domingo, 10 de abril de 2011

Vem aí um novo paradigma nas ciências sociais ?


Não é propriamente uma novidade absoluta, esta de podermos contar na nossa classe política com gente que muito pouco tempo depois de dizer "sim", diz que afinal, o que queria dizer era "não". São os conhecidos profissionais do vice-versa ou do versa-vice, tanto faz.

Com a maior das serenidades e impassibilidades, tratam o "sim" e o "não" como elementos neutros das suas muito particulares operações dialécticas e discursivas. Sem qualquer inflexão de voz, sem qualquer trejeito facial, sem dedos a fazer figas, tratam o "sim" como "não" e o "não" como "sim". Aqui, nem o Dr. Cal Lightman, da série televisiva "Lie to me" se safava.

Mas os últimos anos e em especial nos últimos meses, revelou-se um verdadeiro super-campeão da modalidade: José Sócrates Pinto de Sousa, para muitos, engenheiro em projecto, mas que vem mostrando a mais "engenhosa" das capacidades de sustentação, o que certamente o fará ombrear com o Eng. (de facto) Edgar Cardoso, um dos expoentes mundiais da engenharia de sustentação.

Em si mesmo, José Sócrates Pinto de Sousa, merece que nos universos das Neurociências, da Psicologia, da Antropologia e da Sociologia, seja intensamente estudado o seu caso. Portugal e o mundo académico e da investigação precisam perceber que condições históricas, sociais, políticas, psicológicas e fisiológicas conseguem produzir um caso tão especial de político vice-versa ou versa-vice.

Mas não deveriam ainda as ciências sociais, em geral, focar-se neste caso ímpar, de um partido inteiro não apenas se render, como se entusiasmar abundantemente com todos os vice-versa ou versa-vice quotidianos do Sr. José Sócrates Pinto de Sousa ?

Que extraordinárias explicações, revelações, nos poderá trazer daqui a uns anos a ciência ? Muito provavelmente com o estudo deste caso, terá lugar uma inesperada ruptura epistemológica em muitos domínios científicos. E bem sabemos que a ciência avança, também, sempre que se depara com casos inusitados.

É consabido que os partidos políticos são universos sociais especiais. Ainda assim, não pode deixar de causar perplexão um tal unanimismo, quase furioso, em torno de uma figura, que com a mesma convicção desmente o que acabou de afirmar ou que procede exactamente ao contrário do que trejurou fazer.

Resta ainda saber, se o objecto dos estudos que proponho não terão de ser ainda alargados ao país. É que a tendência que os portugueses têm revelado para os problemas de memória (não só histórica, mas também contemporânea, de algumas horas apenas...), de compreensão da realidade que os rodeia, de abstracção e de "planeamento" é preocupante.

A perda de sentido nos "opostos elementares", como "sim" e "não", "concordo" e "discordo", "preto" e "branco", em que tudo se amalgama de modo indefinido e desestruturado, talvez configure um estado de anosognosia ou a caminho disso.

Quando é individual é uma questão do âmbito das ciências médicas. Quando é colectiva é uma questão para as ciências sociais.

Estaremos na eminência de um novo paradigma nas ciências sociais ?

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