quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Santos Tutelares e Pecadores Crónicos
O Dédé, autor do post SOB A ALTÍSSIMA INSPIRAÇÃO…, deu-me matéria e asas para fazer um devaneio sobre santos protectores e pecadores inveterados. Os homens, inseguros das suas capacidades e temerosos dos seus pecadilhos, têm o costume de pôr os santos a intercederem nas suas profissões, como recurso de emergência, quando as coisas começam a complicar-se ou dão para o torto. Há sempre um santo para interceder lá no olimpo, quando os humanos pisam o risco das suas competências ou se excedem no tráfico de influências. Santo Ivo é patrono dos advogados. Astaroth, não um santo mas um demónio (a igreja nunca conseguiu ocultar o episódio de Jesus a expulsar os vendilhões do templo), é o patrono dos banqueiros, agiotas e homens de negócios. São Nicolau é padroeiro dos juízes. São Thomas Moore ascendeu a padroeiro dos políticos, por obra e graça de João Paulo II. Já os engenheiros, têm um patrono que é São Ferdinando, mas apenas para engenheiros completos e devidamente encartados, que não sejam fracotes em inglês técnico e outras competências, e diga-se que com muita razão. A igreja tem solução para (quase) tudo, gosta de se insinuar nas actividades humanas, mas há coisas que excedem as capacidades do evangelho e da causa dos santos. Embora isto pareça cheirar a heresia, com laivos de religião politeísta, herdeira dos “manes” romanos, os santos do panteão católico (que me perdoem os crentes, a quem muito respeito), embora sendo modelos de virtude e fonte de inspiração para quase todas as profissões e mesteres, não deviam ser envolvidos com as práticas menos católicas do ser humano. E a questão ganha de foro de processo canónico, quando se invoca Francisco de Sales, patrono dos jornalistas, isto é, do chamado QUARTO PODER (os “media” ou comunicação social em português), como referiu o autarca de Setúbal, autor da catilinária que o Dédé descobriu, e a roda dos santos começa a funcionar. Descobre-se então que largas fatias desse QUARTO PODER, acharam por bem serem pajens e cortesãos do SEGUNDO PODER (o executivo, protegidos pelo impoluto e respeitável Thomas Moore), em acesa concorrência com uma grande fatia do TERCEIRO PODER (o judicial, amparados por São Nicolau), o qual fornece cabeças pensantes, rapazes ambiciosos e esforçados, para o SEGUNDO e para o PRIMEIRO PODER (o legislativo, protegido por Santo Ivo). Como já se percebeu, o QUINTO PODER (o económico, o tal que é apadrinhado pelo diabólico Astaroth), mantém-se calmo e refastelado, sabedor de que os últimos são sempre os primeiros, bastando estalar os dedos para virem-lhe comer à mão os outros QUATRO PODERES, à revelia dos respectivos e escandalizados santos protectores. E se continuarmos a conjecturar e puxarmos pela cabeça vamos conseguir arranjar nomes e desenhar uma roda ou teia de humanos relacionamentos com todos os santos, que até nem é complexa, mas continua a ter algumas e repreensíveis falhas. Então e os reformados? Sim, os reformados, não os da PT, da REFER ou da CGD, mas dos outros sectores económicos, que depois de quarenta anos de serviço, de nos terem levado a carne, o músculo e muitas horas de sono, ainda nos congelam o sustento! Gostava de saber porque não há um patrono dos reformados, isto se até São Francisco de Assis foi nomeado patrono dos animais e das preocupações ambientais. Para a semana que vem, vou enviar uma missiva para o Vaticano, com uma reclamação indignada, por tanta desconsideração e ausência de protecção.
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Para os idosos há a Santa Ana, avó do JC, que também deve englobar os reformados, se suficientemente idosos.
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