sexta-feira, 18 de março de 2016

DO QUE SE DEVIA (SOBRETUDO) FALAR, QUANDO SE FALA DA CORRUPÇÃO DOS POLÍTICOS


A corrupção não é apenas uma falha moral e ética dos políticos, mas sobretudo a actividade muito lucrativa dos que usam os políticos para se apropriarem indevidamente dos recursos do Estado (milhares de milhões ano sim, ano sim), ou que recorrem aos políticos para obter informações e mover influências que contribuam para aumentar os seus rendimentos e lucros.

Claro que aos políticos, até pela sua qualidade de representantes dos cidadãos, cabem responsabilidades especiais, e cada acto de corrupção dum politico, e de quem o corrompe, deve ser objecto de severa condenação ética e/ou criminal. E não são apenas os casos de corrupção em troca de qualquer coisa, é também uma outra miríade de situações, como por exemplo os casos de ministros que pelos milhões que deram a ganhar a uma empresa, ou pela informação de que dispõem ou pelas portas que podem abrir e influências que conseguem mover, vão depois de sair do governo para empregos milionários nas empresas beneficiadas.

Mas toda esta corrupção à volta da politica, não é como às vezes se diz um cancro, uma anomalia social, esta corrupção é parte integrante do sistema em que vivemos, é mesmo uma das suas característica marcantes, como se pode constatar pelos casos que, por todo o mundo, são diariamente denunciados, a ponta do enorme e invisível iceberg da corrupção.

Discutir a corrupção, sem apontar os seus maiores beneficiários e escondendo o seu carácter sistémico, é ingenuidade duns, os que estão neste debate de boa fé mas pouco informados, e desonestidade doutros, os que ao centrarem as acusações apenas nos políticos mais não pretendem do que substituir os corruptos dos outros pelos seus próprios corruptos, e ao mesmo tempo manter na sombra os principais beneficiários da corrupção, os grandes interesses económicos.

Em Portugal, num dos muitos exemplos que se pode dar sobre a grande facilitadora da corrupção, a promiscuidade entre os mundos da politica e dos negócios, cerca de metade dos que, desde o 25 de Novembro, passaram pelos governos do PS, PSD e CDS, foram empregados, ou tiveram ligações à Banca. Mais palavras para quê.

terça-feira, 15 de março de 2016

NÃO SE ESQUEÇA DA JUDITE.


Os homens são todos uns ingratos, não são ?

Anos a fio a Judite, ali, domingo sim, domingo sim, a dar-lhe as deixas, a fingir que ficava deslumbrada com as banalidades que o professor ia debitando, praticamente a levá-lo ao colo até à Praça Afonso de Albuquerque, e tudo para quê ?

Agora que é presidente anda aí num virote, em almoços e concertos, a falar de doçuras e de afectos, a distribuir beijinhos e abraços, e nunca mais se lembrou da dominical Judite.

Ao menos senhor presidente, um dia destes pergunte a um dos seus camareiros se o anterior inquilino não terá deixado por aí esquecida uma medalha, de preferência com uma fita que vá bem com a cor dos olhos da telegénica Judite.

E depois, que data e local mais apropriados para fazer a felicidade da .nossa doce e afectuosa Judite, do que no patriótico e diaspórico 10 de Junho, na cosmopolita e romântica Paris?

quinta-feira, 10 de março de 2016

AS DUAS POSSES DE MARCELO: COMO PR, E COMO CHEFE DA DIREITA


Se dúvidas ainda houvesse, o discurso de tomada de posse de Marcelo aí está para as esclarecer, aqui.

Eleito com base nos votos do PSD e CDS (e alguma penetração fora dessa área), Marcelo no discurso de ontem faz um corte radical com o Pafismo que nos desgovernou nos últimos quatro anos, e anuncia urbi et orbi, um novo rumo para a direita.

Perante a impossibilidade, a curto ou médio prazo, dum regresso da direita ao poder com base no programa e radicalismo da Paf, há que inflectir ao centro, dar a volta ao discurso, retomar o modelo do "arco da governabilidade" e ir criando as pontes que, em próximas eleições, possibilitem um entendimento com o PS.

Estratégia a que uma boa parte da direita já se rendeu, como é evidente do coro de loas suscitado pela tomada posse e o discurso de Marcelo.

Agora é esperar que Passos (que nem foi ao almoço em Belém) e o que resta do Pafismo implodam de vez, e procurar um novo rosto para o PSD que, com outra lábia, com outro tique, assuma o papel de líder da Oposição.

No entanto, embora a Marcelo se reconheça a visão e perspicácia para a criação destes grandes desígnios, já o mesmo não se pode dizer quanto à respectiva concretização. A sua conhecida hiper actividade, e a proverbial tendência de se enredar com a própria sombra, podem deitar tudo a perder.

Além disso, e mais importante, Marcelo e a direita recauchutada não vão ocupar sozinhos aquele cenário e, entre outras, há uma variável da equação que pode conduzir a um resultado diametralmente oposto daquilo que está nos planos de Marcelo.

Aí pergunta o estimado leitor: Mas afinal que variável é essa? E eu respondo: É o Povo, pá!

quinta-feira, 3 de março de 2016

QUE FAZER COM ESTA AUSTERIDADE?


O sadismo austeritário dos pafista acabou (morto de morte matada), mas a Austeridade continua para lavar e durar, e não é o OE de 2016, apesar de algum pequeno alivio para os trabalhadores e o povo miúdo, que vai pôr fim aos sacrifícios, nem promover o indispensável crescimento económico.

Lá de fora as perspectivas ainda são mais sombrias. Para além do desolador panorama económico a nível mundial, a economia europeia continua estagnada e a crise da Divida publica alarga-se a outros países. A isto junta-se a alta probabilidade de a nova onda da especulação financeira recair novamente sobre as dívidas soberanas, com Portugal a ser um dos primeiros alvos na mira dos agiotas.

Claro que existe um governo PS, apoiado por uma maioria à esquerda no Parlamento que já tiveram o mérito de nos devolver, entre outras coisas, a esperança.

E convém também lembrar que mesmo com austeridade é possível lutar contra a desigualdade, o desperdício e a corrupção. Repor direitos retirados e alargar outros. Combater a fuga ao fisco dos grandes rendimentos. Melhorar os serviços públicos. Controlar as grande empresas que nos impõem preços e outras condições escandalosas. Enfim, de pôr direito muito do que andamos há décadas a tentar consertar.

Já quanto à Austeridade propriamente dita não há repostas simples. Há que, com realismo e sem receios nem tabus, promover um debate alargado, que pelo menos nos aponte uma luz ao fundo do túnel, e que nos vá preparando para algum percalço (como sermos expulsos do euro ou o euro implodir).

O que não pode é ficar tudo isto apenas nas mãos do governo e da maioria à esquerda na AR. Só uma larga e empenhada mobilização social à volta destas questões, e um apoio claro às soluções que se forem construindo, poderá fazer da inédita, importante e indispensável convergência à esquerda, um efectivo contributo para a saída desta decadência sem fim à vista.