segunda-feira, 15 de abril de 2013

Já pensou como vai ser quando morrer? Não me refiro a se prefere ser enterrado ou cremado.
A questão é: O que pensa fazer do seu corpus virtual?


Pois é, o estimado leitor ainda não tinha pensado nisso. É como eu, que estou convencido que sou eterno, pelo menos até morrer.

Mas um recente upgrade da Google pôs-me frente a frente com a minha, espero que remota, finitude, com o meu inevitável after life. E olhe que não é tarefa fácil pensar no que queremos para quando já não estivermos cá. Eu estou há uma data de tempo a pensar nisso, para aí há uns cinco minutos, e ainda não consegui chegar a conclusão nenhuma.

Isto apesar de nalguns aspectos a coisa estar muito simplificada, por exemplo, com a austeridade do Pedro e do Gaspar, podemos deixar de nos preocupar com o testamento. Sim o que é que acha que vai sobrar de toda esta fúria troikista? É que ainda vamos só em 2 anos de austeridade. Já imaginou como vai ser ao fim de 5, 10, ou 15 anos? Bom, é melhor nem pensar.

Mas voltando áquilo que tem muito força, e o que tem muita força, pelo menos neste caso, não pode deixar de ser, provavelmente para a parte material, física, corpórea, o meu futuro também está aqui.

Já no que respeita ao meu extenso corpus escrito, de imagens, vídeos, comentários, gostos e partilhas, a pegada digital que assinala a minha idiossincrática passagem por esta existência virtual, a Google dá-me  para já, a opção de deixar esse meu corpus virtual por aí, bem vivo, ou pelo menos electronicamente a pulsar.

Entretanto algures em Silicon Valley ou Mumbai, um jovem de aspecto macilento e olheiras profundas estará já a desenvolver um algoritmo que nos permitirá morrer ou ir de férias descansados, enquanto o algoritmo baseado na pegada digital de cada um, assegura a execução da nossa habitual actividade social de emissão de posts, comentários,  gostos e partilhas, exactamente como se fossemos nós próprios, ou até um pouco melhor se escolhermos a opção improve quality.

Chegados a este ponto o estimado leitor entrevindo um futuro de algoritmos zombies recriando uns com os outros, ad infinitum, as prosaicas interacções virtuais com que entretemos os nossos tempos livres, milhares ou milhões de anos depois de estarmos todos bem mortos, perguntará: Qual o interesse, a utilidade, o sentido de tão bizarra actividade?

E, digo eu, qual o interesse, a utilidade, o sentido dessa coisa não menos bizarra a que chamamos poeticamente vida? Pergunta que, para o seu caso pessoal, terá de ser obviamente o leitor, ou o seu algoritmo, a tentar encontrar a resposta.

Portanto se não quer ficar eternamente à margem deste maravilhoso mundo novo, comece já a preparar-se para um futuro ainda difícil de entrever, mas tão certo como os cortes do Gaspar.

Para preservar a sua pegada digital, entre na sua conta Google vá ao Gestor de Contas Inactivas  e está lá tudo explicado, inclusivé com o bom gosto de nunca se referirem explicitamente ao seu infausto passamento. Vá lá começar a planear o seu, espero que ainda distante, futuro e tenha uma Feliz Eternidade Virtual.

1 comentário:

  1. Desacreditada a alma de origem, arranja-se um substituto virtual.

    E essa alma digital vai ficar por aí a assombrar as gerações futuras?

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