Impedir a reeleição dum Presidente da República em exercício, com os altos níveis de aprovação habituais no desempenho deste cargo em Portugal, não é pêra doce.
Mas é possível derrotar Cavaco. As suas vulnerabilidades ficaram bem à vista logo durante a pré-campanha, em situações que põem a nu aquilo que o manifesto eleitoral e as intervenções de circunstância tentam esconder:
- O caso BPN não só revelador da promiscuidade da política e negócios do cavaquismo, como dos motivos e consequências duma indecente nacionalização de prejuízos, que favorece accionistas e especuladores à custa de mais sacrifícios de quem trabalha;
- O desprezo a que vota o Estado Social como se viu ao aconselhar uma senhora em Almada a procurar o apoio duma instituição que não seja do Estado;
- A orientação neo-liberal de submissão aos mercados financeiros e de desrespeito pela soberania nacional, bem patentes no não podemos insultar os mercados.
Para derrotar Cavaco era preciso um challenger, com o apoio empenhado da esquerda e disposto a conduzir uma campanha mobilizadora dos que estão contra as politicas anti-trabalhadores, de destruição da estrutura produtiva, de definhamento do Estado Social, de submissão aos grupos económicos e ao capital financeiro, contra estas desgraçadas políticas de Sócrates e Cavaco.
A existência de três candidaturas à esquerda, que à primeira vista pode parecer uma forma eficaz de mobilizar os respectivos eleitorados e forçar uma 2ª volta, não funciona, a luta política é mais do que simples aritmética eleitoral. Pode eventualmente não comprometer o essencial no caso em que todos são apenas candidatos, mas numa reeleição, com a natural tendência para o voto em quem já ocupa o lugar, especialmente no caso dum cargo em que a percepção geral é de que no fundo pouco aquece ou arrefece, as hipóteses de sucesso são escassas.
Contudo, como os candidatos não se esquecem de dizer, nisto de eleições não há vencedores antecipados. Como também não é indiferente Cavaco ganhar com aquela vantagem absurda que há tempos lhe davam as sondagens, ou ficar apenas um pouco acima dos 50%. Ou mesmo ter de ir à 2ª volta, onde o baralhar e dar de novo não lhe seria favorável. Por isso, mesmo pendurado nas canadianas, lá estarei no dia 23 a votar contra Cavaco.
NOTA: Fernando Nobre, que se está a revelar muito pior do que era possível imaginar, não entra claramente nas contas da esquerda.
No fundamental concordo com o Brissos. O PCP tem especiais responsabilidades em não conseguir encontrar um "challenger". Preocupa-se em passar a mensagem do PCP (de forma impecável!), mas não conseguiu um figura de consenso para aglutinar o descontentamento que grassa no PS e a colagem que o BE fez com Manuel Alegre. De facto, os tempos são outros, e já era altura de abandonar aquele princípio de que o PCP só apoia aquilo que pode controlar a 100%.
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