quarta-feira, 30 de maio de 2012
Sisudos e Distantes, Simpáticos e Abertos
Troika garante à Anafre que não exigiu ao Governo extinção das freguesias
«Presidente da Anafre diz que responsáveis internacionais ficaram surpreendidos com números apresentados
Os membros da troika que se reuniram, anteontem, com a direcção da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) garantiram que nunca exigiram a extinção de freguesias e que o modelo de reforma administrativa que está a ser seguido foi apresentado pelo Governo, afirmou o presidente da Anafre, já na noite de sexta-feira, em Alhandra. Armando Vieira diz que os elementos da troika que foram recebidos na sede da associação representativa das 4259 freguesias portuguesas ficaram muito surpreendidos quando lhes foi explicado que 90% dos eleitos das freguesias trabalham em voluntariado e que estas recebem apenas 0,098% do Orçamento do Estado.
O líder da Associação Nacional de Freguesias participou numa sessão de esclarecimento sobre a reorganização administrativa do território organizada em Alhandra pela delegação distrital de Lisboa da Anafre. A iniciativa reuniu mais de 300 pessoas, entre autarcas e dirigentes partidários da região e habitantes do concelho de Vila Franca de Xira preocupados com a possibilidade de extinção de cinco das 11 freguesias do município.
Segundo Vieira, na primeira reunião com os responsáveis da União Europeia, FMI e Banco Central Europeu, no ano passado, os seus representantes mostraram-se muito sisudos e distantes. Sexta-feira, informados com dados mais concretos sobre as freguesias, que desconheciam, mostraram-se mais simpáticos e abertos a perceber melhor o funcionamento destas autarquias. No resto da Europa, existe só um patamar de autarquias locais e os membros da troika desconheciam que em Portugal há freguesias e municípios.
"O líder da troika, para surpresa minha, afirmou: não fomos nós que exigimos esta reforma, ela foi-nos apresentada pelo Governo português", explicou Armando Vieira, frisando que a Anafre entregou documentos que provam que "a ideia de que as freguesias são despesistas é completamente errada".
Segundo Armando Vieira, "os senhores da troika ficaram muito surpreendidos ao saberem que 90% dos eleitos das freguesias desempenham funções em regime de não permanência, recebendo apenas uma comparticipação, para despesas, de 274 euros. O líder da troika perguntou como é que é possível. Explicámos que temos uma especificidade muito nossa de amor às terras de origem". O presidente da Anafre acrescentou que, dos restantes 10% de eleitos das juntas, 6% estão a meio tempo e 4% em regime de permanência.
Outros números surpreenderam a troika pela positiva, como os que atestam que, entre 2005 e 2012, o Orçamento do Estado português aumentou 126% e as verbas atribuídas ao Fundo de Financiamento das Freguesias diminuíram 2,87%. "As freguesias representam hoje apenas 0,098% do orçamento, o que também surpreendeu" os responsáveis internacionais, referiu Armando Vieira. O presidente da Anafre cita ainda um estudo da Universidade Lusíada que conclui que a relação custo-benefício nas freguesias é de um para quatro. "Nas freguesias, cada euro gasto de impostos dos contribuintes representa quatro euros de serviços prestados à comunidade. Nenhuma outra entidade em Portugal tem estes números", acrescentou, frisando que as freguesias "nada têm contra uma reforma que resulte da adesão localmente decidida, mas somos contra uma reforma imposta".
Até final do Verão, de acordo com a Lei 44/12, as assembleias municipais e a unidade técnica criada para acompanhar o processo deverão apresentar propostas finais que poderão levar à extinção de cerca de 1500 das 4259 freguesias portuguesas.»
Notícia do jornalista Jorge Talixa, publicada no jornal PÚBLICO de 2012-05-27
Meu comentário: Com esta notícia temos a confirmação de que o governo PSD/CDS-PP é mais “troikista” que a troika, ou melhor, o aluno é mais expedito que o mestre.
terça-feira, 29 de maio de 2012
A gaja que não se rala com o sofrimentos das crianças gregas, porque os pais não pagariam impostos, tem um salário anual de 375 000 euros... livre de impostos.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
A Náusea Indescritível
«Depois de ter defendido mais tempo e mais dinheiro para a Grécia, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, disse, numa entrevista ao GUARDIAN em que deixou claro que não não tenciona suavizar os termos do pacote de austeridade para aquele país, estar mais preocupada com as crianças da África subsariana do que com os pobres da Grécia.
Para Christine Lagarde, se as crianças gregas estão a ser afectadas pelos cortes na despesa pública, os pais têm de assumir a responsabilidade: “Os pais têm de pagar os seus impostos”, disse.
(...)»
Excerto da notícia do jornal PÚBLICO de 27 de Maio de 2012
Meu comentário: Christine Lagarde, dizendo o que diz e fazendo o que faz, é a pessoa certa para o lugar que ocupa, isto é, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), organização internacional que diz assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial, através da monitorização das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, de assistência técnica e financeira, e que no caso português manda baixar os "altos" salários dos trabalhadores, como remédio para a recuperação económica, e como pérfido instrumento de combate ao desemprego. No seu já longo historial de "assistência", o FMI não esconde a sua hostilidade e convive mal com os direitos humanos e o mundo laboral, impondo severas medidas de contenção nos investimentos e gastos públicos, considerando-os puro desperdício. Por isso, não regateia subtil e solícito apoio financeiro às ditaduras, ao passo que com as democracias, as receitas são geralmente draconianas e rigorosas. Em resumo: mãos largas com as ditaduras, agiotas somíticos e inflexíveis com as democracias. Bombeiro para as ditaduras, polícia para as democracias.
Por isso, quando Christine Lagarde insiste que devem ser os pobres a pagar impostos, é porque está fora de questão acabar com as "máquinas de lavagem de dinheiro", com as "offshores" e outras espécies de paraísos fiscais, colectar os lucros pornográficos da banca e do capital financeiro, os rendimentos da especulação bolsista e os dividendos, no fundo, esses sim, os verdadeiros clientes do FMI. Quando se trata de trabalhadores, de quem paga impostos, de quem sofre com as medidas de austeridade, causadoras das carências das crianças gregas, e de quem é vítima das arrasadoras “terraplanagens” do FMI, é natural que Christine Lagarde fique insensível. Apenas fica condoída com a miséria infra-humana, a perder de vista, das crianças subsarianas, fingindo ignorar que no fundo, elas são apenas e não só, mais um dos produtos finais das famigeradas intervenções do FMI. Por tudo isto, Christine Lagarde é uma pessoa pouco recomendável.
sábado, 26 de maio de 2012
A desUNIÃO EUROPEIA
Governo britânico prepara plano para impedir entrada de imigrantes comunitários.
Cartaz da campanha do PS à eleições legislativas de 1976
O Governo britânico está a elaborar planos de emergência de controlo da imigração para impedir a entrada de gregos e nacionais de outros países da União Europeia, no caso da Grécia sair do euro e a crise alastrar rapidamente a outros países vulneráveis como a Espanha, Irlanda e Portugal.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Será que estavam bêbados?
PARA A TROIKA O DESEMPREGO É CAUSADO PELOS ALTOS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES.
Abebe Selassie, do FMI, Jürgen Kroeger, da Comissão, e Rasmus Ruffer, do BCE.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Pessimismo vs Realismo
Entretanto, as mais recentes notícias dizem que os países da zona euro estão a iniciar a preparação de planos de contingência para fazer face às eventuais consequências de uma saída da Grécia do Eurogrupo, caso se confirme que os partidos apoiantes da troika e das medidas de austeridade, perderão as próximas eleições.
Num cenário destes - dizem os "entendidos" - estima-se que os custos da saída da Grécia rondaria entre 500 mil milhões e um bilião (um milhão de milhões) de euros, a que se somaria o "impacto" sobre os "queridos" mercados, bem como o efeito de contágio e as perdas para outras economias, dentro e fora da zona euro.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Tribunal assegura direito de burlões “a ver respeitada a sua honra”. E os direitos dos burlados, quem é que vai assegurar?
Pode ler a noticia no Publico, e nos Precários Inflexíveis os comentários que o Tribunal determinou fossem suspensos ou ocultados, estipulando uma multa de 50 euros por cada dia de atraso no cumprimento na decisão.
No caso de entretanto os comentários terem sido suspensos ou ocultados, pode também lê-los AQUI.
Adenda
Sentença do Tribunal
domingo, 20 de maio de 2012
PASSOS DIZ QUE A MORTE PODE SER UMA OPORTUNIDADE.
O primeiro-ministro apelou hoje aos portugueses para que adotem uma “cultura de risco” e considerou que a morte não tem de ser encarada como negativa e pode ser “uma oportunidade para ficar sem vida”.
Passos Coelho lamentou que “a cultura média” em Portugal seja a “da aversão ao risco” e que os jovens licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, “viver por conta de outrem do que entregar a alma ao criador”.
Referindo-se em especial aos portugueses que estão mortos, acrescentou: “Estar morto não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Morrer ou ser morto não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para esticar o pernil, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”.
"No curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível estar morto, mesmo sem enterro, do que não estar, claro que é preferível morrer do que estar vivo, ter um enterro mais barato do que ficar por enterrar”.
O primeiro-ministro terminou o seu discurso considerando que, para isso, “a economia pública tem de investir alguma coisa” mas que também deve haver “uma participação crescente do capital privado” nestas áreas.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
ALEGADAMENTE RELVAS
Se publicarem a notícia, envio uma queixa à ERC, promovo um "black out" de todos os ministros ao Publico, e divulgo na Internet dados da vida privada da jornalista.
O melhor é ler o Comunicado do Conselho de Redação do Publico e, para além do que se refere concretamente ao ministro Relvas, pasmar-se, ou não, com as posições da editora de Política e da Diretora do jornal Barbara Reis, que não deram grande importância ao caso por já estarem habituadas a este tipo de ameaças vindas de ministros.
E viva a Liberdade de Imprensa, o Estado de Direito, e a Democracia Ocidental.
Adenda
O Publico diz que o ministro Relvas pediu desculpa. Pediu desculpa? E do que é que está à espera para pedir a demissão?
Vendo bem, se Portugal teve um Vice-Rei na Índia porque é que a UE não poderá ter um Vice-Merkel na Grécia, ou em Portugal?
Trichet defende que a Europa possa governar um estado-membro em casos excepcionais.
No fundo trata-se de institucionalizar aquilo que já fizeram com Papademos na Grécia, Monti em Itália, e Vitor Gaspar em Portugal.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Manifesto para esquerda livre quer provocar partidos
Bom, o Rui já conseguiu: apropriou-se do mandato do BE e levou-o para outras paragens.
Rui Tavares, um dos rostos da Esquerda Atónita, diz que “fazer um partido é fácil, difícil é fazer um movimento de libertação”.
Provavelmente refere-se à libertação dos deputados, e outros eleitos, dos partidos com que foram a votos, para se colocarem sob a democrática batuta do Rui Tavares e demais redatores do manifesto.
Haja pachorra.
Passos quer que Portugal se transforme numa Singapura... embora não exatamente igual.
O Pedro leu um livro sobre Singapura e achou o máximo. Era mesmo aquilo que ele sempre sonhou para Portugal. Claro que não é para ser exatamente igual.
AS DIFERENÇAS SERÃO: à esquerda no lugar do 1º Ministro Lee Hsien Loong, teremos o Pedro, a seguir, e para chefiar as polícias, promove-se o Bagina da Silva, ao centro, em vez de S.R Nathan, um presidente um bocado mais alto, e a seguir, no lugar do gajo do turbante, mas igualmente de turbante, ficará o Relvas.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Os Resultados Estão à Vista
A VISITA de François Hollande à Alemanha da senhora Merkel já está a dar resultados: o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, depois de goradas as negociações para a formação de um novo governo de coligação na Grécia, avisou que o programa da troika não pode ser renegociado. Ou se mantêm as medidas de austeridade, ou deixa de haver apoio financeiro ao pais. Com novas eleições à vista, e ao melhor estilo teutónico, não há como começar já a bolsar ameaças e a fazer a chantagem do costume, para condicionar e amedrontar o eleitorado grego. Eis um exemplo da nova versão, sustentada no primeiro encontro entre Merkel e Hollande, de uma União Europeia mais justa, coesa e solidária.
terça-feira, 15 de maio de 2012
A ESQUERDA ATÓNITA QUER SER LIVRE.
"Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita", assim começa o Manifesto duma esquerda que não se sente livre, que assiste atónita e atarantada a uma realidade que nem sequer se esforça por compreender.
Num arroubo de introspeção lá vão dizendo que "a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência", sem coragem nem alternativas, enquanto ignoram com sobranceria a esquerda que não se limita a assistir, que vai à luta, que não desiste.
E para os que estão, como eles, por aí à espera, o melhor que têm a propor, como solução para a Crise, é um ameno retorno às virtudes republicanas de 1910 e aos egrégios ideais da grande revolução burguesa de 1789: Liberdade, Igualdade, e Fraternidade.
Apetece lembrar: Não é a Crise, pá, é o Capitalismo
segunda-feira, 14 de maio de 2012
O CREPÚSCULO DO EURO
"Alguns de nós temos falado nisto, e aqui está o que pensamos sobre como parece que o jogo vai acabar:
1. A Grécia sai do euro, muito possivelmente no próximo mês(1).
2. Levantamentos massivos dos bancos espanhóis e italianos, com depositantes a tentar transferir o dinheiro para a Alemanha.
3a. Talvez, apenas talvez, controles de facto, com os bancos proibidos de transferir depósitos para fora do país, e limites para levantamentos de dinheiro.
3b. Alternativamente, ou talvez em conjunto, enormes saques em crédito do BCE para evitar o colapso dos bancos.
4a. A Alemanha tem uma opção. Aceitar os créditos públicos sobre a Itália e Espanha, além de uma revisão drástica de estratégia - basicamente, dar garantias sobre as dívida para manter os custos dos empréstimos baixos, e um objetivo de inflação mais elevada da zona euro para tornar possível o ajuste dos preços relativos , ou:
4b. Fim do euro. E estamos a falar de meses, não anos, para o jogo acabar."
Paul Krugman no The New York Times
(1) Como lembra hoje Rui Tavares no Publico, de acordo com os tratados da União, não há saídas do Euro, a menos que o país saia da União, e a saída da União é voluntária, só o próprio país é que pode tomar essa decisão.
Claro que se a Alemanha quiser a Grécia, ou Portugal, fora do Euro, ou da União, não vai ser um qualquer tratado que a vai impedir.
domingo, 13 de maio de 2012
Passos mantém confiança em Relvas
Agora falta saber o mais importante, se Relvas mantém a confiança em Passos.
Pedro Passos Coelho, questionado sobre se mantinha a confiança política no ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, respondeu: “Eu julgo que essa questão não tem nenhuma razão de ser. Nem percebo porque é que essa pergunta é feita, para vos ser sincero”.
Claro, como é óbvio, deviam era ter perguntado ao Relvas, se ele mantinha a confiança em Passos.
sábado, 12 de maio de 2012
O Desemprego é Uma Espécie de Desporto Radical
DEPOIS de ter mandado emigrar os jovens e os professores, desta vez, aproveitando a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho voltou à carga e decidiu teorizar sobre o desemprego. Entre umas quantas imbecilidades, afirmou que estar desempregado, não é um sinal negativo, podendo ser uma oportunidade para mudar de vida. Se estar desempregado não é um sinal negativo, podendo até ser uma mensagem do além, apontando outros caminhos, escusado será dizer que ele próprio poderia dar o exemplo, dedicando-se a outra actividade, e eu até teria muito gosto em participar com um suave empurrão. Disse ainda que os portugueses, relativamente à forma como enfrentam o desemprego, devem adoptar uma cultura de risco, o que nos leva a concluir que o desemprego, contrariando o que é habitual, deverá ser encarado, não como uma tragédia ou desgraça pessoal, mas sim como uma espécie de desporto radical. E para que o sermão ficasse completo, acabou a zurzir nos jovens pouco afoitos e exigentes que, prudentemente e à cautela, preferem ser trabalhadores por conta de outrem, em vez de se lançarem nos braços do mundo empresarial. Para a próxima, sei lá, talvez se lembre de sugerir uma ida a pé até Fátima, em busca de novas e maravilhosas oportunidades de emprego. Em resumo, a iniciativa até podia ter um título, como por exemplo: o desemprego como forma de realização pessoal e contributo para a elevação da auto-estima dos trabalhadores.
Pedro Passos Coelho, ao falar assim daquilo que afecta mais de um milhão de portugueses, que ostenta a marca das iníquas políticas do seu governo, e cada dia que passa se vai agravando mais, além de demonstrar a mais profunda das insensibilidades e desprezo para com o problema, gerador de incontáveis dramas pessoais e familiares, ainda ofende, com um misto de gozo e descaro, todos os que se encontram nessa dramática situação. Os árabes costumam responder às ofensas, lançando sapatos contra o insolente; neste caso, o nosso primeiro- ministro, no mínimo, merecia um pano encharcado nas ventas.
ADENDA - Questionado pelos jornalistas a propósito da sua destemperada dissertação sobre o desemprego, Passos Coelho afirmou que mantém tudo o que disse, e até acrescentou que o desemprego é gerador de crises artificiais, destinadas a criar uma tensão enorme no país. Está bem à vista que este cavalheiro segue as pisadas de José Sócrates, isto é, está ausente do país real, estraga tudo em que toca e apenas diz baboseiras.
É claro que está na altura de levar com mais um pano encharcado...
quinta-feira, 10 de maio de 2012
QUANTO VÃO DURAR OS 15 MINUTOS DE FAMA DO SYRIZA?
Para já, e como se aponta no Aspirina B, tivemos Os três dias de Tsipras, que, se tudo lhe continuar a correr de feição, poderão prolongar-se por mais umas semanas e levar o Syriza para uma posição central dum novo Governo da Grécia.
Como desafia o Pais do Burro em Descubram a irresponsabilidade, encontrem o extremismo, não se vislumbra por aqui nada que gente bem pensante e de reconhecidas virtudes morais não possa subscrever:
"1) A necessidade de cancelar imediatamente a elaboração das medidas do memorando e especialmente das leis vergonhosas que cortam os salários e pensões ainda mais.
2) O cancelamento das leis que acabam com direitos laborais fundamentais e especialmente da lei que define que, imediatamente, em 15 de Maio, acabam as disposições dos contratos coletivos e os próprios contratos coletivos.
3) A promoção de mudanças imediatas no sistema político para o aprofundamento da democracia e da justiça social, começando pela alteração da lei eleitoral, o estabelecimento da proporcionalidade plena e o cancelamento da lei da responsabilidade dos ministros.
4) O controlo público sobre o sistema financeiro, que hoje, apesar do facto de ter recebido aproximadamente 200 mil milhões de euros em dinheiro e garantias, está ainda nas mãos dos gestores que o levaram à falência. Pedimos a publicação do Relatório Black Rock. Queremos transformar os bancos numa ferramenta para o desenvolvimento da economia e o reforço das pequenas e médias empresas.
5) Por último, mas não menos importante, um quinto ponto de diálogo: a criação de um Comité de Auditoria Pública, que irá investigar a dívida opressora; uma moratória do pagamento da dívida e a defesa de uma solução europeia justa e sustentável."
O problema é que a situação a que a Grécia chegou, a que chegámos, não vai lá com medidas tão simpáticas e indolores. Pela minha parte também me agradaria que as forças que estão a conduzir a maior ofensiva anti trabalhadores de que há memória, assistissem sentadas à concretização daquele rol de boas intenções, mas infelizmente a realidade não deve estar para aí virada, e um Governo na Grécia norteado por aquelas ilusões, não iria seguramente muito longe.
Uma saída da Crise favorável aos trabalhadores, por muito que isso nos custe, vai exigir sangue, suor e lágrimas: vai exigir não só medidas muito mais eficazes e difíceis, e que não podem ficar pela anulação dos efeitos da Crise como as dos 5 pontos do Syriza; mas sobretudo de forças empenhadas numa mudança efetiva, o que não se vislumbra numa coligação de forças de centro esquerda social democrata.
Embora do ponto de vista tático a recusa de princípio do KKE, ao convite do SYRIZA para integrar uma coligação de esquerda, tenha sido um tiro no pé que o deixa muito mal posicionado para a campanha eleitoral que já se iniciou, parece-me, como lemos em O Castendo, não haver duvida de que o KKE tem uma melhor compreensão da situação quando diz:
"Estamos a mover-nos para uma fase transicional onde haverá uma tentativa de criar um novo cenário político com novas formações, novas figuras com uma orientação de centro-direita ou baseada numa nova social-democracia que terá o SYRIZA como núcleo, destinada a impedir a ascensão do radicalismo do povo que levaria as coisas rumo a um verdadeiro derrube [da reação] em favor do povo (...) destinada precisamente a impedir a criação de uma maioria que lute pela mudança."
terça-feira, 8 de maio de 2012
Não Vivemos Tempos Solidários
«Não vivemos tempos solidários.
Na Grécia, desde o início da crise, os suicídios aumentaram 50% e três em quatro cada chamadas para a linha de apoio ao suicídio têm que ver com o desespero da falta de dinheiro e de trabalho. Os sem-abrigo são já 25 000 e não param de aumentar. A que novos limites de infradignidade humana terão de descer os Gregos para expungir a sua putativa culpa? Ironia das ironias ou tragédia das tragédias: um ano após as medidas da troika na Grécia, o desemprego aumentou, o consumo retraiu-se, o crescimento diminuiu e assim diminuíram as receitas fiscais. A austeridade levará a mais austeridade porque o défice orçamental se agravou com as luminárias da troika. Mas parece que ninguém nas altas instâncias aprendeu nada com a lição grega. Já tinha acontecido o mesmo na Argentina. O primeiro-ministro português afirmou pomposamente que com a Grécia nem tomar café. O comissário europeu alemão Gunther Oettinger defendeu que os países endividados deveriam pôr a bandeira a meia haste. A Grécia tornou-se na lepra da Europa do século XXI. «Nós não somos a Grécia!» é o mote exultante da actualidade, que deveria ser substituído por: «Somos todos Gregos.»
Não vivemos tempos solidários.
Um estudo publicado pela Comissão Europeia sobre o impacto das medidas de austeridade nos diferentes estratos de rendimento, entre 2008 e 2011 [no tempo do Governo de Sócrates], em seis países europeus, demonstrou que, em Portugal, os 20% mais pobres sofreram uma redução de 6,1% no seu rendimento, enquanto os mais ricos perderam 3,9%. Não vivemos tempos solidários. O Conselho Português para os Refugiados declarou não dispor de verbas para alimentar os 130 refugiados que tem a seu cargo. Deixará o Estado português morrer de fome esses seres humanos se mais ninguém os acolher e nenhuma IPSS os apoiar?
Não vivemos tempos solidários.
O Governo alemão chegou a um acordo para reduzir o salário mínimo a trabalhadores não europeus. O Governo de Passos Coelho pretende que os candidatos ao Rendimento Social de Inserção tenham residência legal em Portugal há pelo menos um ano, mas só se forem provenientes de um Estado membro da União Europeia! Para os outros, o prazo é alargado para três anos. Até onde irá a barbárie?
Não vivemos tempos solidários.
Alguns media têm relatado casos reais de agonia: com a redução do transporte de doentes em um terço e com a penalização monetária dos doentes que não entram nas urgências, há indivíduos cancerosos e com doenças crónicas que deixaram de poder receber tratamentos. A austeridade pode ceifar ou encurtar vidas? Pode obrigar a que os deficientes tenham de pagar um novo comprovativo da sua deficiência, previamente comprovada por uma junta médica, só para aumentar as receitas fiscais? Não vivemos tempos solidários quando tantos imigrantes morrem asfixiados e esmagados em contentores ao cometer o pecado de aspirar a uma vida condigna. Não vivemos tempos solidários quando a Alemanha tem empréstimos a uma taxa de juro de 0,25%, para mais tarde emprestar à Grécia a 5%.
Não vivemos tempos solidários quando o Rendimento Social de Integração, o subsídio dos mais pobres dos pobres, é a transferência estatal mais escrutinada quanto às burlas (veiculando-se assim o estigma do pobre preguiçoso e malandro). Não vivemos tempos solidários quando a banca paga um quinto do IRC das pequenas empresas.
Não vivemos tempos democráticos.
Nas democracias, a introdução de medidas ditatoriais é mais perigosa porque mais insidiosa. Não se podendo proibir que partidos keynesianos sejam eleitos, proíbe-se que apliquem a sua política. Chegou-se a ponto de se discutir (com o nosso primeiro-ministro como forte entusiasta) a introdução de um limite orçamental nas constituições europeias! Na prática: tornar o keynesianismo ilegal.
E a história dos défices orçamentais é tão distorcida nos media, que se oblitera o facto de que não foram os gastos do Estado, mas a crise bancária e financeira que começou em 2008 que fez descontrolar os défices. Em 2008, o défice público médio na zona euro era apenas de 0,6% do PIB em 2007. Dois anos depois, a crise fez que passasse para 7%, enquanto a dívida pública passou de 66% para 84% do PIB.»
Editorial do PORTELA MAGAZINE de Abril de 2012, da autoria de Manuel Monteiro
Na Grécia, desde o início da crise, os suicídios aumentaram 50% e três em quatro cada chamadas para a linha de apoio ao suicídio têm que ver com o desespero da falta de dinheiro e de trabalho. Os sem-abrigo são já 25 000 e não param de aumentar. A que novos limites de infradignidade humana terão de descer os Gregos para expungir a sua putativa culpa? Ironia das ironias ou tragédia das tragédias: um ano após as medidas da troika na Grécia, o desemprego aumentou, o consumo retraiu-se, o crescimento diminuiu e assim diminuíram as receitas fiscais. A austeridade levará a mais austeridade porque o défice orçamental se agravou com as luminárias da troika. Mas parece que ninguém nas altas instâncias aprendeu nada com a lição grega. Já tinha acontecido o mesmo na Argentina. O primeiro-ministro português afirmou pomposamente que com a Grécia nem tomar café. O comissário europeu alemão Gunther Oettinger defendeu que os países endividados deveriam pôr a bandeira a meia haste. A Grécia tornou-se na lepra da Europa do século XXI. «Nós não somos a Grécia!» é o mote exultante da actualidade, que deveria ser substituído por: «Somos todos Gregos.»
Não vivemos tempos solidários.
Um estudo publicado pela Comissão Europeia sobre o impacto das medidas de austeridade nos diferentes estratos de rendimento, entre 2008 e 2011 [no tempo do Governo de Sócrates], em seis países europeus, demonstrou que, em Portugal, os 20% mais pobres sofreram uma redução de 6,1% no seu rendimento, enquanto os mais ricos perderam 3,9%. Não vivemos tempos solidários. O Conselho Português para os Refugiados declarou não dispor de verbas para alimentar os 130 refugiados que tem a seu cargo. Deixará o Estado português morrer de fome esses seres humanos se mais ninguém os acolher e nenhuma IPSS os apoiar?
Não vivemos tempos solidários.
O Governo alemão chegou a um acordo para reduzir o salário mínimo a trabalhadores não europeus. O Governo de Passos Coelho pretende que os candidatos ao Rendimento Social de Inserção tenham residência legal em Portugal há pelo menos um ano, mas só se forem provenientes de um Estado membro da União Europeia! Para os outros, o prazo é alargado para três anos. Até onde irá a barbárie?
Não vivemos tempos solidários.
Alguns media têm relatado casos reais de agonia: com a redução do transporte de doentes em um terço e com a penalização monetária dos doentes que não entram nas urgências, há indivíduos cancerosos e com doenças crónicas que deixaram de poder receber tratamentos. A austeridade pode ceifar ou encurtar vidas? Pode obrigar a que os deficientes tenham de pagar um novo comprovativo da sua deficiência, previamente comprovada por uma junta médica, só para aumentar as receitas fiscais? Não vivemos tempos solidários quando tantos imigrantes morrem asfixiados e esmagados em contentores ao cometer o pecado de aspirar a uma vida condigna. Não vivemos tempos solidários quando a Alemanha tem empréstimos a uma taxa de juro de 0,25%, para mais tarde emprestar à Grécia a 5%.
Não vivemos tempos solidários quando o Rendimento Social de Integração, o subsídio dos mais pobres dos pobres, é a transferência estatal mais escrutinada quanto às burlas (veiculando-se assim o estigma do pobre preguiçoso e malandro). Não vivemos tempos solidários quando a banca paga um quinto do IRC das pequenas empresas.
Não vivemos tempos democráticos.
Nas democracias, a introdução de medidas ditatoriais é mais perigosa porque mais insidiosa. Não se podendo proibir que partidos keynesianos sejam eleitos, proíbe-se que apliquem a sua política. Chegou-se a ponto de se discutir (com o nosso primeiro-ministro como forte entusiasta) a introdução de um limite orçamental nas constituições europeias! Na prática: tornar o keynesianismo ilegal.
E a história dos défices orçamentais é tão distorcida nos media, que se oblitera o facto de que não foram os gastos do Estado, mas a crise bancária e financeira que começou em 2008 que fez descontrolar os défices. Em 2008, o défice público médio na zona euro era apenas de 0,6% do PIB em 2007. Dois anos depois, a crise fez que passasse para 7%, enquanto a dívida pública passou de 66% para 84% do PIB.»
Editorial do PORTELA MAGAZINE de Abril de 2012, da autoria de Manuel Monteiro
segunda-feira, 7 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Razões para Despedimento
A MINISTRA Assunção Cristas diz que a campanha levada a cabo pela cadeia Pingo Doce prova que a grande distribuição tem capacidade financeira para pagar a nova taxa alimentar, só que não diz que essa taxa se irá repercutir, fatalmente, sobre os preços finais ao consumidor. Na verdade, só nos faltava mais esta preciosidade: as cadeias de distribuição passaram a ser também laboratórios para testar a aplicabilidade de taxas e impostos.
É por estas e outras que entre um despedimento colectivo por falência do programa de governo, e um despedimento com justa causa por incumprimento de compromissos eleitorais e sistemática provocação de conflitos, que aqui deixo uma pergunta: qual era a modalidade que escolhia para mandar o Governo dar uma volta?
Sem ser ao abrigo do Código do Trabalho, e porque há quem queira que a desregulamentação e o vale-tudo passe a ser o padrão das relações ditas civilizadas, aceitam-se outras sujestões.
A QUEM APELA SARKOZY, QUANDO APELA À FRANÇA QUE SOFRE?
Sim, os eleitores do FN são pessoas que sofrem, e sim, o seu sofrimento deve ser ouvido. Dito isto, é preciso que seja entendido pelo que é. Pois não é desemprego, insegurança, pobreza ou miséria económica e social o que estes eleitores sofrem.
(…)
De que sofrem então estes pobres Le Pens, se não é de miséria? Acontece que, durante anos, a questão tem-lhes sido posta em sondagens “à boca das urnas”, e os resultados, incluindo 2012, não mudam. Ricos ou pobres, desempregados ou patrões, homens e mulheres, estes eleitores-que-sofrem enfatizam uma preocupação única, um mesmo sofrimento: "imigração".
Esses eleitores sofrem porque veem nas ruas, ou nos ecrãs da televisão, mulheres muçulmanas que usam véu. Sofrem porque veem na sua rua, ou nos seus plasmas, multidões de muçulmanos orando na calçada, e sofrem ainda mais à ideia de que, para os retirar da rua, uma mesquita possa vir a ser construída. Sofrem por ver os minaretes ou, mais frequentemente, sofrem com a ideia de que os poderão ver um dia.
Sofrem só de imaginar que talvez, "sem o seu conhecimento, e de sua própria vontade", tenham comido um dia carne halal. Sofrem quando se cruzam com um negro ao volante dum bom carro e sofrem ao ouvir as canções rap que saem desse carro. Sofrem por ouvir música rai, sofrem por ver um apresentador, um político ou um escritor negro, árabe, muçulmano, entrar nos recintos sagrados da sua TV.
Sofrem ao ouvir, embora com menos frequência do que antes, que a França foi esclavagista e colonialista. Sofrem, em resumo, por ver que a França não é o sonho branco e imaculado, catolico-laico, patriarcal e heterossexual.
Sofrem finalmente, estes pobres eleitores, porque mesmo depois de quarenta anos de fronteiras fechadas e das leis Pasqua-Debré-Chevènement-Sarkozy-Hortefeux-Gueant, existem ainda alguns direitos para estrangeiros, no trabalho, na habitação, na saúde; e sofrem só de imaginar que os estrangeiros um dia poderão votar. Sofrem em suma, com a ideia de perder os seus privilégios de franceses e brancos.
Sofrem de uma doença bem conhecida, mas cujo nome, curiosamente, não foi mencionado uma única vez pelos representantes do PS ou da UMP durante a noite da eleição de 22 de Abril: sofrem de racismo."
Extractos dum artigo de Pierre Tevanian no MEDIAPART.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)