Quando nos deparamos com um daqueles Rankings de Escolas que os jornais fazem a partir dos resultados dos exames divulgados pelo Ministério da Educação, a nossa primeira reacção será irmos espreitar em que lugar está a escola do nosso filho, dos nossos conhecidos, ou até a nossa escola, aquela que há uns anos, às vezes muitos, nós próprios frequentámos.
E foi assim que lá fui ver, primeiro em que lugar do raking estava a escola cá do bairro, e depois como é que ela comparava com as outras escolas aqui do concelho de Loures.
Um ranking de escolas, julgamos nós, deveria reflectir coisas como a qualidade do ensino, se os professores são competentes, se está bem organizada, enfim, em que medida a escola consegue motivar os seu alunos a dar cada um/a o melhor si. Mas afinal o que os badalados Rankings de Escolas, ou mais concretamente de resultados dos exames, nos mostrem não é nada disso; todos sabemos que os resultados alcançados pelos alunos dependem muito de condições exteriores à escola, nomeadamente das condições económicas e sociais das respectivas famílias.
Este ano, para além da média dos resultados dos exames, o Ministério da Educação divulgou, e o Expresso publicou, um indicador, a percentagem de alunos carenciados em cada escola, que, apesar de limitado, nos dá uma ideia sobre as tais condições sócio económicas das famílias, que tanto pesam no aproveitamento escolar, e de que tanto nos esquecemos quando olhamos para os Rankings de resultados dos exames.
E como seria de esperar, mesmo tratando-se de um indicador limitado (melhor seria um indicador baseado no nível de educação e rendimento dos pais), o Ranking das escolas do concelho de Loures reflecte muito mais as condições sócio económicas das famílias dos alunos que as frequentam, do que a qualidade do ensino, a competência e dedicação dos professores, ou a capacidade de organização de cada uma daquelas comunidades escolares.
Para os pais preocupados com o desempenho e resultado escolar dos filhos parecerá que eles terão mais hipóteses de ter boas notas numa escola melhor posicionada no Ranking, por exemplo onde a média dos exames é 13 do que noutra em que é 11, mas o que os números do Ranking mostram é que não será bem assim. Obviamente naquelas duas escolas há alunos com resultados superiores à média, que até podem ser resultados semelhantes, sendo a média duma delas inferior por ter mais alunos com resultados mais baixos o que, voltando ao que já dissemos acima, em geral acontece por razões exteriores à própria escola.
Claro que haverá certamente escolas melhores do que outras, mas a diferença entre elas estará longe daquilo que o Ranking sugere, e em última análise não será por uma escola não ser tão boa, que um bom aluno deixará de ter bons resultados. E pesará mais num bom resultado os pais sacrificarem-se a comprar uma boa escola, privada, para os filhos, ou a acompanharem e apoiarem a sua vida escolar e o seu desenvolvimento saudável e equilibrado?
Por ultimo, talvez mais do que os Rankings, aquilo que deixa alguns pais inseguros e apreensivos em relação à escola pública, o seu caracter inclusivo, interclassista, multirracial, com várias religiões e com quem não tem nenhuma, é afinal uma vantagem na preparação dos jovens para o mundo real, longe das bolhas dos colégios de elite, dos condomínios fechados e outras formas de segregação social que mais não fazem do que contribuir para a reprodução das divisões económicas e sociais que continuam a ser das maiores chagas deste país tão desigual.
É sempre um prazer ler-te. Ficamos a saber mais e melhor, designadamente sobre o Mundo mais próximo...
ResponderEliminarUm abraço, também pelas nossas crianças e pelos amanhâs que queremos que cantem, nâo ignorando, é certo, que os cavaleiros do Apocalipse andam por perto...
JPEDRO