terça-feira, 22 de dezembro de 2015
O QUE CONVÉM PERCEBER, PARA ENTENDER O QUE SE PASSOU NO BANIF
A dificuldade em entender o Sistema Financeiro (tal como em perceber a Teoria da Relatividade ou a Fisica Quântica) não tem tanto a ver com a sua reconhecida complexidade, mas sobretudo por alguns dos seus fundamentos estarem em absoluta e irreconciliável oposição com o nosso estimável senso comum.
Por exemplo, muitos de nós ainda pensamos que o dinheiro que um banco empresta aos clientes é proveniente das notas e moedas que outros clientes lá depositaram, o que não é realmente o caso. O que acontece é que o dinheiro que o banco empresta é criado pelo próprio banco. Surpreso?
De facto não é fácil aceitar com naturalidade que o sr. Saraiva, gerente da dependência bancaria do bairro, tenha o poder miraculoso de criar dinheiro (coisa que tanto nos custa a ganhar) a partir de coisa nenhuma.
Quando, por hipótese, peço um empréstimo de 10 mil euros ao banco, o que o sr. Saraiva faz, depois do pedido de crédito aprovado, é creditar a minha conta à ordem por 10 mil euros, e registar que eu fico a dever ao banco igual importância de 10 mil euros (mais os jurozinhos da ordem, claro).
Donde é que vieram os 10 mil euros que o sr. Saraiva depositou na minha conta à ordem? De lado nenhum. Isto faz algum sentido? De acordo com o nosso senso comum, não parece.
Mas é isto precisamente que acontece, e é isto a base do negócio de todos os bancos, da Picheleira a Wall Street, na sua importante e imprescindível função de financiamento da economia e das famílias.
A facilidade, com que os bancos criam dinheiro a partir do nada, explica em parte o comportamento dos banqueiros que se metem a fazer empréstimos de muitos milhões (é só preencher uns impressos) com poucas, ou nenhuma hipótese de alguma vez virem a ser pagos (nalguns casos tratando-se mesmo de puros e simples desvios de dinheiro).
Negócios ruinosos, e criminosas falcatruas, são registadas nos livros dos bancos como operações normalíssimas que, rendendo alguns juros, transmitem para o exterior e para os benditos reguladores, a ilusão dum negócio próspero e lucrativo, que paga dividendos atractivos aos accionistas e vencimentos e bónus milionários aos administradores.
O que não dá mesmo para entender, não por ser complicado mas por ser inaceitável, é que uma função chave para o regular funcionamento da economia e para o desenvolvimento do país, como a desempenhada pelo sistema financeiro, possa ser deixada nas mãos de privados que a usam e abusam para prosseguir os seus interesses egoístas, e que mesmo se houvesse fiscalização arranjariam sempre maneira de furar as regras e deixarem-nos estes presentes de Natal de milhares de milhões, como é agora o caso do Banif.
Depois para haver dinheiro para tapar os buracos de milhares de milhões criados pela irresponsabilidade e falcatruas de negócios privados (com vantagens e prerrogativas que mais ninguém sequer sonha ter) os governos têm-se endividado, e nós temos sido massacrados com aumentos de impostos, sobretaxas, congelamentos e cortes nos salários e nas pensões, degradação dos serviços públicos, numa espiral de empobrecimento, desemprego, emigração, sem fim à vista.
Por isso quando ouvimos agora a justa indignação de tanta gente contra as falcatruas e encobrimentos ocorridos no Banif, convém também lembrar o crime de lesa pátria que constituiu a privatização da Banca, que até agora já custou (para além do mais) cerca de VINTE MIL MILHÕES aos contribuintes.
Por tudo isto é urgente colocar na ordem do dia a discussão de que o dinheiro é um bem publico (como a água ou a energia), que este poder de criar dinheiro e decidir onde ele é aplicado (muitas vezes apenas na prossecução de objectivos especulativos e de pilhagem) não pode continuar na mão de privados que o usam e abusam de forma socialmente irresponsável e criminosa, e daí a necessidade e urgência do controlo público do sistema financeiro e da nacionalização dos bancos, e da sua colocação ao serviço da economia, dos trabalhadores, e do Povo.
ADENDA
Um outro aspecto do dia a dia da nossa relação com os bancos de que a maioria das pessoas não se apercebe, nem das eventuais consequências, é que quando depositamos dinheiro num banco, o dinheiro passa a pertencer ao banco, sendo simultaneamente criada uma divida do banco ao cliente (depositante) pelo mesmo valor. A partir do acto de depósito o banco passa a dispor desse dinheiro, que então lhe pertence, para os fins que entender.
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