quarta-feira, 10 de abril de 2013

Também não fiquei feliz com a morte de Thatcher
FICARIA FELIZ É SE ELA NUNCA TIVESSE NASCIDO.


Há por aí muita alma sensível indignada com a pretensa falta de respeito demonstrada por na altura em que, como se diz noutro post, "a gaja esticou o pernil", se assista não só a criticas e ataques, como, oh sacrilégio supremo, a celebrações pela sua morte.

Ora a ideia que as pessoas quando morrem são julgadas é um ponto central da doutrina cristã. Portanto se agora os cidadãos deste mundo, e em particular as vitimas das suas acções e politicas, a julgam, haverá no máximo um conflito de jurisdição entre os que acham que o julgamento compete a Deus, e os que pensam que também, ou só, compete aos homens.

E não se choquem que esse julgamento assuma as mais variadas formas, desde artigos de análise da sua vida e carreira politica, comentários nas redes sociais, ou mesmo a celebrações de rua como as que se multiplicaram por varias cidades do Reino Unido. Cada um toca o instrumento que sabe, e tem mais à mão.

Quando a história oficial está entregue a discípulos e admiradores das cáfilas de bandidos que nos desgovernaram (vidé o branqueamento politico de Salazar em que por cá diversos lacaios tanto se empenham) é ainda mais importante, como forma de preservar a memória colectiva dos povos, que estas ocasiões sejam devidamente assinaladas.

Já para não falar que discutir o thatcherismo é também analisar uma parte importante das raízes das nossas dificuldades presentes.

Depois do muito que já foi dito e escrito sobre a vida e carreira da iron lady, limito-me aqui a chamar a atenção para uma dimensão menos falada mas importante e actual, a das responsabilidades do Labour e da TUC, da social democracia, no sucesso do thatcherismo.

E porque o espaço é curto, e a paciência dos leitores finita, aqui ficam apenas alguns tópicos para uma reflexão que nos pode, inclusivé, ajudar a equacionar questões como a da tão necessária unidade de esquerda: 

1. As politicas anti trabalhadores dos Governos do Labour dos anos 70 como factor decisivo na ascensão ao poder de Thatcher em 1979. Para quem não saiba, ou não se lembre, a eleição de Thatcher contou com o voto de muitos trabalhadores desiluidos com o Labour.

2. A traição da TUC, e do Labour, à Greve que opôs os mineiros a Thatcher em 1984/85, e que precipitou a derrota daquela greve heróica que se prolongou por quase um ano. Derrota que espalhou o desespero e miséria em vastas regiões do país, levou ao despedimento de 230 000 mineiros, e foi o principio do fim da importancia e influência do  histórico movimento sindical do Reino Unido (com as inevitáveis repercurssões negativas por toda a Europa).

3. O efeito corrosivo para a esquerda da adopção pelo Labour, mesmo ainda na oposição, de temas centrais do ideário neoliberal como o reducionismo economicista, a mercadorização de todos os aspectos da vida social, a competitividade, a submissão aos mercados, a diabolização do que é publico, a exaltação dos privados e dos empresários criadores de emprego, os pseudo privilégios dos trabalhadores, a avaliação com quotas, a marginalização dos mais fracos,  etc. etc. .

4. Mais tarde já no governo, a adopção e continuação por Blair/Gordon do essencial das politicas neo liberais do thatcherismo que destruiram a capacidade produtiva do país, promoveram as actividades financeiras parasitárias e  fazem do Reino Unido, juntamente com Portugal, o país de maior desigualdade social da Europa. Não esquecendo o papel fundamental de Blair na invasão e destruição do Iraque (para onde Portugal também enviou a GNR).

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