domingo, 1 de maio de 2011

DOIS 1º DE MAIO EM MOSCAVIDE


Em 1970 o Partido Comunista Português, o Partido, decidiu chamar os trabalhadores a assinalar o 1º de Maio com jornadas de luta em várias, muitas, localidades do País. Moscavide foi uma delas, e no dia 1 de Maio, muito antes da hora da saída das fábricas (nesses tempos sombrios obviamente não era feriado) estava já ocupada por uma força da policia de choque e de pides empenhados em evitar qualquer protesto.

Objectivo frustrado, pois por volta das 7 da tarde, à palavra de ordem Viva a Classe Operária, Viva o 1º de Maio, um grupo que de repente se transformou em pequena multidão, consegue arrancar da rua João Pinto Ribeiro (frente à então chamada paragem dos autocarros) e avançar pela Avenida de Moscavide antes que a policia tivesse tempo de os impedir. Aquilo que estavam ali para evitar, estava mesmo a acontecer, pelo que só lhes restava passar rapidamente ao plano B: apanhar os "cabecilhas" e descarregar porrada da grossa sobre tudo o que mexesse.

E, com o povo a recusar sair das ruas, porrada distribuíram até a noite ir já adiantada: manifestantes, passantes, homens e mulheres, novos e velhos, até um vizinho cego que regressava pacificamente a casa do seu emprego de telefonista. Escaparam os mais ligeiros, e os que lá não estavam.

O José Gouveia, que tinha sido candidato pela CDE nas "eleições" do Outono anterior (1969), e já levava duas prisões pela pide, foi ali preso pela terceira vez. Sobre ele, que desfilava na 1ª fila, caiu quase tudo o que era pide e policia, concentração de esforços que acabou por ajudar a evitar a prisão de outros "alvos".

Com pequenas escaramuças e muitas correrias, empurrão aqui finta acolá (uma rasteira a um policia que estava quase a apanhar o Manuel Candeias do Sindicato dos Metalúrgicos, atirou ao chão o policia, mais aos outros que vinham atrás dele), a esta distância pode parecer estranho, mas da decerto bem recheada lista de gente a prender, não conseguiram, nesse dia, apanhar mais ninguém.

Outro 1º de Maio, pacifico e festivo, teve lugar quatro anos mais tarde, na manhã do dia 1 de Maio de 1974, no campo de futebol do Olivais e Moscavide. Para a história fica que foi nesse comício (num espaço, que à época era maior, quase cheio, e oradores gente da terra), que foi proposta e aprovada por aclamação a indicação do José Gouveia para a Câmara de Loures e de alguns outros democratas para a Junta de freguesia de Moscavide.

À tarde foi tudo para a grande, a enorme Festa que ficou conhecida como o Primeiro 1º de Maio em Liberdade, embora em rigor, para o pessoal de Moscavide fosse a segunda comemoração desse dia 1 de Maio que todos os que o viveram jamais esquecerão.

1 comentário:

  1. Obrigado Camarada J.Eduardo,pelo e-mail,foi muito bom,fazeres-me recordar aqueles tempos de luta,sacrifícios,mas com muita solidariedade e cumplicidade.(costuma-se dizer que só damos valor á saúde quando estamos doentes.Eu digo damos mais valor à liberdade quando se lembramos do que era a ditadura e a repressão).
    Relembrar significa reviver também muito do que antecedeu esse Dia,as duras reuniões para a criação da CDE em que varias teses eram confrontadas incluindo a de que a direcção deveria ser desde a base e que seria totalmente de intelectuais, a preparação para o encontro de São Pedro de Moel,em que veio a decidir-se pela verdadeira CDE+ tarde MDP,alguns dos que não aceitaram + tarde criaram a CEUD dividindo a Oposição à ditadura.
    Relembrar as distribuições de documentos de manhã e ás tardes nas partidas e chegadas de autocarros onde hoje é o viaduto para o Parque das Nações."o que era e o que é tudo transformado",por essas distribuições foi lá que alguns de nós receberam vozes de prisão da policia de Moscavide,alguns de nós incluindo eu não aceitado a ordem e fugido à policia,vindo a casa trocar a roupa de trabalho e vestido um fato para me disfarçar e ir pela avenida ao encontro dos companheiros que a policia trazia presos e não ser reconhecido como sendo possível momentos antes estar também na distribuição, pois era necessário alguém estabelecer contactos com os juristas amigos para tratar da libertaçãp dos companheiros presos,(Que saudades dos que por um motivo ou por outro já ficaram por o caminho).
    Relembrar as reuniões feitas ao ar livre com as estrelas e as árvores que nessa altura existiam como tecto na quinta onde viria a ser construída uma Urbanização hoje Freguesia da Portela,por ironia se discutia a luta contra o aumento das rendas de casa e onde hoje moramos,mais concretamente a poucos metros onde são as nossas habitações.
    lembro-me muito bem de ficares com uma tarefa elaborar um texto para um abaixo assinado inicio da luta contra o aumento das rendas já nessa altura se travava um debate (contra o verbalismo)sobre a linguagem a utilizar e que fosse mais eficaz para conseguir-mos os objectivos
    tentando assimilar tudo o que fosse sentido pelo povo como justo poderia ser útil para a criação de condições para o surgimento do que veria a ser o 25 Abril.
    Data gloriosa,Libertadora,por esse motivo no mesmo Dia começou a ser combatido pela reacção por aqueles que nunca o aceitaram apesar de o não conseguirem destruir têm-lhe feito muito mal colocando-nos na situação em que nos encontramos.
    A história pode repetir-se mas não anda para traz.
    Temos tanto tanto na memória mas temos que se esforçar para nos encontrar-mos mais para falar-mos não por saudosismo,mas para reforçar-mos laços que o tempo enfraquece e torna-los úteis para futuro dos nossos Netos.
    Fortes Abraços de camaradagem
    M.M.Candeias

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