domingo, 8 de janeiro de 2012

A Crise da Dívida vista da América
COMO A AUSTERIDADE ESTÁ A MATAR A EUROPA.

Graffitti em Atenas, foto Milos Bicanski/Getty images

A nossa comunicação social tem feito algum eco das claras discordância de especialistas americanos em relação à condução da política de combate à Crise da União Europeia, nomeadamente as expressas pelo Prémio Nobel da Economia Paul Krugman, quase sempre porém apresentado como um esquerdista pouco responsável.

Às críticas ao fundamentalismo monetário dos líderes europeus, junta-se agora a prestigiada NYRB num artigo de Jeff Madrick, How Austerity Is Killing Europe, que faz uma apreciação das consequências das politicas de Austeridade que estão a ser impostas a um numero crescente de países europeus, e defende soluções para a Crise radicalmente diferentes das que estão a ser por aqui aplicadas. Devido à extensão do artigo deixo aqui apenas a tradução de alguns excertos (sublinhados meus):

"A União Europeia tornou-se um círculo vicioso de endividamento crescente, levando a medidas de austeridade radical, que por sua vez enfraquecem ainda mais as condições económicas e conduzem a novos cortes nos gastos ainda mais prejudiciais, e a impostos mais altos.
(...)
Nos últimos dois anos, a grave recessão de 2009, que começou nos EUA, mas se espalhou pela Europa, tem posto em perigo as finanças de um país europeu após outro. Como resultado, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália estão sob pressão da UE para cortar nos gastos do Estado e aumentar os impostos, para reduzir os seus déficits como condição para obter um resgate. Todos o fizeram. Irlanda e Portugal cortaram drasticamente os gastos e mesmo assim tiveram que pedir dezenas de milhares de milhões de euros para ajudar a cobrir as suas obrigações financeiras, tal como o fez a Grécia.

(...)
Mas esta é a solução pré-Grande Depressão. Como poderá a UE ter interpretado tão mal a História, e tratado com tanto desprezo os ensinamentos de John Maynard Keynes, que defendeu que durante as recessões os governos devem expandir as economias através de gastos e cortes de impostos, e não o contrário? Como mostrou Keynes, fazer grandes cortes no Orçamento e aumentar impostos, reduz a procura de bens e serviços, numa altura em que o crescimento é mais necessário.
(...)
De facto, a economia de Austeridade não tem resultado em nenhum país da Europa.

Existe uma solução muito melhor. E não exigiria o fracasso do Euro. A Zona Euro, e talvez toda a UE, deve agir como um país unificado, pronto para reconhecer que deve assumir a responsabilidade pelos efeitos drásticos dos cortes bruscos nos gastos sociais. Os EUA não são um exemplo brilhante mas, ao menos, a Reserva Federal garante a Dívida do Tesouro dos EUA, tal como o Banco Central Europeu deveria garantir a Dívida dos seus membros.

O BCE deveria então forçar a Reestruturação da Dívida
dessas nações, com alguns investidores privados a suportar parte das perdas.

A Zona Euro financeiramente unificada deveria de seguida emitir títulos para obter o dinheiro para pagar as Dívidas, mas também para apoiar uma rede social para as populações dos países onde estão agora a cortar as contribuições sociais, e ainda para atender a outros compromissos financeiros. (Isto é o que os EUA fazem, por exemplo, através do envio de cheques da Segurança Social e de apoio ao aos desempregados, para todos os estados da União).

(...)
Os líderes da UE devem superar sua obsessão com a eliminação do Défice. Querem agora reduzir o Défice de cada país para menos de 0,5 por cento. Isso é um desastre, que resultaria num crescimento muito lento, por muito tempo. Em vez disso, devem usar défices temporários para reiniciar o crescimento. Raramente temos assistido a formulação de políticas tão erradas. Mais cedo ou mais tarde, os cidadãos destas nações dirão: Não mais! E o resultado será mais instabilidade política.
"

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