Sim, os eleitores do FN são pessoas que sofrem, e sim, o seu sofrimento deve ser ouvido. Dito isto, é preciso que seja entendido pelo que é. Pois não é desemprego, insegurança, pobreza ou miséria económica e social o que estes eleitores sofrem.
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De que sofrem então estes pobres Le Pens, se não é de miséria? Acontece que, durante anos, a questão tem-lhes sido posta em sondagens “à boca das urnas”, e os resultados, incluindo 2012, não mudam. Ricos ou pobres, desempregados ou patrões, homens e mulheres, estes eleitores-que-sofrem enfatizam uma preocupação única, um mesmo sofrimento: "imigração".
Esses eleitores sofrem porque veem nas ruas, ou nos ecrãs da televisão, mulheres muçulmanas que usam véu. Sofrem porque veem na sua rua, ou nos seus plasmas, multidões de muçulmanos orando na calçada, e sofrem ainda mais à ideia de que, para os retirar da rua, uma mesquita possa vir a ser construída. Sofrem por ver os minaretes ou, mais frequentemente, sofrem com a ideia de que os poderão ver um dia.
Sofrem só de imaginar que talvez, "sem o seu conhecimento, e de sua própria vontade", tenham comido um dia carne halal. Sofrem quando se cruzam com um negro ao volante dum bom carro e sofrem ao ouvir as canções rap que saem desse carro. Sofrem por ouvir música rai, sofrem por ver um apresentador, um político ou um escritor negro, árabe, muçulmano, entrar nos recintos sagrados da sua TV.
Sofrem ao ouvir, embora com menos frequência do que antes, que a França foi esclavagista e colonialista. Sofrem, em resumo, por ver que a França não é o sonho branco e imaculado, catolico-laico, patriarcal e heterossexual.
Sofrem finalmente, estes pobres eleitores, porque mesmo depois de quarenta anos de fronteiras fechadas e das leis Pasqua-Debré-Chevènement-Sarkozy-Hortefeux-Gueant, existem ainda alguns direitos para estrangeiros, no trabalho, na habitação, na saúde; e sofrem só de imaginar que os estrangeiros um dia poderão votar. Sofrem em suma, com a ideia de perder os seus privilégios de franceses e brancos.
Sofrem de uma doença bem conhecida, mas cujo nome, curiosamente, não foi mencionado uma única vez pelos representantes do PS ou da UMP durante a noite da eleição de 22 de Abril: sofrem de racismo."
Extractos dum artigo de Pierre Tevanian no MEDIAPART.
Visto.
ResponderEliminarObrigado, Brissos, por este trabalho de divulgação.
E, portanto, siga agora a Armada.
JPedro