POR ENQUANTO, não estou propriamente entusiasmado ou arrebatado com as próximas eleições presidenciais, fundamentalmente, por três razões.
Primeira: a Presidência da República não tem uma importância expressiva nas orientações e destinos da governação. O presidente quase não é mais do que figura representativa da República, quase desprovido de poderes, onde até a sua função de comandante-chefe das Forças Armadas, prima por uma notória invisibilidade.
Segunda: quatro dos candidatos que estão a disputar estas eleições, não aquecem nem arrefecem, limitando-se a coabitar com o lastimável estado de necessidade a que os sucessivos governos nos conduziram. Como é fácil de entender, a excepção é o quinto candidato, Francisco Lopes, que não poupa nas ideias nem nas palavras. Cavaco já o conhecemos de ginjeira, pois é preciso não esquecer que foi ele (como chefe dos governos do “cavaquismo”) quem lançou as bases que nos levaram à situação de delapidação do património público, retrocesso social e penúria em que hoje nos encontramos. Com aquele ar de quem não parte um prato, vai dizendo que tem exercido o mandato presidencial, preocupado em cumprir uma “magistratura de influência”, ancorada na tal “cooperação estratégica” com o governo de Sócrates, o que quer dizer que tem apoiado ou feito vista grossa a todas as “atrocidades” que o engenheiro incompleto tem vindo a praticar sobre o debilitado “estado social” português. E tudo isto vai sendo dito, com um ar hipocritamente compadecido, enquanto anda a visitar os pobres e os sem-abrigo, ao mesmo tempo que incita e tece louvores aos emplastros da velha “caridadezinha”. Alegre e Moura são duas cartas de um baralho viciado, ao passo que Nobre, quer-nos fazer crer que além das boas intenções, basta estar fora da tutela dos partidos e não ter experiência política, para ser o candidato ideal, de que todos estamos a precisar. Quanto a Francisco Lopes continua a usar o seu tempo de antena dizendo muitas verdades, algumas delas incómodas, e a marcar o território da esquerda, onde os outros falham, por ausências e contradições.
Terceira: esta última não é propriamente uma razão, mas sim uma constatação. As dissertações dos chamados “politólogos”, uma nova estirpe de comentadores que invadiu o nosso espaço comunicacional (a grande maioria são todos da área conservadora, ou perto disso), andam a explorar o filão de que Cavaco Silva, não sendo uma “excelência”, ainda seria a coisa “menos má” que por aí anda, e que seria desejável concretizar-se, finalmente, após tantos anos de espera, aquela ideia por que lutou Sá Carneiro, isto é, sermos governados por uma tríade de direita nunca experimentada. Seria uma espécie de “santíssima trindade”, conglomerada num governo PSD (e talvez com CDS-PP), numa maioria parlamentar PSD e CDS-PP e, claro está, tudo sustentado pela figura tutelar do presidente Cavaco, em resumo, uma “Aliança Democrática” recauchutada, para a qual os castigados portugueses, tão tradicionalmente apáticos e desprevenidos, povo de memória breve e brandos costumes, se deixaria arrastar sem um queixume.
Em política nada é irremediável, mas para já, e por enquanto, não estou a ver remédio (até os milagres estão pela hora da morte!) para contrariar esta tendência (ou vaga de fundo, como lhe queiram chamar), de que certamente nos iríamos arrepender, mais depressa do que pensamos. Só espero que o povo seja sábio e sereno, e que na hora de votar, se lembre dos nomes de quem nos últimos 20 anos (pelo menos), tudo andou a fazer para o tramar.
Esqueci-me de dizer que O POVO É SERENO, mas que isto que está a contecer NÃO É SÓ FUMAÇA.
ResponderEliminar"O presidente quase não é mais do que figura representativa da República, quase desprovido de poderes"
ResponderEliminarMas tem alguns importantes, inclusive demitir um Governo com apoio maioritário (por interposta dissolução da AR), como fez Jorge Sampaio.
Para além de não ter muito poderes, a questão é usarem pouco os que têm, principalmente nos 1ºs mandatos.