à compreensão da população, na sequência do apelo da Câmara de Loures para que no período da Greve se evite colocar o lixo nos contentores ou na via publica.

É natural que os incómodos causados à população pela falta de recolha de lixo se agravem amanhã e depois, mas nunca será demais referir que os principais interessados na luta contra a privatização da Valorsul são os munícipes de Loures, Lisboa, e dos outros 17 concelhos da região norte de Lisboa, que utilizam os serviços da Valorsul.

Quando se fala dos serviços da Câmara de Loures, uma das questões que invariavelmente vem logo à baila é o elevado valor que pagamos na factura da água que, como sabem, inclui não só o pagamento do abastecimento de água, como a recolha do lixo e as águas residuais.

Apesar de, no que toca ao lixo, a Valorsul, ter um dos preços mais baixos no país. Para dar uma ideia enquanto as câmaras pagam 20 euros por tonelada de lixo entregue à Valorsul, aqui mesmo ao lado a Tratolixo, que serve Cascais, Mafra e outros concelhos da zona oeste cobra 70 euros por tonelada, três vezes e meia mais do que a Valorsul.

Acresce que apesar do baixo preço praticado, a Valorsul ainda dá lucro ao Estado e às câmaras accionistas (6,4 milhões de euros em 2013), o que ajuda a compreender a razão da ânsia do Governo PSD/CDS em privatizar a Valorsul. Não é por a empresa dar prejuízos ou ser ineficiente mas, pura e simplesmente. para entregar mais um negócio rentável aos privados.

Também não será difícil entender que, no caso da privatização da Valorsul ir para a frente, rapidamente os preços cobrados às câmaras irão aumentar, o que inevitavelmente se irá reflectir no aumento do valor, já elevado, que mensalmente pagamos na factura da água.

quarta-feira, 12 de março de 2014

MANIFESTO DOS 70
Acerta em muitos sintomas, mas não faz diagnóstico, e insiste que paciente continue a ser tratado por quem o pôs à beira da morte.


É verdade que o Manifesto diz muita coisa acertada, e óbvia, mas coíbe-se de fazer o diagnóstico (por exemplo de que não há solução para a economia portuguesa dentro desta moeda única), e propõe como interlocutores para a reestruturação da Dívida precisamente aqueles que mais contribuíram para o seu acelarado crescimento (de 94% para 129%) nos últimos dois anos e meio: as instituições europeias, leia-se Comissão, Eurogrupo, BCE, e Merkel obviamente.

Embora possa ter alguma utilidade virem agora mais estes 70 propor a reestruturação da Divida (que não é o mesmo que renegociação e em termos que só prolongariam a agonia), não é caso para ninguém se indignar por não terem convidado pessoal de esquerda para o Manifesto. Fartos estão os 70 de saber que a Renegociação que a Esquerda há muito defende pouco tem a ver com este gato, ou coelho de capoeira, por lebre que agora, em vésperas de eleições, nos querem impingir.

Ver aqui: Texto integral do Manifesto dos 70 

terça-feira, 11 de março de 2014

MANUEL DA FONSECA
15/10/1911 a 11/3/1993


No dia em que passam 23 anos sobre a morte de Manuel da Fonseca transcrevo um post de Carlos Caevalho no FB, seguido duma curta evocação minha.

CARLOS CARVALHO

Manuel da Fonseca, o homem, o intelectual, o escritor, o COMUNISTA. Lembramo-lo hoje, 11 anos após a sua morte! OBRIGADO CAMARADA!

Personalidade cativante, Manuel da Fonseca nasceu em Santiago do Cacém a 15 de Outubro de 1911, no seio de uma família da pequena-média burguesia de província.
Originário de Castro Verde, o avô paterno, de raízes camponesas, estabelecera-se como ferreiro nesta vila próxima da costa alentejana, para escapar a perseguições motivadas por razões sociais e políticas.

O pai, que se tornaria empresário, era pintor autodidacta, grande conversador e contador de histórias.
Oriunda de uma família miguelista com ascendência espanhola, a mãe era filha de farmacêutico.
Ambas as casas, a dos avós maternos e a dos paternos, proporcionaram a Manuel da Fonseca o primeiro convívio com os livros.
Na biblioteca do avô paterno viria a descobrir obras de Garrett, Victor Hugo, Zola, Eça e mesmo O Capital, de Marx.

Após a morte do irmão mais novo, que marcou dolorosamente a sua infância (leia-se o conto «O primeiro camarada que ficou no caminho», de Aldeia Nova), os pais vão viver para Lisboa, ficando Manuel da Fonseca entregue aos avós.
Por volta de 1923, e a fim de prosseguir os estudos secundários, junta-se à família em Lisboa, regressando à vila natal por ocasião das férias escolares.
Frequenta várias escolas e, em 1926, no Liceu Camões é colega de Álvaro Cunhal, dois anos mais novo.

No final dos anos vinte e sobretudo na década de trinta, é a época em que Manuel da Fonseca publica os seus primeiros textos literários na imprensa (principalmente em O Diabo, espaço de divulgação por excelência dos neo-realistas) e, em simultâneo, procura garantir a sobrevivência numa capital cujos encantos aprende a descobrir – e cujos dramas retratará, mais tarde, em livros de ambiência urbana como Um Anjo no Trapézio (1968), Tempo de Solidão (1973), O Vagabundo na Cidade (2000, textos inicialmente publicados em 1967-68) e Pessoas na Paisagem (2002, crónicas vindas a lume entre 1963 e 1971).

Praticante entusiasta de desporto (chegou a jogar futebol nos iniciados do Sporting; praticou esgrima, ténis, equitação, toureio e automobilismo; venceu, inclusive, um campeonato nacional de pesos médios em boxe), Manuel da Fonseca preza, sobretudo, o convívio com companheiros de boémia – que cultivará como ninguém e lhe franqueará as portas das tertúlias de escritores e artistas que, pelos cafés da baixa de Lisboa, em finais dos anos trinta, estão na origem do movimento neo-realista: Redol, Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, Pavia, Abel Manta, Lopes-Graça e outros.

Mais tarde, relacionar-se-á com o grupo de Coimbra – Joaquim Namorado, João José Cochofel, Carlos de Oliveira, Fernando Namora – que, em 1941, lhe edita o segundo livro de poesia, Planície, na emblemática colecção «Novo Cancioneiro», com a qual o Neo-Realismo português consubstancia, em poesia, um ideário estético a que subjaz um «novo humanismo», ou seja, um posicionamento ideológico perante o mundo, de raiz marxista e antifascista, solidário com os deserdados da vida.

Antes, Manuel da Fonseca frequentara a Escola de Belas Artes, mas começa entretanto a trabalhar.
Com uma estabilidade laboral problemática, conhecerá, ao longo da vida, os mais diversos empregos.
Como escreve Luísa Duarte Santos, «Faz e refaz a sua vida. Muda de lugares. Muda de amores. Muda de empregos. Precisava de ócio, o ócio essencial ao artista e ao processo criativo».
Dos arquivos da PIDE/DGS, já por volta dos anos sessenta, «constam informações de que tem a profissão de escritor e que vive exclusivamente dos rendimentos do seu trabalho».

Para melhor se entender a personalidade de Manuel da Fonseca – tanto o percurso do intelectual lutador, comprometido com as questões candentes do seu tempo histórico, como a sua condição de protagonista do Neo-Realismo português –, importa no entanto salientar outros traços, no campo da intervenção política, habitualmente relegados para segundo plano por críticos e entrevistadores, designadamente a sua fidelidade ao ideal comunista.

Os primeiros contactos de Manuel da Fonseca com o PCP datam dos anos trinta, ou seja, de um tempo de juventude em que encetava um convívio, que se tornaria profícuo, com figuras ligadas às artes, às ciências e à vida política, como Bento de Jesus Caraça, o arquitecto Keil do Amaral, os pintores Maria Keil e Pavia, o escritor e crítico musical Manuel de Lima e homens de letras como Ferreira de Castro, Mário Dionísio, Armindo Rodrigues, Redol.

Militante comunista desde os anos quarenta, integra o colectivo partidário numa fase decisiva da história do Partido – a da Reorganização de 1940/41 e dos III e IV Congressos (o I e o II ilegais), realizados respectivamente em 1943 e 1946 –, coincidente com o reacender da luta clandestina e da mobilização das massas contra o fascismo, com especial incidência no Alentejo e nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo.
Ou seja, um período em que boa parte dos quadros de direcção formados nos anos da Reorganização provinha da classe operária e se forjava na intervenção directa em lutas de massas (5), e no quadro de uma dinâmica que passou igualmente pela juventude e pela intelectualidade comunistas.

Como escreve Manuel Gusmão, «a primeira metade da década de 40 exemplifica uma tendência que marca a história do PCP: é nos momentos em que cresce (se amplia, se aprofunda) e se renova a influência orgânica na classe operária que cresce também a influência entre os intelectuais.
Esta tese pode formular-se também assim: não há qualquer incompatibilidade, antes há uma correlação efectiva, entre influência operária e influência intelectual.»
A actividade política de Manuel da Fonseca não cessou com o fim da resistência ao fascismo após o 25 de Abril. Continuou a ser um homem e artista interveniente, quer no seio dos intelectuais comunistas, e não só, quer, por exemplo, como candidato da CDU por Setúbal, em 1983, nas eleições legislativas desse ano.

Gostaria de registar as sua principais obras, Cerromaior, Aldeia Nova , «O sete-estrelo», «Viagem», «Nortada» e outras histórias, Fogo e as Cinzas, Seara de Vento, O vagabundo na cidade, Um anjo no trapézio, etc."



J EDUARDO BRISSOS

Conheci Manuel da Fonseca, ou mais propriamente alguns dos seus contos e poemas, via Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, aos onze anos, numas longas férias de Verão passadas no Cercal do Alentejo, freguesia do seu Santiago do Cacém.

Uns poucos de anos mais tarde (para ai em meados dos 60) quando no Atlético de Moscavide organizámos um ciclo de colóquios com escritores e jornalistas, não só propus que o convidássemos como me calhou a mim contactá-lo.

La consegui o telefone do escritório onde trabalhava, e depois de explicar à senhora que me atendeu que desejava falar com o escritor Manuel da Fonseca, num tom que certamente indiciava a minha total e incondicional admiração, a senhora, sem sequer me responder, dá um berro lá para não sei onde: Oh senhor Fonseca, é para si.

Combinámos o que havia para combinar, e no dia acordado, um pouco atrasado, com ar afogueado e boné, ali estava a cumprimentar aquele grupo de operários fabris e jovens suburbanos, como se se tratasse de velhos e estimados companheiros de letras.

Falou-se de alguns dos seus livros, do seu Alentejo, a que muitos de nós também estávamos ligados, da vida nas fábricas, da esperança num futuro melhor.

Nunca mais me cruzei com ele mas sempre que leio um dos seus livros é como se o Manuel da Fonseca, com quem passámos aquele serão há quase cinquenta anos, ali esteja a meu lado, no seu jeito simples e directo de falar, mais uma vez encantar-me com a sua absoluta magia de poeta contador de estórias.

quarta-feira, 5 de março de 2014

JANTAR DE GALA À PALA DOS POBREZINHOS


A Obra Diocesana de Promoção Social do Porto decidiu comemorar os 50 anos de existência e. vai daí, realizou no passado dia 7 de Fevereiro no Palácio da Bolsa do Porto um Jantar de Gala, onde obviamente não houve lugar para nenhum dos pobrezinhos da dita Obra, como pode constatar pelas fotografias do Banquete: http://bit.ly/1jRPyno

Mas o melhor é darmos a palavra ao nosso amigo Padre Mário Pais de Oliveira:
"O momento alto veio a ser o jantar comemorativo dos 50 anos, realizado no dia seguinte ao da missa. Um jantar de gala, pois então. Bem longe dos bairros degradados do Porto, por onde a ODPS estende a sua hipócrita acção de caridadezinha e de “promoção” da pobreza. Para isso foi criada. Não para acabar com a pobreza, mas para a promover. Os ricos precisam de obras assim, para descarregarem a consciência e, cada noite, dormirem descansados. Sabem que os pobres que produzem jamais se rebelam contra este tipo de mundo, enquanto houver obras como esta, administradas por cristãos ricos que, assim, aparecem aos olhos dos pobres, como seus benfeitores e não como os seus fabricadores. A comprovar a verdade do que aqui acaba de ser escrito, diga-se que o jantar decorreu no Palácio da Bolsa. Sim, Palácio da Bolsa. Não há engano. A missa, foi na Sé Catedral do Porto. E o banquete não lhe quis ficar atrás e foi degustado no Palácio da Bolsa. Bem longe dos pobres da diocese, condenados a ter de viver em bairros degradados, ou assim, assim. Bairros de habitação social. Que estigmatizam quem neles vive, tal como o Palácio da Bolsa enobrece quem o frequenta. Cada um no seu lugar, pois então. Os ricos, no Palácio da Bolsa. Os pobres, nos Bairros de habitação social. Tudo nos conformes, tal como a Diocese, com os bispos no palácio episcopal e no topo do interior da catedral, e todos os outros diocesanos, a seus pés."

Adenda

O QUE FAZ FALTA É PASSARMOS À CONTESTAÇÃO E AO PROTESTO.


Em poucos dias este post no Facebook já vai em cerca 700 partilhas, o que é caso raro para posts desta natureza. O mérito vai todo para as palavras do nosso amigo Padre Mário Pais de Oliveira, autor do excerto que retirei dum seu escrito mais longo sobre as comemorações dos 50 anos da ODPS, e para o autor das fotos (ver álbum completo aqui: http://bit.ly/1jRPyno ) que, provavelmente com intenção diversa, acaba por nos brindar com uma galeria antológica de imagens de "fabricadores de pobres" promotores da caridadezinha.

A atenção que o post está a merecer é um bom sintoma de que ainda não perdemos a capacidade de nos interessarmos e indignarmos. O que é preciso é não ficarmos apenas pela indignação e repulsa, o que faz falta é passarmos à contestação e ao protesto.

E para fazer ouvir as nossas vozes não faltam oportunidades, desde a participação nas múltiplas e variadas acções com que diariamente vamos tentando resistir ao roubo e destruição impostas por esta gentinha demente e criminosa que nos desgoverna, às comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril, ou às eleições Europeias onde ninguém se deve abster de expressar a sua veemente condenação às politicas ruinosas da troika PS, PSD, e CDS.

FB 5/3

sábado, 1 de março de 2014

CÂMARA DE LOURES: PARECE QUE NESTE CASO FOI O LADRÃO QUE DEU EM FRADE.



Diz um ditado popular que quando um frade e um ladrão se juntam, ou o ladrão dá em frade ou o frade dá em ladrão, sendo esta ultima hipótese a mais provável.

Terá sido talvez este o raciocínio que, no passado Outubro, fizeram muitos daqueles que condenaram o acordo da CDU com o PSD para a gestão da Câmara de Loures.

Preocupações que se adensaram com a nomeação de Fernando Costa, PSD, para a Administração da Valorsul, conhecido que já era o plano do governo PSD/CDS para a privatização daquela empresa.

Contudo, passados alguns meses, o que vemos é Fernando Costa ir ao Congresso do PSD manifestar-se contra a privatização da Valorsul o que, com o devido respeito para Fernando Costa (o ladrão nesta estoria é o PSD), me leva a concluir que neste caso, ao contrário do que será habitual, não foi o frade que deu em ladrão, mas o ladrão que deu em frade.

FB 1/3/2014