quinta-feira, 28 de maio de 2015

AS MINHAS DIFICULDADES COM OS HISTORIADORES DO PREC


Ao principio pensava que era só eu que tinha dificuldades com os historiadores (do reaccionário Rui Ramos à progressista Raquel Varela) que em Portugal fazem a história do que foi o 25 de Abril e o período revolucionário conhecido como PREC.

E o meu problema, que afinal é comum a outras pessoas, é que aquilo que os nossos historiadores profissionais nos contam sobre a Revolução dos Cravos em muitos casos não coincide, nem de perto nem de longe, com aquilo que foi a minha experiência directa e vivida desses saudosos mas não esquecidos tempos.

Hoje, 28/5, no Colóquio da SPA, mais uma vez constatei o fosso que por vezes separa o que dizem e escrevem os historiadores, certamente baseado nas fontes a que têm acesso, e o que se passou na realidade.

Dum lado Raquel Varela, baseada nas fontes escritas, nomeadamente em documentos diplomáticos dessa época já tornados públicos pelos USA, afirma que a super potência foi apanhada de surpresa pelos eventos do 25 de Abril.

Do outro lado Manuel Duran Clemente garante que a embaixada em Lisboa dos USA foi avisada com antecedência do 25 de Abril, por alguém que por naturais razões de discrição não referiu publicamente (mas que muitas das pessoas que viveram aqueles tempos não terão dificuldade em imaginar quem foi).

Sempre ouvi dizer que era preciso deixar passar algum tempo para se fazer a História do passado mais recente, ideia com que concordo inteiramente.

Será de facto mais avisado para os historiadores, antes de começarem a contar a sua versão do que se terá passado, baseada em fontes irrefutáveis, tratadas de forma rigorosa e cientifica, aguardarem prudentemente que os protagonistas dessa História estejam todos, conveniente e devidamente, mortos e enterrados.


Adenda
Publicado no Facebook onde se seguiu uma animada troca de comentários que vale a pena ver, AQUI.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

HO CHI MINH: COLONIALISMO E O PAPEL DOS PARTIDOS COMUNISTAS EUROPEUS


"Quanto aos partidos comunistas da Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e outros países (colonialistas) - o que fizeram para lidar com as invasões coloniais perpetrados pela burguesia dos seus países?

O que fizeram desde o dia em que aceitaram o programa político (do partido comunista) de Lenin para educar a classe trabalhadora de seus países no espírito do internacionalismo e em estreito contacto com as massas trabalhadoras nas colónias?

O que estes Partidos têm feito neste domínio é quase inútil. Quanto a mim, eu nasci numa colónia francesa, e sou um membro do Partido Comunista Francês, e estou muito triste de dizer que o nosso Partido Comunista tem feito quase nada para as colónias. "

Ho Chi Minh

Ao contrário de outros partidos comunistas das metrópoles coloniais, o Partido Comunista Português foi provavelmente o único que assumiu por inteiro os seus deveres internacionalistas, que se colocou ao lado dos povos que nas colónias lutavam contra o colonialismo português, e que contribuiu decisivamente com a sua luta para a independência da Guiné, Cabo Verde, Angola, São Tomé, Moçambique e Timor.

(Leio no Facebook que na RTP1 está a dar, 25/5, um programa com respeitados lutadores pela independência de ex-colónias portuguesas, sem um único representante do PCP)


segunda-feira, 11 de maio de 2015

NOS PAÇOS DO CONCELHO DE LOURES, FOI ASSIM



Esta é uma foto emblemática do 25 de Abril. Cena da sede da Pide que, no mês de Maio de 1974, se repetiu em milhares de edifícios públicos, limpando para sempre das paredes a escória fascista que as conspurcou por quase meio século. Nos Paços do Concelho de Loures as coisas passaram-se como vou contar.

Num fim de tarde de Maio de 1974, ao passar pela livraria do José Gouveia, em Moscavide, ele tinha novidades. Tinha nesse dia recebido do MFA um documento que o nomeava Presidente da Cãmara de Loures, juntamente com as chaves do edifício dos Paços do Concelho.

O José Gouveia tinha sido proposto e apoiado por aclamação para presidir à Câmara de Loures, num comício realizado na manhã do dia 1º de Maio de 1974 no campo do Desportivo dos Olivais e Moscavide, e posteriormente aprovado em reuniões de democratas de outras localidades do concelho. No mesmo comício eu tinha sido também indicado para integrar a vereação mas (Deus seja louvado) a minha carreira de autarca terminou antes de começar.

De maneira que, e voltando àquela tarde de meados de Maio de 1974, fechada a livraria às 19h, decidimos ir os dois a Loures ver se a chave servia na porta. O edifício dos Paços do Concelho estava fechado e deserto, nesses tempos nem sequer segurança havia, por ali andámos a dar uma olhada àquele ex antro do fascismo e, inevitavelmente, ao passarmos pelo gabinete do presidente, imitando o soldado da foto, subi para uma cadeira e apeei da parede o retrato do Tomaz.

Quando no dia seguinte à noite encontro o José Gouveia e lhe pergunto como iam as coisas na Câmara, ele dá uma gargalhada e responde: Sabes lá, hoje de manhã voltei à Câmara e depois de me apresentar aos funcionários, entro no gabinete do presidente, e não é que lá estava de novo, pendurado na parede, de frente a olhar para mim, o Cabeça de Vaca.

FB 11/5

HOJE SOU SYRIZA


Nas grande movimentações populares, como foi a caso das ultimas eleições gregas, as minhas simpatias sempre estiveram, sempre estão, do lado dos sonhos e aspirações dos trabalhadores e do Povo.

Mesmo sendo por demais evidentes as limitações do Programa do Syriza que, como a vida está a demonstrar, resultam duma análise errada da natureza da UE e do Euro, alegrei-me com a sua vitória, e tenho sofrido com os seus desaires.

Provavelmente esta semana vai ser uma semana decisiva para os Gregos, mas independentemente do que se passou até agora, e do que venha a acontecer, hoje (11/5), com a readmissão pelo governo grego das 595 empregadas de limpeza que durante 20 meses lutaram à porta do seu ministério contra mais um desumano despedimento, hoje sou inequivocamente Syriza.
http://bit.ly/1PeX7Y8

No FB em 11/5/2015

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sacavém, Cidade a sério ?!...



Nado e criado em Sacavém, foi na Vila de então, Cidade agora, que vivi com toda a intensidade a Revolução de 25 de Abril de 1974, o seu desenvolvimento e retrocesso. Tenho viva a memória da imensa esperança, da pujante vontade, de uma maioria de sacavenenses, pugnando por uma vida melhor para todos e pelo progresso da sua terra.
E Abril, trouxe uma das mais sólidas e vibrantes alterações no país. O poder local democrático, que viabilizou um vasto conjunto de transformações de nível local, que se repercutiram muito positiva e globalmente no país. Em Sacavém, também assim foi. As transformações ensejadas e concretizadas no território, na vida colectiva e nas condições de vida dos sacavenenses, abriram imensas expectativas e oportunidades.
 
Entretanto, muito se esboroou, muito se desperdiçou, muito se abandonou, mercê das políticas governamentais e inécia autárquica. Hoje, a minha Cidade, é uma terra deprimida, a passar por dificuldades inimagináveis há 40 anos atrás e muito depois disso.
 
Os fugazes lampejos que subsistem aqui ou ali, de pessoas e instituições, ora resistindo, ora contrariando, o actual caminho de decadência, são forças sem recursos, impulso e ânimo para se conjugarem, agirem conjuntamente e retomarem um rumo de regeneração, revivificação e redinamização da Cidade.
 
É certo que os executivos municipais liderados por Severiano Falcão, Demétrio Alves e Adão Barata procuraram, ao tempo, inverter o curso dos acontecimentos, com o Plano de Salvaguarda de Sacavém, com o PROCOM, com a resolução da chaga da Quinta do Mocho, com o Museu da Cerâmica e outras acções qualificadoras, mas remaram sózinhos contra a maré de retrocesso.
 
Hoje o problema está maior, mais vasto, mais denso. São precisas soluções audazes, inovadoras, determinadas e mobilizadoras. Sacavém, bem merecia (e precisava) ter um espaço próprio no Loures em Congresso, para que fosse discutida a Cidade e, sobretudo o seu futuro. Mas ainda que não o seja nesta ocasião, é indispensável que o seja num futuro próximo.
 
É isso mesmo que aqui proponho à actual Administração Municipal, que está a chegar a meio do seu mandato e, que estando sujeita a constrangimentos económico-financeiros muito substanciais que lhe permita uma intervenção robusta no imediato, deve aproveitar – penso eu – para na segunda metade do presente ciclo autárquico, lançar a reflexão e o estudo das oportunidades para a Cidade, o que é preciso fazer e o que é possível começar a fazer, designadamente, o rumo a seguir no próximo mandato. Sacavém não suporta muito mais depois disso.
 
E aos sacavenenses, caberá “dar alguma coisa para o peditório”. Desde logo, nas próximas eleições legislativas, optarem entre mais austeridade e mais depressão ou ajudarem o país e os governos a mudarem de registo. Depois, participando, dando opinião, informando-se, debatendo. Que esperar se nós próprios nada quisermos fazer por nós e pela nossa terra ?


publicado na edição 13, Maio de 2015, de Notícias de Loures

sexta-feira, 1 de maio de 2015

1º DE MAIO DE 1966, NO ROSSIO


Era domingo, estava um grupo de amigos no café, em Moscavide, a beber a bica depois do almoço, quando alguém se lembrou, porque é que não vamos ao Rossio? Ao Rossio, claro, onde noutro 1º de Maio, quatro anos antes, em 1962, tinha tido lugar uma grande manifestação anti fascista com centenas de presos, feridos, e um morto. Ver aqui (evocação do Avante em 2012) e aqui (extractos da noticia do Diário de Noticias de 3 de Maio de 1962).

Para o 1º de Maio de 1966 não tinha sido convocada nenhuma manif, mas porque não ir até lá? Talvez outros tivessem a mesma ideia, e mesmo que mais ninguém fosse, caraças, íamos nós. E fomos todos, encontrámos o João Vital, de Oeiras, que já por lá andava, e o José Fonseca fotógrafo à la minuta, amigo do Custódio, que no intervalo da sua actividade profissional de tirar o retrato a putos a dar milho aos pombos, e ao saber ao que íamos, fez questão de tirar esta foto para a posteridade.

Daquele pequeno grupo (quatro operários, dois empregados e dois estudantes) já o Alexandre e a Zé tinham sido expulsos da universidade na sequência das lutas estudantis de 1964, e o Custódio tinha passado meia dúzia de meses em Caxias. Dois anos depois o Madeira, para evitar a prisão iminente, fugia para França. Em 1969, foi a vez do Alexandre e da Zé darem o salto, depois de terem escapado por um triz à pide que foi a casa tentar prendê-los. Outros tiveram pior sorte, até ao 25 de Abril ainda iriam passar por Caxias o Ramiro e eu.

Fui à procura da foto depois de um dia destes numa manif, em conversa com uns amigos sobre a unidade de esquerda, o Ramiro recordar a fuga do Alexandre e da Zé, militantes do MRPP (na altura dum comité ML que esteve na origem do MRPP), que até conseguirem sair do país passaram uns meses escondidos em casas de amigos militantes do PCP e da ARA, rumando depois para Paris onde são recebidos por outro militante do PCP, tudo passado com pessoal que está nesta foto. Depois vão viver para Bruxelas onde mais tarde acolhem outro refugiado politico de Moscavide e militante do PCP.


Na foto, de pé Ramiro Morgado, Maria Emília Morgado, Armando Madeira, Alexandre Gaspar, Maria José Belmute, e João Vital. Sentados: António Manuel Bessa, J Eduardo Brissos, Custódio Santos, e Luísa Ferreira (mais tarde Brissos).