Nado e criado em Sacavém, foi na Vila de então, Cidade
agora, que vivi com toda a intensidade a Revolução de 25 de Abril de 1974, o
seu desenvolvimento e retrocesso. Tenho viva a memória da imensa esperança, da
pujante vontade, de uma maioria de sacavenenses, pugnando por uma vida melhor
para todos e pelo progresso da sua terra.
E Abril, trouxe uma das mais sólidas e vibrantes
alterações no país. O poder local democrático, que viabilizou um vasto conjunto
de transformações de nível local, que se repercutiram muito positiva e
globalmente no país. Em Sacavém, também assim foi. As transformações ensejadas
e concretizadas no território, na vida colectiva e nas condições de vida dos
sacavenenses, abriram imensas expectativas e oportunidades.
Entretanto, muito se esboroou, muito se desperdiçou,
muito se abandonou, mercê das políticas governamentais e inécia autárquica.
Hoje, a minha Cidade, é uma terra deprimida, a passar por dificuldades
inimagináveis há 40 anos atrás e muito depois disso.
Os fugazes lampejos que subsistem aqui ou ali, de
pessoas e instituições, ora resistindo, ora contrariando, o actual caminho de
decadência, são forças sem recursos, impulso e ânimo para se conjugarem, agirem
conjuntamente e retomarem um rumo de regeneração, revivificação e redinamização
da Cidade.
É certo que os executivos municipais liderados por
Severiano Falcão, Demétrio Alves e Adão Barata procuraram, ao tempo, inverter o
curso dos acontecimentos, com o Plano de Salvaguarda de Sacavém, com o PROCOM,
com a resolução da chaga da Quinta do Mocho, com o Museu da Cerâmica e outras
acções qualificadoras, mas remaram sózinhos contra a maré de retrocesso.
Hoje o problema está maior, mais vasto, mais denso.
São precisas soluções audazes, inovadoras, determinadas e mobilizadoras.
Sacavém, bem merecia (e precisava) ter um espaço próprio no Loures em
Congresso, para que fosse discutida a Cidade e, sobretudo o seu futuro. Mas
ainda que não o seja nesta ocasião, é indispensável que o seja num futuro
próximo.
É isso mesmo que aqui proponho à actual Administração
Municipal, que está a chegar a meio do seu mandato e, que estando sujeita a
constrangimentos económico-financeiros muito substanciais que lhe permita uma
intervenção robusta no imediato, deve aproveitar – penso eu – para na segunda
metade do presente ciclo autárquico, lançar a reflexão e o estudo das
oportunidades para a Cidade, o que é preciso fazer e o que é possível começar a
fazer, designadamente, o rumo a seguir no próximo mandato. Sacavém não suporta
muito mais depois disso.
E aos sacavenenses,
caberá “dar alguma coisa para o peditório”. Desde logo, nas próximas eleições
legislativas, optarem entre mais austeridade e mais depressão ou ajudarem o
país e os governos a mudarem de registo. Depois, participando, dando opinião,
informando-se, debatendo. Que esperar se nós próprios nada quisermos fazer por
nós e pela nossa terra ?
publicado na edição 13, Maio de 2015, de Notícias de Loures
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