terça-feira, 24 de janeiro de 2012

DUQUES, RELVAS E CENAS TRISTES


Vi parte da edição do programa Prós-e-Contras dedicado a Angola. Vi apenas uma parte, porque me pareceu logo que estava perante uma um colóquio organizado pelo Governo com cobertura integral da RTP. Não foi um programa de informação e menos ainda um debate sobre Angola. O conteúdo era duvidoso e até do ponto de vista técnico estava uma lástima. Seja como for, não pensei mais nisso! Até hoje quando li a notícia que a RDP teria terminado um espaço de crónica semanal do jornalista Pedro Rosa Mendes, tendo ele recebido a seguinte explicação: “Foi-me dito que a próxima seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola”.

Se a emissão do programa Prós-e-Contras sobre Angola, com a inenarrável moderação de Fátima Campos Ferreira e a ufana prestação do tenebroso Ministro José Relvas foi uma demostração de provincianismo atroz, que só deve ter agradado a Luís Duque, já este acto de censura e represália na RDP é algo intolerável.

O Governo tem todo o direito de definir a sua diplomacia económica e de esforçar para que os seus objectivos nessa área sejam bem-sucedidos, não querendo dizer com isto que pessoalmente concorde com eles. Mas é um direito do Governo. Mais questionável será que o Governo instrumentalize a RTP e o seu departamento de informação para a realização de uma operação de charme junto da plutocracia (estou a tentar ser brando nos termos) Angolana. Porém, é já inadmissível que em função desses interesses do Governo se justifique um manto censório, com orientação directa deste ou através de excessivo zelo dos peões de brega, como parece ter acontecido na RDP.

Angola é um país perverso. Onde o estado de corrupção generalizada faz com que os milhões de uns sejam a pobreza da maioria. Em qualquer amostra de democracia seria questionável a imunda relação entre os negócios milionários e o exercício autocrático da política, como se verifica em Angola. Não me espanta que os amorins deste mundo durmam descansados quando sabem que as suas fortunas, feitas com as santas isabeis, crescem com o fermento da pobreza alheia e do despotismo. Não me molesta que para o governo português a democracia apenas uma alínea e que o importante é abrir caminho aos negócios próprios e de comparsas.

O que não podemos tolerar, o que nos deve fazer reagir como cavalo selvagem e indomável são estes sinais de empobrecimento da nossa democracia face a interesses obscuros de elites económicas e políticas que se sentem muito confortáveis junto do obscurantismo pantanoso do mundo dos negócios e da política angolana.

4 comentários:

  1. Em Angola parece-me que o problema maior não será tanto o da exploração, mas o da apropriação das riquezas do país, sobretudo petróleo, por uma minoria.
    Já quanto à corrupção, diz o roto ao nu...

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    1. Dizes bem, Brissos.

      Aqui na nossa terra há bons exemplos que irradiam para todo o Mundo do que é a cleptocracia.

      Abraço

      JPedro

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  2. Vou fazer um link para o seu post. Abraço do Torres

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  3. Nãotarda muito estamos no salazarismo serôdio do Passos...sem uma guerra colonial que nos mobilize!

    Tristes,amorfos,medrosos...osportugueses!

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