domingo, 7 de agosto de 2011

Acredite se Quiser

Artigo de opinião de Manuel António Pina, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS em 3 de Agosto de 2011. O título do post respeita o título do artigo.

«O ACTUAL Governo começa a parecer-se de mais com uma comissão liquidatária do património do Estado a preços de saldo (e com os contribuintes a financiar os compradores).
A eliminação das "golden shares" a troco de nem um cêntimo não foi outra coisa senão uma escandalosa liberalidade ao capital privado. E não se diga que foi imposição da "troika" pois a "imposição" foi aceite, é bom não esquecê-lo, por PSD, CDS e PS e apesar de Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Irlanda, Grécia, Finlândia, Bélgica e Polónia continuarem a manter "golden shares" em empresas estratégicas (provavelmente terão é governos menos servis).
O BPN será, por sua vez, "vendido" ao BIC com o Estado a suportar os encargos dos despedimentos e ter que nele meter ainda mais 550 milhões, além dos 2,4 mil milhões que já lá estão. Tudo por... 40 milhões.
Seguir-se-ão os transportes, as estruturas aeroportuárias, os Correios, a água... O processo será o mesmo dos transportes: primeiro limpam-se os passivos das empresas à custa dos contribuintes (os aumentos "colossais" das tarifas dos transportes públicos dão uma ideia do que está para vir) depois são entregues de bandeja ao capital privado.
Para isso, o Orçamento Rectificativo agora apresentado na AR prevê 12 mil milhões para a banca mais um aumento de 20 para 35 mil milhões em garantias. Assim não faltarão à banca dinheiro nem garantias do Estado para ir aos saldos do Estado
.»

Meu comentário: Aguardo, na expectativa, que os cidadãos se comecem a indignar, porque o que está a ser feito não tem por objectivo desendividar o país, mas sim entregar o património nacional aos usurários do costume, continuando a crescer a factura da dívida e a deixar definhar a economia nacional, em prejuízo de quem vive do trabalho, com baixos salários, precariedade e exploração até ao tutano, isto enquando trabalho houver. E quando esse deixar de haver, os desempregados para terem direito ao subsídio - que é um produto dos seus descontos - vão ter que desempenhar trabalho gratuito (a ver vamos) nas instituições de solidariedade social, senão mesmo nas empresas do sector privado, à boa maneira da residual escravatura do século XIX, praticada nos campos de algodão da Virgínia e do Mississipi, ou nas explorações e engenhos de cana do açúcar no Brasil. Quem nos governa é insensível. Nem sequer tem a curiosidade de assomar às janelas pela noite dentro - pois andam pelos concertos, pelas recepções, pelas “vernissages” - e não têm oportunidade de se confrontarem com quem anda a respigar nos caixotes do lixo, na mira de uns trocos, sabe-se lá porquê e para quê. Ah, é verdade! Não convém esquecer as pessoas que em estado de necessidade vão passar a dispor, gratuitamente, penso eu, de medicamentos no limite do prazo de validade. O Estado, substitui-se ao caixote do lixo, ao contentor, à lixeira e ao aterro sanitário. Enfim, caricaturas desenhadas por economistas sedentos de protagonismo, que nada têm a ver com “estado social”, nem com “estado assistencial”; antes tem a ver, nesta Europa dos 27, com um rascunho de projecto de“estado demencial”, isto para não lhe chamar “estado de sítio”.

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