domingo, 21 de novembro de 2010
O País Real Segue Dentro de Momentos
LAMENTÁVEL, estupidificante, paupérrimo, quase a roçar o miserável, eis as expressões mais contidas que me ocorrem, para definir a informação (vista, falada e escrita) com que temos vindo a ser bombardeados, durante os dias que rodeiam a cimeira da OTAN/NATO. Não estou propriamente a culpar os jornalistas que andam pelo terreno, ao frio e debaixo de chuva, de câmara ao ombro e de microfone em punho, mas sim quem tem a responsabilidade editorial pelas imagens e declarações que são lançadas para a opinião pública. Quase sem nenhuma excepção, todos os jornais e estações de rádio e televisão têm alinhado e alinhavado a cobertura da cimeira, e tudo o que gravita à sua volta, pela cómoda bitola de um dócil “situacionismo”. Vê-se isso nas escolhas que são feitas para decidir quem é questionado aqui e ali, quem é convidado para dar opinião ou comentar o evento e a sua matéria, nos critérios entre o que deve ser cortado e o que deve ser mostrado, o que é conveniente ou inconveniente, o que é inócuo ou polémico, o que é supostamente correcto e incorrecto, desde que não fira susceptibilidades. Já nem vale a pena vir pedir desculpa pela interrupção e dizer que o país e a realidade seguem (ou talvez não) dentro de momentos, pois é tudo a bem do prestígio autóctone, aquela coisa de que se fala, que não se come nem faz a felicidade de ninguém. Mas isto não é apenas verdade para o que se passou com a cimeira; no melancólico dia-a-dia do que acontece nesta ocidental praia lusitana, a receita repete-se! Depois de muitas doses de soporífero para endurecer e embrutecer a nossa atenção e sensibilidade, foi assim, de mansinho, que o país real, por obra e graça de uma central de informação e contra-informação muito bem oleada, foi sendo substituído por um país ficcional, quase irracional. Enfim, é a comunicação social que temos, perfeitamente domesticada e servil quanto baste, dispensada de se sujeitar ao lápis azul da velha censura do”estado novo”, e de “motu proprio”, a dar-nos a tal injecção diária atrás da orelha...
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O País real segue sem interrupções, mas não nesta alegada comunicação social.
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