Felizmente acho que não estou muito sozinho, e que até há cada vez mais por aí quem já assuma que, no quadro deste Sistema, não há maneira de dar a volta a isto. O compromisso que na Europa esteve na base do Estado Social está morto e enterrado, e Ensino Público, Serviço Nacional de Saúde, Pensões, Prestações Sociais e Direitos Sindicais, há muito que teriam sido definitivamente enviados para o caixote do lixo não fora a resistência popular e das organizações dos trabalhadores (nomeadamente dos sindicatos e partidos que ainda merecem a designação de esquerda).
Os tempos são deste Capitalismo neoliberal assente na exploração da mão de obra barata e sem direitos e na especulação financeira, parasita do Estado, globalizado e sem réstia de controlo democrático que, desde meados dos anos setenta como resposta à Crise 73 (é de facto uma chatice mas ainda ninguém inventou um Capitalismo assim tipo sem Crises), nos trouxe a grande velocidade, e maior desgraça, à situação que estamos com ela.
A Crise de 2008 poderia, como aconteceu por vezes no passado, ter sido um ponto de viragem na procura de um novo modelo para a sobrevivência do big C, mas sem adversário que o pudesse contestar, ou que pelo menos fosse necessário aplacar, a solução foi mais do mesmo, toca a canibalizar o que ainda resta por aí, apertar a tarraxa ao pessoal, e nem vale a pena estar a pensar onde isto tudo nos vai levar... de qualquer modo a longo prazo estamos todos mortos.
É certo que até posso ter alguma simpatia pelas boas almas que defendem fazer PECs menos piores, ou que ainda pensam que a tarefa da social democracia (socialismo) pode ser algo de diferente do seu destino histórico de side kick do Capitalismo e, como muitos outros também vou por aí participando em cenas que no fundo são como o Melhoral (não fazem bem nem mal), mas em boa verdade o que acho mesmo é que quanto mais tarde encararmos de frente a realidade, pior.
E uma questão chave desta realidade é que a classe operária tradicional, para além dos efeitos da inevitável evolução da sociedade, foi em boa parte exportada para as chinas de baixos salários e menores direitos, e por cá, por Portugal e Europa, é uma sombra do que foi, já sem condições de, como o fez em diversas circunstâncias e lugares no século passado, liderar o necessário processo de transformação social e política.
Contudo, ao menos pelas nossas bandas, ainda é quem reúne melhores condições, assim as queira potenciar, para ser o esteio dum bloco alargado de trabalhadores assalariados (operárias têxteis do vale do Ave, trabalhadores da indústria automóvel, precários de call centers, bolseiros do sistema cientifico, operadoras de caixa e repositores de supermercados, professores, boa parte das ex-profissões liberais, etc. etc.) objectivamente interessados em pôr um ponto final a este descalabro neoliberal sem presente nem futuro.
O que nesta altura faz falta, além de animar a malta, é, ao contrário do que aconteceu nas presidenciais, olhar para as eleições que aí vêm como mais uma oportunidade de chamar à luta todos os que, com maior ou menor consciência disso, têm como interesse vital a construção dum projecto de transformação que ponha a economia ao serviço das pessoas (e não da competição e do lucro) e exija que a democracia não seja, como agora, apenas um conjunto de práticas formais, sem conteúdo nem alcance prático na condução dos destinos colectivos.
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