HÁ UMA verdade que penso que ninguém contesta: os serviços de informações – vulgarmente conhecidos por polícias secretas - embora regulamentados, com atribuições precisas e bem determinadas, exactamente por possuírem vastos recursos e actuarem fora dos habituais parâmetros de transparência, contornando os mecanismos de controle democrático, acabam por deter um enorme poder. Um poder imenso, subordinado ao dever de sigilo e ao segredo de Estado. Um poder enorme, cujo limite é a nossa imaginação. Falta acrescentar que um relatório saído daquelas mãos (e que é susceptível de descarrilar para o domínio público), pode destruir um perfil de integridade, uma obra, uma carreira, uma vida, e tudo o que vem por acréscimo.
Quando essas competências, e o poder que daí resulta, começam a confundir interesses estratégicos do Estado, com interesses pessoais ou de grupo, assumindo contornos de tráfico de influências, chantagem e outras ilicitudes, rompendo o anel de segurança da idoneidade daqueles serviços, começa a ficar em causa a sua lealdade para com os desígnios da República e do regime democrático. Não são toleráveis as nefastas promiscuidades, o jogo em vários tabuleiros, agora não apenas entre o poder político e o poder económico, mas entre os serviços de informação da República, animados sabe-se lá de que venais interesses, e todos os outros poderes, facções políticas e outros sujeitos, mais ou menos poderosos, mais ou menos ambiciosos. Os serviços de informações da república não devem ser, nem comportar-se, como uma qualquer agência de detectives, que anda no encalço de infidelidades e passa atestados de mau comportamento. São uma instituição demasiado sensível para se tornar uma criada para todo o serviço dos mais mesquinhos interesses e ambições. Daí a tornarem-se o embrião de uma nova polícia política, dista apenas um passo.
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