quarta-feira, 6 de abril de 2011

É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA


Não sou escriba assíduo, mas como a minha conta ainda está aberta vou fazer uso dela, reproduzindo aqui um comentário que deixei num blog, dos muito que por estes dias têm comentado a reunião de sexta-feira entre o PCP e o BE.


"Há uma graçola, anti-semita na sua génese, que eu recauchuto para a situação em que a esquerda vai vivendo. Num debate sobre a falta de entendimento entre as várias matrizes de esquerda, um camarada afirma: – Onde há duas pessoas de esquerda há três opiniões, duas das quais inconciliáveis. A afirmação é emendada por outro que diz: – Eu acredito que onde há três pessoas de esquerda existem pelo menos cinco opiniões, três inconciliáveis, uma contraditória e outra intolerável!

Por mais anedótico que possa parecer, muitas vezes encaixamo-nos nesta caricatura.

As nossas diferenças de opinião são incomensuravelmente em menor número e qualidade que as nossas concordâncias.

Qualquer entendimento não implica um acordo entre iguais.

As diferenças entre aqueles que celebram um entendimento, seja lá qual for a forma que o mesmo assuma, pode ser uma vantagem em vez de um óbice.

As estratégias próprias de afirmação dessas diferenças são legítimas e não inviabilizam o estabelecimento de compromissos entre o quer que seja semelhante.

O corolário disto é que, ainda que nem todas, MUITAS DAS DIFERENÇAS SÃO MANIFESTAÇÕES CARICATURAIS, ESTUPIDAMENTE CULTIVADAS POR AMBAS AS PARTES, POUCO OU NADA REFERENCIADAS À REALIDADE, MAS QUE SE CONSTITUEM COMO REAIS ENTRAVES AO ENTENDIMENTO.

Pessoalmente fiquei profundamente satisfeito com as notícias do diálogo e não o vou torpedear de modo nenhum, nem pelo menosprezo, nem pelo empolamento da expectativa. Concordando com o Jerónimo de Sousa, também eu entendo que estamos no início de um processo, sem fim definido. E agora digo eu, perante o qual poderemos escolher acalentar ou sabotar.

1 comentário:

  1. Foi preciso o Jerónimo aceitar o convite do Chico para "ressuscitares". Espero que lhe ganhes o gosto, até porque como li por aí: se isto não são tempos interessantes, o que serão tempos interessantes?

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