O GOVERNO veio dizer que é injusto aplicar a EQUIDADE (justiça) austeritária de igual forma aos trabalhadores dos sectores público e privado, porque os primeiros têm mais benefícios e são mais priveligiados que os segundos, o que é uma rotunda falácia. Como disse Eduardo Pitta, e muito bem, não se pode meter no mesmo saco do funcionalismo público, os trabalhadores administrativos que atendem os cidadãos aos balcões das repartições - e que no presente caso são os mais penalizados - e os Corpos Especiais desse funcionalismo público, entre os quais se incluem os membros do governo, autarcas, diplomatas, magistrados, médicos, catedráticos e professores. Embora sendo todos funcionários públicos, não são comparáveis em termos remuneratórios, logo em capacidade económica. Servem, no entanto, e muito bem, para o Estado fazer discriminação e dividir artificialmente o mundo do trabalho, além de que sempre pode fazer a colheita do esbulho, dentro dos seus próprios domínios.
O Governo, antes de mais nada, devia considerar que INIQUIDADE (injustiça) é fazer recair sobre os trabalhadores, sejam eles do sector público ou do privado, o modelo de austeridade em curso (como se não houvesse outras soluções), destinado a corrigir com receitas neoliberais, a negligência, incompetência danosa e gestão ruinosa, praticada por essa grande entidade patronal que é o Estado, má administradora e péssima redistribuidora da coisa pública, em contraste com as inúmeras prebendas, isenções, vantagens e tratamentos de excepção, com que são beneficiados os grandes poderes económicos e financeiros, mais as clientelas partidárias que se vão alternando na colheita de benefícios, consoante se consuma, nos órgãos de poder, a alternância política.
Se juntamos a este desconcerto o negócio ruinoso (apenas para o Estado, logo para o país) das Parcerias Público-Privadas (PPP), com contratos leoninos e rendas pornográficas, o défice madeirense que continua a ser um enigma (ou segredo bem guardado), as empresas municipais, institutos e fundações, de que não se conhece ao certo o número, nem a necessidade, nem o seu peso no orçamento do Estado, sabendo-se apenas que são albergue de um largo espectro de donatários, há razões de sobra para concluir que tal estado de coisas, não é ferida que se suture com uma panóplia de aumentos de impostos, espoliações salariais, privatizações a torto e a direito, “ajustamentos” e “reformas estruturais”. Quando é o próprio Estado - que devia ser um exemplo como patrão, cumprindo (e fazendo cumprir) com rigor as suas funções de regulador - que despede trabalhadores, para depois os voltar a contratar, como se fossem outras pessoas, já liberto da sua antiguidade acumulada e com o salário reduzido a metade, dando a ganhar ao recrutador de recursos humanos, a outra metade de salário sonegado, quanto à idoneidade deste Estado, que mais podemos acrescentar?
É caso para dizer que, mau grado as aparências, as trovas de alguns bobos de serviço, e as alucinadas promoções de uns quantos vendedores de sabonetes, faqueiros e atoalhados, o certo é que o país vai nu, cada vez mais nu e esquelético, e assim continuará por largo tempo. Enquanto nós deixarmos, claro está!
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