terça-feira, 19 de junho de 2012
Os Lobos Andam Aí
NA GRÉCIA, depois das eleições de domingo, mantém-se o impasse. A Syriza (esquerda radical), a segunda força política mais votada, continuada separada da primeira, a Nova Democracia (centro-direita), por uns escassos 3 pontos percentuais, ao passo que aquela, por ser a mais votada, continua a ser contemplada com um fascinante bónus de 50 deputados extra, que se vão sentar no Parlamento, sem nunca terem passado pelo escrutínio das urnas de voto, isto é, uns autênticos verbos-de-encher, imagem de marca de uma democracia de contrafacção.
A Grécia, fustigada pelo cansaço e exaurida pela austeridade foi a eleições, debaixo de grande pressão e sob chantagem, orquestrada do exterior por Merkel & Companhia. Até o FINANCIAL TIMES DEUTSCHLAND veio dizer que o Banco Central Europeu considerava que uma reestruturação da dívida grega teria “consequências catastróficas”, pois o seu presidente, Jean-Claude Trichet, terá afirmado que o banco não aceitaria mais obrigações gregas se o prazo de reembolso dos empréstimos fosse alargado, além de que a Grécia não receberia a quinta parcela do plano de resgate (12 mil milhões de euros de um total de 110 mil milhões). Depois disso, foi a vez do jornal alemão BILD reforçar a dose, dando-se ao luxo de publicar na primeira página, especialmente dirigido aos gregos, um ameaçador e asqueroso texto bilingue (em alemão e em grego, para que o aviso fosse bem compreendido), ao estilo de "tenham medo, tenham mesmo muito medo" do que pode acontecer, caso não votem a favor dos acordos e da austeridade, pois de um dia para o outro deixaremos de carregar de euros as vossas caixas ATM (Multibanco).
A abstenção voltou a campear e o resultado está à vista! Apesar de haver optimistas que dizem que a partir de agora nada será como dantes, para mim, que não consigo ver mais longe do que aquilo que a vista e o entendimento alcançam, o céu continua carregado, o horizonte negro, as questões de fundo do país e do povo, com soluções, mas sem quem as possa implementar. Apenas se ouve os que bradam “nem mais tempo, nem mais dinheiro; apenas mais austeridade ou o salto no vazio”. Portanto, não vejo que venha aí um novo fôlego e que o garrote aplicado à Grécia se alivie, ou mesmo que o euro tenha sido salvo. As matilhas de lobos esfomeados nunca abandonam uma caçada. Ficam à espreita e atentas, e habitualmente, não deixam escapar as presas feridas e exaustas.
Publicada por
Fernando Torres
à(s)
08:54
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Etiquetas:
Crise
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