sexta-feira, 27 de abril de 2012

A FUMAÇA E A VIDA


Capítulo 8 – A Fumaça e a Vida

Estes ministros que nos (des-)governam  ainda pertencem ao hoje, mas já lhes vamos esquecendo ou trocando os nomes porque, de facto, pertencem ao ontem, mesmo ao transantontem. Daqui a poucos anos ninguém os recordará, apenas restará, como escória a varrer para o vazadouro da História, a desastrosa política que ajudaram a implementar.

Por outro lado, eles próprios ajudam ao seu esquecimento ou confusão, pois são uma espécie de pirilâmpos da política: luzem subita e intermitentemente, surdidos da escuridão, para logo se apagarem, tragados pela mesma (neste caso, justiceira) escuridão. Tipificam modelarmente os fogos fátuos da política rasteira e de rastos. Eles foram as mariasdelurdesrodrigues, as isabeisalçadas, os correiasdecampos, os teixeirasdosantos, os joséspinhos, os vieirasdecarvalhos. Hoje são os nunoscratos, os josésviegas, os santospereiras, os vitoresgaspares.

O pirilâmpo da política mais luzente nos últimos dias tem sido o Miguel Relvas. Ele é a voz do Governo (isto é, das Tróikas, externa e interna) na Assembleia da República, à cachaporrada aos protestos da Oposição, ele desdobra-se em entrevistas (na verdade, sempre a mesma lenga-lenga insípida, inodora e insalubre) na rádio, nos canais televisos, na imprensa escrita. Goza da fama de ser um durão, sem cedências, sem recuos. Em suma, um valentaço contra a população de fracos ou médios recursos, um boquinhas de mel para os “cartolas”.

Tudo isto servido por uma cara inexpressiva, uma daquelas insonsas fachas onde não estremece uma prega quer lhe digam que a mãe está a morrer ou a casa a arder ou a mulher a traí-lo (enfim, a divertir-se!) com o melhor amigo (só um amigão com o sentido do dever elevado pode trair um tal tipo).

Tudo indiciava no currículo da criatura as aptidões para o cargo. Obras realizadas?... Experiências levadas a bom termo?... Estudos particulares?... Não senhora. Um mero curso de Gestão, obtido sem relevo especial, numa escola entre tantas do Brasil. Ou seja, um Zero Irrelevante. São justamente estes zeros irrelevantes as criaturas ajustadas para tais cargos  (os de paquetes das tróikas) : nunca qualquer dúvida de reflexão lhes atravessa o écran vazio do espírito, nunca qualquer prega da consciência que não possuem os faz vacilar.

Que defende a ministerial vacuidade? Que a dívida soberana está a ser exemplarmente cumprida, que ele já despontam pequenos progressos económicos no livre e imaginativo empreendedorismo, que ele não se fazem omoletes sem partir ovos e, aí, no campo do desemprego, é que as coisas claudicam um poucochito, mas que existe sempre à mão, ou ao pé, de semear, o recurso à emigração, na qual os portugueses, e agora os jovens portugueses qualificados, dão exemplos ao mundo (não estou seguro se o dito Relvas emprega este tipo de referências camonianas, e elas não são já alucinações minhas, mas, francamente, é difícil aturar a estepe do seu discurso sem uns “shots” gelados de vodka).

A ministerial vacuidade veio igualmente assegurar a bondade daquela adendazita ao Tratado Europeu: incluir nas Constituições Nacionais o serviço e o plafonamento da dívida soberana.

Que não senhora, não é preciso nenhum referendo nacional sobre a coisa, que, praticamente, a adendazita já estava implícita no espírito da União Europeia prá’í desde o  século XIV (mil trezentos e troca o passo), desde o império marítimo e mercantil da cidade de Veneza. Que a adendazita não é nenhum golpe anticonstitucioal e uma estocada letal na soberania, na economia e na democracia nacionais. Ele é lá agora!!...

Olhem, se quisermos procurar no reino dos oceanos uma espécie piscícola que melhor figure a criatura ministerial, talvez a pescada. Não uma daquelas pescadas grandes, de alto mar, com carne para alimentar uma família e ainda convidar amigos, mas talvez uma pescadinha para fritar, de rabo na boca. De facto, e à falta de melhor opinião que a minha, a pescada não tem um sabor particular, adopta o sabor do azeite, das ervas, dos molhos, dos eventuais mariscos que se lhe acrescentar; é uma plataforma alimentar a que se podem acrescentar sabores para diferentes bocas e diferentes patamares de bolsas.

Senhor Relvas, sem querer parecer paternalista, aconselhava-o a cambiar de visual. O que usa associa-o inapelavelmente a um retrato-robot composto por um desenhador das polícias! Olhe, por que não pintar umas mechas verdes nos seus cabelos?!... Acrescentar-lhes mesmo umas melenas mais compridas, (verdes também, é claro), descaídas sobre um dos olhos (o esquerdo ou o direito, à sua escolha).

Assim, “actualizado”, digamos, aproximará referências a uma antiga cantante nacional, “tiffosi” de um dos grandes clubes nacionais, para o dito grande clube e todos os admiradores desse clube. Além de que é perfeitamente justificável, dada a associação óbvia entre a verde relva dos campos de futebol, das “maisons” e o seu apelido de baptismo. Passará a ser uma variedade de mariajosévalérioverde masculina... É original... Não lhe cobro nada pela sugestão, mas não caía mal um abatimentozito no IRS.

Ainda do lado da “fumaça”, é impossível deixar de assinalar a lamentável posição assumida pela Associação 25 de Abril, a que deu cara o coronel Vasco Lourenço. Associaram-se de imediato o poeta Alegre e o doutor Mário Soares, isto é, os “faz-tudo” do costume. Que fique igualmente claro que o senhor coronel Vasco Lourenço é de há muito um aliado (mal-) encapotado do Partido Socialista.

O 25 de Abril, os valores da Liberdade, da Democracia (nas suas vertentes económicas, laborais, sociais, de saúde pública, educativas, culturais, desportivas, científicas, artísticas) defendem-se, também, dando-lhe visibilidade, recontando e reflectindo sobre a sua história. Não é recuando e cedendo aos valores do passado, que gostariam de reduzi-lo a uma saudação protocolar, envergonhada, de cinco personalidades, defronte da estátua do Cutileiro, no cimo do parque Eduardo VII. Nem, muito menos, uma data subordinada aos amuos e aos desígnios de uma mãocheínha de Castafiores indígenas.

Mas do lado da vida real, concreta e com futuro, estão, como sempre têm estado, o PCP, a CDU, Os Verdes, a CGTP, alguns Sindicatos que das garras da UGT se vão libertando, e milhares e milhares de cidadãos descontentes com a política das tróikas, que no 25 de Abril, no 1º de Maio, e em todas as lutas subsequentes, irão exigindo um futuro digno, soberano e democrático para si e para os seus filhos.

Do lado da vida concreta sabe bem igualmente assinalar a transcrição de um artigo de Thierry Mayssan (“Avante!” de 19-4-2012, pp. 26 e 27) que esclarece o fracasso da guerra de “baixa intensidade” conduzida pela NATO e pelo Conselho de Cooperação do Golfo contra a Síria e o Povo Sírio.

Desse artigo, que nada substitui a leitura integral, destacamos 3 pontos que confrontam a caterva de mentiras que têm sido despejadas, de há anos para cá,  sobre o país e a região: o presidente sírio Bachar el-Assad continua a ser o chefe de Estado mais popular do mundo árabe; os auto-intitulados “Amigos da Síria”reconheceram o fracasso da “guerra de baixa intensidade” que tinham promovido e mudaram de estratégia, concentrando agora a sua acção em campanhas mediáticas contra o seu país (o controle destas campanhas é feito a partir da Casa Branca); o objectivo destas campanhas é desenhar a China e a Rússia como ditaduras solidárias com outras ditaduras; Washington encontra os seus aliados nos Emiratos, na Alemanha, na França,  na Liga Árabe, na ONU, em Kofi Annan, na Amnistia Internacional, na Human Rights Watch, na Federação Internacional dos Direitos do Homem.

E entre a “fumaça” virtual e a Vida me despeço, confiantemente direito, e directo, a mais duas jornadas de luta: o 25 de Abril e o 1º de Maio de 2012!         

Eduá Heteronimus

24 de Abril de 2012    

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