José Sócrates veio cantarolar uma mensagem de Natal aos portugueses.
Quando Sócrates apela à "confiança" dos portugueses, eu fico desconfiado. Habituados como estamos a que Sócrates seja um optimista compulsivo, e passe todo o tempo a dizer que estamos bem, graças à coragem e determinação do seu governo, e que não precisamos da ajuda de ninguém (excepto da China, da Líbia e de Angola), e se ele agora, com a corda já esticada nos limites, nos avisa que as dificuldades se vão manter em 2011, é quase certo que, sem dizer tudo, está a preparar-nos para qualquer coisa que vem por aí, sei lá, talvez o FMI, e ele já está a pedir compreensão para a inevitabilidade de mais uns furos do cinto que vamos ter que apertar.
Naquela cantiga, os nossos inimigos continuam a ser, mais ou menos os mesmos: a persistente crise internacional, a crise do Euro e a especulação dos mercados, que é preciso acalmar a qualquer preço. Quanto à crise genuinamente nacional, fruto do modelo que adoptou, pouco ou nada adiantou. Para ele, o mal continua a ser de importação. À falta de melhor, voltou a brandir, como uma grande conquista, os resultados da avaliação da educação, do programa PISA da OCDE, muito embora continue por explicar como é que, de um momento para o outro, se operou o milagre daquele salto qualitativo. Por outro lado, aflorou as prometidas 50 medidas para estimular a competitividade e o emprego, cujos pormenores e intenções ainda permanecem na obscuridade dos gabinetes. Embora se apresentem como dois objectivos louváveis, parece que encobrem sonsos e pérfidos meios para lá chegar. Em resumo: continua a ser necessário descodificar tudo aquilo que ele diz, como por exemplo, quando afirma que o objectivo da acção governativa é o financiamento da economia, a protecção do emprego, do país e do “estado social”, deve entender-se que, na realidade, o que ele pretende salvaguardar é o financiamento e a protecção dos grandes interesses, que pouco ou nada têm a ver com os interesses do país, e para isso é inevitável que os pagantes continuem a ser os do costume. Com pequenas variações na letra e na música, continua a cantar bem, mas não me alegra.
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