sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Crise, os portugueses que dizem estar todos a encher os hotéis do Algarve, e os portugueses realmente a passar a Páscoa nos hotéis do Algarve.


A propósito das elevadas taxas de ocupação dos hotéis do Algarve nestas mini-férias da Pascoa, a Comunicação Social que temos aproveita para continuar a promover, e vender, a sua histérica visão da Crise. Dependendo do estado de espírito do alegado jornalista, as peças oscilam entre o tom de que afinal a Crise não é assim tão má como a pintam, ou de que mesmo com o agravar da Crise, e a Troika instalada no Terreiro do Paço, os portugueses (implicitamente todos) continuam a gastar de forma irresponsável, muito acima das suas possibilidades.

Claro que enquanto debitam estas doutas cogitações à volta das notícias das taxas de ocupação dos hotéis do Algarve, os escribas de serviço ignoram olimpicamente que Portugal é, com a Inglaterra, o País da Europa onde são maiores as desigualdades entre os 10% de menores rendimentos e os os 10% que estão melhor na vida, e que é seguramente entre estes 10%, ou vá lá 20%, a quem a Crise normalmente nunca bate à porta, que se irá encontrar a esmagadora maioria dos menos de 2% dos portugueses que estão a passar as mini-férias da Páscoa nos hotéis do Algarve.

Mas afinal são menos de 2% ? Admira-se, surpreendido, o leitor que teve a pachorra de me acompanhar até aqui. Então vejamos, com cerca de 100 000 camas nos hotéis do Algarve, mesmo com todas a dois clientes por cama, daria 200 000 pessoas. Se descontarmos os estrangeiros, e considerando que portugueses segundo o site da Pordata somos 10.648.855, não chega sequer lá perto dos tais 2%.

Que dos poucos portugueses que estão bem na vida, alguns tenham decidido aproveitar os descontos e promoções dos hotéis do Algarve, que em certos casos chegam aos 30%, será sim mais uma notícia do país desigual em que vivemos, mas o que não vi até agora foi um só jornalista a dizer que esta é mais uma das muitas situações que deixam bem a claro a verdadeira natureza de classe da presente Crise.

Num país onde cresce o desemprego e a precaridade, e se cortam os rendimentos dos que menos têm, uma minoria privilegiada aproveita-se dos descontos e promoções que seguramente não saíram do bolso do capitalista, mas sim do corpo de quem trabalha (cortes no pessoal, redução dos salários reais, e aumento da duração ou intensidade do trabalho) para, a baixos preços, continuar a desfrutar dum estilo de vida cada vez mais distanciado da maioria dos portugueses que, com o seu trabalho lhes proporcionam, para além do mais, tirar proveito da própria Crise.

7 comentários:

  1. Tem sido difícil, mas desta vez estou com Eduardo Brissos. É verdade sim senhor, esta imprensa ao serviço do capital deturpa ao seu belo prazer e falsifica a informação.
    Continuo preocupado com os que se dizem jornalistas e se vendem, a troco não sei de quê, esquecendo-se que também eles fazem, parte dos que têm que pagar a crise.
    Evaristo Fonseca.

    ResponderEliminar
  2. E em que órgão de informação o patrão permitiria um jornalista a escrever, ou dizer, o tipo de considerações que faço no post, por muito tempo?

    ResponderEliminar
  3. Mesmo em questões triviais os barões da comunicação social cá da terra não brincam em serviço.

    Lembra-se do que aconteceu ao João Carreira Bom, na altura cronista de sucesso no "Expresso", quando escreveu umas coisas pouco simpáticas para o Balsemão?

    Despedido na hora, por "motivo atendível".

    ResponderEliminar
  4. A talhe de foice, lembro também este caso que ainda está bem fresco:
    http://fernandoserranotorres.blogspot.com/2011/04/registo-para-memoria-futura-37.html

    ResponderEliminar
  5. Isto das duas uma. Ou os tipos do FMI, largam o trabalho deles e dedicam-se a viver à portuguesa, porque afinal só nós em tempos de grande crise para termos 5 dias sem fazer nenhum (e agora vem o 25 Abril, 1 Maio e 13 Junho, nada que eles conheçam) ou então vamos pagar bem caro. 'Divirtam-se muito seus inconscientes que nós já falamos. Eu acredito mais na segunda hipótese...

    ResponderEliminar
  6. Tem piada, no hotel onde passei estes dias a carregar malas, não vi nenhum tipo do FMI, nem nenhuma Betty, a trabalhar. E dos hóspedes eram mais ingleses que portugueses.

    ResponderEliminar
  7. Mesmo com alguns a terem "5 dias sem fazer nenhum", ainda somos o País da Europa onde se trabalha mais horas por ano, ver: http://bit.ly/g3JK8b

    ResponderEliminar