segunda-feira, 28 de maio de 2012

A Náusea Indescritível


«Depois de ter defendido mais tempo e mais dinheiro para a Grécia, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, disse, numa entrevista ao GUARDIAN em que deixou claro que não não tenciona suavizar os termos do pacote de austeridade para aquele país, estar mais preocupada com as crianças da África subsariana do que com os pobres da Grécia.

Para Christine Lagarde, se as crianças gregas estão a ser afectadas pelos cortes na despesa pública, os pais têm de assumir a responsabilidade: “Os pais têm de pagar os seus impostos”, disse.
(...)»

Excerto da notícia do jornal PÚBLICO de 27 de Maio de 2012

Meu comentário: Christine Lagarde, dizendo o que diz e fazendo o que faz, é a pessoa certa para o lugar que ocupa, isto é, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), organização internacional que diz assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial, através da monitorização das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, de assistência técnica e financeira, e que no caso português manda baixar os "altos" salários dos trabalhadores, como remédio para a recuperação económica, e como pérfido instrumento de combate ao desemprego. No seu já longo historial de "assistência", o FMI não esconde a sua hostilidade e convive mal com os direitos humanos e o mundo laboral, impondo severas medidas de contenção nos investimentos e gastos públicos, considerando-os puro desperdício. Por isso, não regateia subtil e solícito apoio financeiro às ditaduras, ao passo que com as democracias, as receitas são geralmente draconianas e rigorosas. Em resumo: mãos largas com as ditaduras, agiotas somíticos e inflexíveis com as democracias. Bombeiro para as ditaduras, polícia para as democracias.

Por isso, quando Christine Lagarde insiste que devem ser os pobres a pagar impostos, é porque está fora de questão acabar com as "máquinas de lavagem de dinheiro", com as "offshores" e outras espécies de paraísos fiscais, colectar os lucros pornográficos da banca e do capital financeiro, os rendimentos da especulação bolsista e os dividendos, no fundo, esses sim, os verdadeiros clientes do FMI. Quando se trata de trabalhadores, de quem paga impostos, de quem sofre com as medidas de austeridade, causadoras das carências das crianças gregas, e de quem é vítima das arrasadoras “terraplanagens” do FMI, é natural que Christine Lagarde fique insensível. Apenas fica condoída com a miséria infra-humana, a perder de vista, das crianças subsarianas, fingindo ignorar que no fundo, elas são apenas e não só, mais um dos produtos finais das famigeradas intervenções do FMI. Por tudo isto, Christine Lagarde é uma pessoa pouco recomendável.

5 comentários:

  1. Quem é que disse que a a política seria melhor se tivesse mais mulheres?
    O problema não está certamente no género, ver Clinton, Manuela Ferreira Leite & Cia.

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  2. Bem, esta não posso deixar passar em claro...
    Nunca saberemos se Christine Lagarde é de facto o melhor comandante para o barco chamado FMI. Teríamos que saber o que outro faria em seu lugar e, em especial, saber o que manda o dono do barco. Christine Lagarde é o comandante mas não é o dono do barco. É um funcionário. Cumpre regras e planos que não são claros nem transparentes. Quem achar que das suas palavras se pode deduzir os desígnios e as políticas futuras do FMI, devia estar a ver o Canal Panda em vez de se preocupar com a macro política mundial.
    Quanto ao número de mulheres na política: 1. o cargo de Christine Lagarde não é político. Repito: ela é apenas um funcionário! 2. Que pena ninguém ter prestado atenção ao que Manuela Ferreira Leite dizia há uns anos atrás...

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  3. Christine Lagarde pode ser uma funcionária do FMI, mas não é exactamente uma funcionária qualquer, do tipo manga-de-alpaca. É uma alta funcionária e passam por ela muitas das decisões - umas mais polémicas que outras - da instituição FMI, que não é exactamente a Santa Casa da Misericórdia, dedicando-se, antes pelo contrário, a garantir a plena articulação dos interesses e fluxos financeiros, instrumento que não está nas mãos dos agentes económicos (nos tempos que correm, poder económico e poder financeiro não são própriamente a mesma coisa), e muito menos nas mãos das classes trabalhadoras.
    Se para um funcionário não muito alto, há que haver contenção e saber medir as palavras, para um alto funcionário as premissas são bem mais apertadas. Sobretudo quando se abordam casos sensíveis, como é o caso da Grécia, assolada pelo horror económico-financeiro, onde quem NÃO paga impostos são apenas pessoas de dois tipos: o ex-trabalhador que já não tem dinheiro para muitas coisas essenciais, e também para pagar os seus impostos, e os outros gregos que também não o têm, porque há muito o levaram para fora do país, ou porque estão bem protegidos pela máquina fiscal.
    Christine Largarde, assim como quem não quer a coisa, quis contribuir com mais uma pressão, ao estilo de uma campanha eleitoral "offshore", ferindo as auto-estima dos gregos, para os empurrar para o redil que lhe convém. Afinal, e porque ignora o terreno que pisa (Angela Merkel nem sabe onde fica Berlim), provávelmente, o seu esforço acabou numa manobra perigosa: tentar apagar o fogo com gasolina.

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  4. Meus caros, permitam-me discordar mas acho que a Sra. Lagarde exerce um dos mais importantes e sensíveis cargos políticos a nível internacional.
    Claro que é um cargo não eleito, para a qual foi escolhida por políticos eleitos. Tal como, com as devidas diferenças, acontece com o ministro Gaspar que também ninguém elegeu.
    Não esquecendo, claro, que o poder efetivo nas "democracias ocidentais" está nas mãos dos "donos do barco", ou "da bola", não passando os políticos, eleitos ou de nomeação, de, basicamente, seus funcionários.

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